20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra!
A necessidade que determinou a criação do Dia Nacional da Consciência Negra flagra também a fragilidade de nossa democracia no que diz respeito à garantia de que todos somos iguais perante a lei. Se assim o fosse, a cor da pele não seria determinante para que pessoas pudesse e outras não. Se ainda é necessário lembrar que negros e brancos merecem o mesmo respeito e a mesma atenção por parte do Estado e que devem respeitar-se mutuamente, nossa democracia ainda é um projeto.
Enquanto o caminho das cotas for o mais viável para o negro alcançar a universidade poucos se preocuparão com a necessidade de oferecer às classes pobres (onde estão negros e brancos) uma educação básica de qualidade. Enquanto ação afirmativa, a política de cotas, merece todo o louvor, mas enquanto política pública de inserção do negro no universo acadêmico, é digna de preocupação. Aqui também é importante afirmar que é totalmente refutável, o argumento que afirma que a política de cotas reforça a prática do preconceito racial. Se chegamos a esta situação, é por que a escola pública, onde estão a maioria dos alunos negros, não oferece condições para que estes possam chegar a universidade, ou ainda, por que uma grande maioria das criança negras sequer pôde frequentar a escola.
Da mesma forma, cabe uma reflexão consistente sobre como os não-negros tratam aqueles que foram arrastados ao nosso território como animais. Sim, por que o negro não colonizou o continente americano, foi seqüestrado e animalizado em nosso continente. Se foi preciso estabelecer o chamado Estatuto da Igualdade Racial, é por que a formação ética do povo brasileiro não foi eficiente para se compreende-se a grande tragédia afro-americana. Enquanto, para alguns, agredir alguém pela cor de sua pele, for apenas um crime, e não um atentado a ética e a dignidade humana, ainda não somos uma nação livre. O Estatuto foi e é extremamente louvável, porém denota o quanto ainda precisamos amadurecer e o quanto a animalização do negro foi e é cruel!
Tomar consciência de que somos diferentes e que esta diferença não faz ninguém melhor ou pior é um exercício que a lei ou políticas afirmativas não poderão resolver por si só. O máximo que farão é amenizar ou mascarar uma realidade cruel onde a cor da pele distingue não apenas “raças”, mas camadas sociais. Numa nação verdadeiramente democrática as únicas diferenças que devem existir são as ideológicas. Neste sentido os diferentes devem ser respeitados e vistos de forma diferenciada por serem desiguais. O direito de ser diferente deve estar implícito nos chamados direitos individuais, assim como o dever de respeitar a diversidade dos outros.
O mosaico de rostos, culturas, tradições e costumes faz da nação brasileira, um espetáculo único. Um espetáculo tão belo que um dia permitirá acabar com o Dia da Consciência Negra e celebrarmos o “Dia da Diversidade Humana”. Um dia para festejar a diferença e a beleza que isto representa numa nação. Mas enquanto isso não acontece, e para que isso venha a acontecer, faz-se necessário discutir a condição do negro, do índio e de outras “minorias”. Certamente o primeiro passo é fazê-las perceber que não são minorias.
Celebrar o 20 de novembro é reconhecer a necessidade de nos enxergarmos melhor, sermos mais sensíveis e mais solidários. É perceber que a negritude de nossos rostos ainda tende a ser embranquecida. É perceber que nossa democracia ainda é imoral e demagoga, pois estabelece legalmente que todos somos iguais independente de nossa origem, mas não garante a todos as mesmas oportunidades.