07/07/2015

A EMERGENTE MODERNIDADE E AS NOVAS IDEIAS EDUCACIONAIS DE ROUSSEAU: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

A EMERGENTE MODERNIDADE E AS NOVAS IDEIAS EDUCACIONAIS DE ROUSSEAU: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

 

Leiliana Rebouças Freire[1]

Maria Edleuza Maia[2]

Paulo Martins Pio[3]

Maria das Dores Mendes Segundo[4]

José Deribaldo Gomes dos Santos[5]

RESUMO

O presente artigo é o resultado de discussões iniciais, desenvolvidas na disciplina teorias da educação, do curso de mestrado acadêmico-MAIE. Apresenta como objetivo de investigação a análise das novas relações da pedagogia no reordenamento e norteamento da educação, no âmbito das modificações ocorridas na modernidade, sobretudo, nos países considerados berço da cultura ocidental. Elegemos a pedagogia Roussourina como base teórica a ser analisada, uma vez que sua obra se configura num tratado inédito sobre educação, observando sua importância atual, pois é um importante teórico que contribuiu para o acúmulo do conhecimento humano. O dialogo para o entendimento dessas questões será estabelecidos com a obra principal do autor, Emilio ou da educação (1995) demais obras do autor, Brandao (2007), Ponce (2001), Chaves (2007), Suchodholsky (1984), Manacorda (2007), Vainfas, (2010), bem como outros autores que esclareçam os nexos entre as transformações engendradas na modernidade e a educação. A pesquisa será pautada em uma perspectiva crítica, de natureza bibliográfica, procedimentos necessários, uma vez que as discussões em torno desse objeto são indispensáveis na compreensão das proposições que configuram a educação atual.

PALAVRAS CHAVES: Educação, pedagogia, Rousseau.

  • INTRODUÇÃO

        O século XVIII destacou-se historicamente como o século das revoluções. É nesse período que se expandem e se consolidam ideias que passaram a orientar a vida em sociedade, incluindo os aspectos econômicos (liberalismo), políticos (democracia) e intelectuais (racionalismo). Daí também ser esse momento histórico denominado de século das Luzes.

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, transformou radicalmente a forma de produção da existência, modificando as relações Homem-Natureza, Homem-Tempo, Homem-Espaço, Homem-Homem. Na França, ganhou força e repercussão mundial às revoltas sociais, sob o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que derrubam a monarquia e colocam em xeque as desigualdades sociais e políticas institucionalizadas na estruturação dos três Estados.

Essas revoluções (Industrial e Francesa) foram à expressão maior das mudanças que já vinha ocorrendo na Europa, desde o processo de transição do sistema feudal para o capitalismo comercial, protagonizado pelas grandes navegações que marcaram o final do século XV e o início do século XVI. Essa transição, da Idade média para a Moderna, foi desenhada por reformas políticas (Estados Nacionais) e religiosas (Reformas Protestante e Católica), movimentos intelectuais (Renascimento Cultural e Científico) que questionaram o Teocentrismo e a afirmaram o Racionalismo e o Antropocentrismo, resgatando aspectos da cultura greco-romana.

O aprofundamento desses questionamentos promoveu uma Revolução Científica no século XVII, potencializada pelo pensamento de filósofos como Isaac Newton e René Descartes, que adotaram a natureza como o objeto de estudo da ciência, e estruturou o Iluminismo - Movimento Intelectual e Filosófico surgido na Europa, no final do século XVII, com maior expressão na França, no século XVIII, defendendo a RAZÃO como o elemento central de explicação do mundo.  Os Princípios Básicos desse movimento eram: Universalidade, Individualidade e Autonomia.

Mesmo antes de ganhar força na França do século XVIII, as ideias iluministas já provocavam mudanças como a Revolução Gloriosa na Inglaterra, que instituiu a Monarquia Parlamentar consolidando a burguesia no poder, o que promoveu a Revolução Industrial.  Na América, ocorreu o primeiro movimento de Independência Colonial. As Treze Colônias Americanas se unem e conseguem se libertar da metrópole inglesa, formando os Estados Unidos da América.

