26/11/2018

Patria Mater e a Escola

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            O nosso novo governo escolheu o seu Ministro de Educação e talvez, esta secretaria seja a que dê menos resultado de imediato, isso porque na educação o resultado sempre é a longo prazo, por isso é que é difícil vermos algo ir para frente, pois governos entram e saem e estão sempre mudando algo relacionado a educação.

            Mediante tantas mudanças, o novo Ministro é enfático em atribuir o verdadeiro valor a família, coisa que devia ter sido feito a muito tempo por outros governos, porém, a escola foi obrigada a abraçar a função que hoje esta família omissa deixou de lado que é a educação primária de seu filho.

            Como visto em meu livro Escola não é Depósito de Crianças, publicado pela WAK em 2012 e ministrado em minhas palestras sobre Escola e Família, um elo para educação de qualidade, a família é a base do caráter de uma criança. Escola não trabalha caráter. Isso vem do berço, assim como a educação.

            A escola deve ensinar, e a família educar, entretanto, as escolas com uma pedagogia permissiva, tem tentando ocupar o lugar desta família negligente, que deixa seus filhos jogados nas escolas públicas, para que as mesmas sejam a única responsável pela formação integral de seus filhos.

            Hoje as escolas públicas encontram-se totalmente desamparadas por regulamentos internos e/ou externos que aniquilam qualquer autoridade de um professor em sala de aula.

            Este professor visto como "educador" na verdade não pode educar, pois caso ele faça qualquer coisa que deixe o aluno "constrangido", este poderá ser punido pela secretaria municipal de educação ou pior ainda, uma mãe leviana se achará no direito de cobrar do professor algo que ela mesma deveria fazer como autoridade máxima em seu lar.

            O texto acima converge com as falas da palestra citada acima, quando ressalto que é no leito familiar que acontece o primeiro processo de socialização, construção do caráter e da educação não formal, o que é reforçado por Delors em seu livro Educação: um tesouro a descobrir, publicado pela Cortez em 2001 quando é aduzido pelo autor que A família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer educação, e nela cabe a transmissão de valores.

            Muitos alunos têm famílias formadas por pais desestruturados emocionalmente e que desconhecem o próprio filho que, aliás, sequer se preocupam em passar um tempo com ele, reclamando quando ocorre um feriado prolongado ou quando chegam as férias, ficam ensandecidos por terem seus filhos em tempo integral em casa. Como educar os filhos se os pais são verdadeiros contraexemplos?

            O primeiro desafio deste novo Ministro está em justamente encontrar uma forma de envolver a família, principalmente das escolas públicas a ser mais participativa na escola e acompanhar o processo de ensino/aprendizagem de seu filho.

            A escola assumiu uma tarefa que não a compete o que fez com que a família assumisse um papel mais passivo diante a educação não formal de seu filho e a sua formação de valores.

            Muitos pais passam seus maus exemplos a serem seguidos por seus filhos, pois é sabido que muitas vezes, o comportamento de uma criança é o reflexo de sua educação no lar, mas cabe aqui conceituar o que é lar.

            Alguns dicionários definem esta palavra como local onde há harmonia, onde as pessoas vivem e se sentem bem, entretanto, muitas crianças não se sentem bem na própria casa e vêem a escola como o seu único e verdadeiro lar.

            Muitos professores e gestores afirmam que a escola é uma extensão da casa, todavia, estes alunos sequer tem o respeito e o zelo por sua casa, e na escola se sentem no direito de depredar a instituição, e pior ainda, sem receber sequer uma ação punitiva ou reparadora, já que o aluno se encontra salvaguardado de toda sua ação indisciplinada, ou seja, é proibido deixar o aluno constrangido.

            A casa do educando é um lugar de desrespeito, descaso, humilhação, agressões, difamação, ociosidade e qualquer outra coisa que desestrutura por completo uma família e estes alunos estendem os mesmos comportamentos na escola e o professor passa a ser a vítima de toda esta conjuntura.

            Nós professores sabemos que o apoio da família é de suma importância para o sucesso do aluno quanto ao seu desempeno escolar, o que é ressaltado pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) desde 1999, que esclarece que escolas que contam com o apoio dos pais, e há troca de informações entre gestor e professores, os alunos aprendem melhor.

            Para equacionarmos uma educação de qualidade, é imprescindível o comprometimento dos pais, e diante disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu Art. 4º deixa claro que a responsabilidade em cuidar e educar os filhos é da família, e deflui do artigo 129, inciso V que "os pais, além da matrícula, têm o dever de acompanhar a frequência e o aproveitamento escolar do filho [...] garantir a permanência, bem como no de observar e participar da evolução escolar da criança ou adolescente, avaliando seus progressos individuais e estimulando-os para que o estudo seja-lhes rendoso".

            Assim sendo e reforçando as falas do futuro Ministro de Educação, não existe uma escola estruturada o suficiente e com professores preparados que suprirá a carência deixada por uma família ausente, dito isso, realmente a família é a Patria Mater, e isso não é uma "ilusão atrevida", é apenas uma realidade, embora hoje se encontra distorcida.

 

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