  • EMERGE NOVAS IDEIAS NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇOES MODERNAS.

        Rousseau (1712-1778) nasceu e viveu em meio a essa ebulição de todas as dimensões da vida em sociedade, portanto a sua formação foi forjada pelos ideais iluministas, Rousseau (1995). Estes questionavam o Antigo Regime que se caracterizava pelo controle do Estado sobre as atividades econômicas, a tirania dos reis e as profundas desigualdades sociais. Defendia o governo com poderes limitados e autônomos entre si, e a serviço do povo (Montesquieu), o livre mercado (Smith), as liberdades individuais e de propriedade (Locke), a propagação do conhecimento (Diderot), separação entre o Estado e Igreja (Voltaire), etc.

Mesmo convivendo e até trabalhando com alguns desses filósofos, Rousseau se tornou o mais radical dentre os pensadores iluministas, chegando a romper com eles. Pois via na propriedade privada a raiz das desigualdades sociais, Rousseau (contrato social) defendia a supremacia do coletivo sobre o individual, recuperando o aspecto da sensibilidade na relação homem/natureza, que aos poucos se perdia com o exacerbamento da racionalidade, era adepto da instauração de uma República Democrática, controlada pelo poder popular, propunha um modelo de educação que elevasse o indivíduo natural ao novo estágio sem romper com a natureza.

       Para Rousseau (1995) o homem nasce puro e é corrompido pela sociedade. É com base nesses pressupostos que Rousseau escreve seus tratados político (Do Contrato Social) e Pedagógico (Emilio, ou da educação).

  • ROUSSEAU E SUAS IDEIAS SOBRE EDUCACÃO

           Suchodolsky (1984) discorrendo sobre as grandes correntes filosóficas da pedagogia da essência e da existência no decorrer da história humana, atribui à educação em relação a primeira a função de realizar o que o homem deve ser: a sua “essência verdadeira” que o determina, pra o mesmo essa é a  grande herança do idealismo antigo e cristão que constitui a base destas concepções na  Idade Antiga - Pedagogia de Platão, na Idade Média - Pedagogia Cristã - Santo Agostinho, Platão, São Tomás de Aquino  e no Renascimento - Erasmo de Rotterdam, Jesuítas, Comenius, dentre outros.

      Esclarece ainda Suchodolsky, que a pedagogia da existência concebe a existência do homem [o eu empírico] como o fulcro da sua educação (p. 40), dessa forma, colhem os princípios da educação na realidade concreta existente (p. 76). Século XVII – Hobbes, Leibniz, dentre outros. Século XVIII – Rousseau, Pestalozzi, Froebel, dentre outros. O renascimento cultural, a revolução cientifica e o iluminismo e demais movimentos que ocorreram na Europa foram momentos importantes nos quais surgem novos paradigmas, contudo a dicotomia entre essas correntes teóricas divergem em todo o percurso histórico, no que se refere a concepção de homem, mas podemos entender que o autor situa Rousseau na corrente filosófica da existência, emerge assim, como o precursor sobre educação.

          Nesse sentido, entendemos que as novas ideias do século XVIII nas diversas áreas do conhecimento outrora citadas, são o resultado da ascensão econômica burguesa, da evolução Científica e da crise do antigo regime de produção da existência humana. Rousseau nesse contexto é um ideólogo da existência humana, defendendo dessa forma que o homem é responsável pela construção da sua existência.

        Para Rousseau a essência humana tem distintas naturezas, uma individual e uma natural, a primeira ele denomina de inteiro absoluto e a segunda-coletiva, (unidade fracionária), (Emílio, pág. 11). Destaca o teórico, que, o estado primitivo, originário da humanidade, surge espontaneamente, (Emilio, pág. 6), nesse sentido entende que existe uma essência boa, mas a sociedade degenera, natureza é assim, uma ordem necessária na qual não impera a vontade ou os caprichos humanos: a natureza é boa porque existe.         Contudo as leis da razão humana poderão submeter às leis da natureza, pois a legislação racional volta-se exclusivamente à utilidade e a conservação dos homens; (Rousseau, pág. 14).

     Defende Rousseau que as leis eternas da natureza e da ordem existem... Elas estão escritas no fundo de seu coração pela consciência e pela razão, dessa forma é a estas que ele deve se sujeitar-se para ser livre, defende assim a educação como precursora para a efetivação dessa humanização que outrora fora corrompida pela sociedade nefasta.

  • EDUCAÇÃO EM ROUSSEAU: PRESSUPOSTOS INICIAIS

     Para situar o leitor nessa empreitada mostraremos a organização da sua principal obra sobre educação, a saber: Emilio ou da educação. O autor divide-a em cinco livros, cada um deles contempla períodos do desenvolvimento físico e mental de um ser humano imaginário, chamado Emílio. No 1º livro trata da educação desde o nascimento até 2 anos e denomina esse período de lactância. Rousseau argumenta que a educação é uma atividade complementar e simultânea em relação à atividade da natureza.

        Ao discorrer acerca da educação, compreende-a como uma atividade que contempla algumas dimensões, dentre elas: a dimensão da natureza, a dimensão dos homens e a dimensão das coisas.

       No 2º livro abrange o período de vida que vai dos 2 aos 12 anos (Infância). Entende “assim, que, a natureza humana é boa, por isso a primeira educação deve ser negativa.” Ou seja, que os instintos e os interesses naturais deveriam direcionar a educação, tornando-a racionalista e negativa, ou seja, de restrição de experiência, nesse sentido entende o filósofo que a educação negativa consiste, não em ensinar a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vicio e o espírito do erro.

       No 3º livro abrange o período dos 12 aos 15 anos (Adolescência). Rousseau apresentará Emílio como um indivíduo que já atingiu a idade da razão.

       No 4º livro cobre o período de 15 a 20 anos (Mocidade). “Emílio tornar-se-á um ser amoroso e sensível”, assim o primeiro sentimento do homem educado é a amizade.”

       O 5º livro é consagrado à educação de uma mulher, Sofia, esta destinada a ser esposa de Emílio (Inicio da idade adulta). Rousseau apresentará a idade da sabedoria e do casamento proposta para o seu educando, (Emilio, livro v).

        Faz menção ao contrato social uma celebre obra do filosofo, conduz seu raciocínio para explicar a necessidade e o porquê de o homem nascer livre, mas revogar essa condição, uma vez que a liberdade é o maior bem que se pode ter e sua perda significa a renúncia à qualidade de homem e aos direitos do mesmo.

      Nesse sentido, diz que a vontade de todos é a soma das vontades particulares, e essa deve ser a governante. Caso haja associações entre os cidadãos que pretendem sobrepujar a vontade destes sobre a dos demais, esta deve ser eliminada, pois ataca ao princípio de igualdade que deve reger o Estado.

      O estado civil, diferente do estado natural, faz com que os homens antes de consultar seus desejos consultem sua razão, o objetivo final sempre é a justiça que torne os homens iguais e dê de retorno a eles suas liberdades cedidas. Discursa sobre as ciências e as artes, afirma que a corrupção do homem natural ocorre por causa do surgimento das ciências e das artes (primárias), geradoras do progresso.

        Num dos livros discorre sobre uma personalidade chamada Vigário Saboiano, tecendo considerações sobre sua profissão de fé, o mesmo suscitou as iras dos poderes públicos e das igrejas constituídas. A obra será solenemente queimada, um mês apenas após sua publicação, em Paris e em Genebra.

       O arcebispo de Paris condená-lo-á em célebre ordenação (perseguido por toda parte, Rousseau só encontra refúgio na Inglaterra, junto a Hume, com quem, aliás, se desentenderá pouco depois). É censurado por escolher a religião natural (aquela que o homem encontra no próprio coração) e rejeitar a religião revelada.

        O objetivo da Profissão de fé é mostrar, por meio da ideia de religião natural, as condições de tolerância entre os homens, tendo-se em vista que as religiões históricas (cristianismo, judaísmo, islamismo) são intolerantes por princípio, promovendo apenas violência e ódio.

       Para Rousseau, o problema das revelações é a falta de universalidade na comunicação entre o céu e a terra: pelo fato de Deus dar a poucos homens o privilégio de conhecerem sua vontade diretamente de sua boca, todos os demais ficam na dependência desses porta- vozes da divindade para se poderem conduzir de acordo com os preceitos do Ser supremo. Entende que existem diversas religiões no mundo, cada uma delas com doutrinas próprias estabelecidas sob a alegação de expressarem a verdade revelada por Deus. E o detalhe é que essas doutrinas não apenas apresentam diferenças de uma religião para outra, como também quase sempre se contradizem mutuamente.

    Seus pressupostos principais são os anteriormente citados, em consonância com essas ideias entende que a preparação da criança para a vida futura (estudo das coisas atuais). Os professores, a natureza, a experiência, o sentimento, ou seja, o contato da criança com o mundo determinam a organização do estudo e seu desenvolvimento, educação entendida dessa forma é um processo natural, onde o desenvolvimento interno do aluno segue o curso da natureza, dessa religião natural, (grifo nosso).

          Essa relação-indivíduo sociedade é o princípio fundamental que rege sua obra, ou seu entendimento, o homem natural é bom, mas está submetida à influência corruptora da sociedade, nesse sentido as desigualdades são resultado das características individuais e circunstanciais da sociedade.

      Os sistemas políticos e morais para Rousseau estavam fundamentados na irracionalidade preconizada, sobretudo pelas ideais religiosas e que deveriam ser substituídos por uma ordem racional, existe nesse sentido um direito da maioria, assim, o bem individual é, e deve ser reprimido pelo bem geral. Apenas um indivíduo sozinho não pode definir ou mesmo transformar nada da sua realidade dialeticamente, pois está submetido desde seu nascimento às normas da sociedade.

       A degeneração da sociedade é provocada pelo distanciamento que o homem social está do homem natural. Umas dicotomias entre homem natural e homem social sendo assim a civilização e a sociedade corrompem o homem, é necessário assim recorrer ao sentimento, voltar à natureza que é boa. (Profissão de fé do vigário Saboiano, pág. 355).

  • FINALIDADE SOCIAL DA EDUCAÇÃO EM ROUSSEAU

        Brandao (2007) e Ponce (2001), bem como outros autores concordam que a educação não vem de fora, é a expressão livre do ser humano no seu contato com a natureza, com o meio no qual esta inserido. Crítico da escola de seu tempo, da rigidez da instrução e do uso em excesso da memória; Rousseau já entendia a educação no sentido que influenciara toda a educação séculos anteriores, propôs a criança, primeiro, o brinquedo e os esportes como iniciação, percebeu na agricultura o primeiro e mais útil emprego do homem. A criança aprende a usar a pá e os instrumentos de outros ofícios, assim, a educação da época não deveria apenas instruir, mas também permitir que a natureza desabrochasse na criança de forma livre, sem repressões, restringindo e modelos outros.

       O Professor deveria mediar às situações de aprendizagem, baseados no desenvolvimento natural, não deveria apenas instruir, mas também permitir que a natureza desabrochasse na criança de forma livre, Rousseau condenava os métodos de ensino que visava a repetição e memorização de conteúdos e pregava sua substituição pela experiência direta por parte dos alunos.

        É interessante entender, que o projeto educativo proposto por Rousseau exige a instauração de uma nova ordem social radicalmente nova, nesse sentido:

    “A educação é apresentada como a responsável de operar uma ‘naturalização’ do homem, capaz de renovar a sociedade europeia moderna, que chegou a um estado de evolução (e de corrupção) que torna impossível a sua reforma política...” (CAMBI, 1999, p.346).

       Entendemos assim baseados em Chaves (2007), que nessa perspectiva o cidadão é designado pelo seu status de pertencimento a sociedade como indivíduo portador de direitos, anteriores à esfera política. A organização de uma posterior forma de sociedade é um meio pelo qual o indivíduo faz valer sua condição titular desses direitos, dessa forma o indivíduo passa a usufruir direitos na sua condição de homem, o qual tem a proteção dos direitos naturais ou morais.

       Para Gadotti, (2005) Rousseau apresenta um pensamento pedagógico que não se separa de sua concepção política, pois:

            “Rousseau resgata primordialmente a relação entre a educação e a política” (GADOTTI, 2005, p. 87).

      Em virtude deste ultimo argumento, a educação tem a missão de formar o cidadão para que ele ajude a forjar uma nova sociedade fundada na família, no povo, no soberano, na pátria e no estado, para Rousseau:

            “Moldam-se as plantas pela cultura, e os homens pela educação” (Emílio, 1995, p.8).

             A educação assim pensada, deve ocorrer de modo “natural”, longe das influências corruptoras do ambiente social e sob a direção de um pedagogo que oriente o processo formativo do menino para finalidades que reflitam as exigências da própria natureza, a citação seguinte mostra que é essa educação para a vida humana que o filósofo preconiza.

            “... a natureza o chama para a vida humana. Viver é o ofício que quero ensina-lhe”. (ROUSSEAU, 1995, p.14). “À educação começa junto com a vida, ao nascer a criança já é discípula(...) da natureza”. (Idem: 43-44).

          A “educação natural” consiste na recusa ao ensino formalizado e livresco que gera somente intelectualismo, este último dissociado da vida prática do Emilio. Nessa forma de ensino a supremacia do mestre é o principal motor da educação, subjugando os interesses do aluno aos interesses desses preceptores, declara Rousseau a esse respeito que um dos grandes inconvenientes dessa primeira educação (educação tradicional) é o fato dos preceptores pensarem mais em seus interesses do que no dos alunos. Não se importa com a utilidade do que se ensina. Amontoam-se, sem escolha, sem distinção, cem coisas na memória dos alunos. (ROUSSEAU, 1995).

     Defende a educação indireta, pois teoriza a não intervenção por parte do educador, que deve apenas acompanhar o crescimento do menino, mantê-lo isolado e ao abrigo das influências da sociedade corrupta e, eventualmente, corrigi-lo, mas através do exemplo ou da intervenção, entende assim que toda aprendizagem, seja intelectual ou ética, deve ocorrer em contato com as “coisas”, deve ser “indireta”.

       Para Manacorda, (2006), Rousseau é um grande filósofo, que trouxe ideias de uma Pedagogia diferenciada, portanto centrada na criança, para Manacorda Rousseau trabalha privilegiando a abordagem “antropológica”, focalizando dessa forma o sujeito, a criança (peuricentrismo) e dar um golpe feroz na abordagem “epistemológica”, centrada na reclassificação do saber e na sua transmissão à criança como um todo já pronto, para o autor o filósofo deixa isso claro, quando diz:

“A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens”. (ROUSSEAU, 1995, p.86).

      A Valorização da aprendizagem em detrimento do ensino marca profundamente a obra aqui destacada, o mestre não deve agir impondo paradigmas, mas sobretudo construir posturas convenientes com uma relação harmoniosa ante a natureza.

      Manacorda (2006) destaca alguns aspectos positivos do pensamento pedagógico de Rousseau, dentre eles merecem ser mencionados a redescoberta dos sentidos, a valorização do jogo, do trabalho manual, do exercício físico e da higiene, a sugestão de usar não a memória, mas a experiência direta das coisas, e de não utilizar subsídios didáticos já prontos, mas construí-los pessoalmente, e, sobretudo, o plano progressivo da passagem da educação dos sentidos (2-12 anos) à educação da inteligência (até aos 15 anos) e da consciência (até aos 25 anos).

           Destaca ainda Manacorda, que, estas e outras observações críticas e construtivas se configuram num conjunto importante, mas, não isento de incongruências e contradições, mas, sobretudo delineia um plano inovador de uma pedagogia de caráter libertador. Deixando claro que as transformações correntes na modernidade acaba por engendrar o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento humano, possibilidade dada pelo já crescente desenvolvimento das forças produtivas, mesmo que mediada por limites estruturais da forma de organização da vida material.

 

  • CONSIDERAÇOES FINAIS

          O Projeto pedagógico proposto por Rousseau, grande contribuinte na elaboração da doutrina liberal, não se separa de sua concepção política. Aliás, como diz Gadotti (2005), resgata primordialmente a relação entre a educação e a política.

             A missão da educação para este filósofo é formar o cidadão para que ele ajude a forjar uma nova sociedade fundada na família, no povo, no soberano, na pátria e no Estado. Forjar uma sociedade que se organize segundo a ideia do “O Contrato Social”: igualitária, comunitária, animada por uma única e coletiva vontade geral, que está na base do governo e das leis. Uma sociedade que reativa a possibilidade de construir um homem novo, natural, equilibrado, do qual Emílio é o modelo.

            Das grandes discussões encontradas na obra analisada estão as severas críticas à educação tradicional, que era uma educação racionalista, técnica e impositiva. Rousseau é o primeiro pensador da educação a valorizar a experiência, a educação ativa voltada para a ação cujo principal motor é a curiosidade. É o primeiro teórico a realmente levar a sério a criança, a reconhecer a importância desse estágio como uma referência para o desenvolvimento, ao contrário da pedagogia tradicional que via na criança uma potência, como uma folha em branco que era preciso trazer tudo e colocar ali e geralmente trazendo aqueles valores, aquelas referencias já da pessoa adulta. Justifica-se assim o título de pai da educação moderna.

            Temos agora uma pedagogia centrada na criança, que reconhece não mais ser necessário pegar o modelo do adulto, para implementação pela criança, mas buscar a própria pulsação da criança que é feliz, que nasce livre, nasce em harmonia com a natureza.

            A grande meta da educação proposta por Rousseau é a constituição de sujeitos autônomos, seja a frente de nossos determinismos naturais, seja em relação aos determinismos da sociedade. O rico e fecundo da contribuição deste filósofo está no elogio que ele faz a autonomia.

            Hoje, os grilhões que Rousseau fala estão em outros formatos, são de outra natureza, estão vindo da própria tecnologia, da própria ciência, do modo de organização societal, do condicionamento pelos meios de comunicação social, das políticas públicas educacionais voltadas a atender os interesses do mercado, etc.

Portanto, muitos são os grilhões e consequentemente, o aprendizado para uma vivência democrática continua. A dimensão de respeito pela autonomia da criança e pela liberdade do educando ainda é o grande desafio da educação contemporânea.

          REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VAINFAS, Ronaldo [ET al]. História. São Paulo: Saraiva, 2010.

CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

DENT, N.J.H. Dicionário Rousseau. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.; 1996. Disponível em http://books.google.com.br. Acesso em 08/05/2013.

GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. 8 ed. São Paulo: Ática, 2005.

MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nosso dias. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

ROUSSEAU, J-J. Emílio ou Da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

PONCE. Aníbal, Educação e luta de classes/tradução de José Severo de Saramago Pereira. -18. ed. São Paulo; cortez,2001

BRANDAO. Carlos Rodrigues. O que é educação /. São Paulo: Brasiliense, 2007. --(Coleção primeiros passos; 20). 49" reimpr. da 1.

CHAVES, E. O. C. O liberalismo na política, economia e sociedade e suas implicações para a educação: uma defesa. In: LOMBARDI, J. C.; SANFELICE, J. L. (Orgs.). Liberalismo e educação em debate. Campinas, SP: Autores Associados; HISTEDBR, 2007.

 

 


[1] Pedagoga. Professora da Rede Municipal de São João do Jaguaribe. Mestranda do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE).

[2] Historiadora. Professora da Rede Estadual de Limoeiro do Norte. Mestranda do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE).

[3] Pedagogo. Professor da Rede Municipal de Fortaleza. Mestrando do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE).

[4] Doutora em Educação Brasileira- UFC. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação – (PPGE) e do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE) da Universidade Estadual do Ceará.

[5]Doutor em Educação pela Universidade de Federal do Ceará (UFC). Professor: Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC). Professor do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE) e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará (PPGE-UECE).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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