15/02/2018

A Escola Sempre Toma Partido!

Nilton Bruno Tomelin

Em  11 de fevereiro de 1917, o filósofo italiano Antonio Gramsci, escreveu na revista La Città Futura um artigo intitulado “Os indiferentes”. Neste artigo ele afirma que “Viver significa tomar partido. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida”. O sentido partidário aqui, não se refere obviamente a partidos políticos, mas tomar partido em relação a alguma concepção, convicção, teoria e principalmente, prática. A escola, como parte da vida e como instituição viva precisa tomar partido, fazer suas escolhas teóricas e práticas, definir suas opões, apontar suas convicções. Uma escola que nega tudo isso já tomou partido, definindo-se pela indiferença frente à qualquer violação, pelo individualismo exacerbado.

Por isso é possível afirmar que a chama Escola “sem partido”, é também uma escola “com partido” bem definido. É uma escola que ensina que apenas os méritos podem levar ao sucesso, uma escola que banaliza o fracasso lançando-o sobre as costas do fracassado. Uma escola “sem partido” é a que não se considera responsável pela emancipação de seus alunos, que considera que seu papel está cumprido quando os prepara para o “mercado” de trabalho como mero produto a ser consumido. A escola “sem partido” é partidária da pedagogia da domesticação, formadora de uma massa acrítica, insensível à própria dor.

A opção política da escola “sem partido” é a da cultura da indiferença, do individualismo, e do fascismo, em relação à pobreza, em relação aos “de baixo”, como dizia Florestan Fernandes. A escola “sem partido” é a que adota a política pedagógica do embrutecimento das pessoas, conformando-as com suas condições produzindo cabeças cheias e treinadas em detrimento de cabeças bem feitas, capazes de raciocinar e por isso, acreditar que tudo tem uma causa histórica.

A escola “sem partido” é partidária da ideia de que conviver em sociedade não exige luta por que tudo está posto como fruto do acaso ou de algum desígnio superior. Duvidar disso é afrontar a lógica e mesmo a força divina produtora de tudo, inclusive da desigualdade e da dor, segundo suas concepções. As pessoas, nesta concepção precisam trabalhar, sacrificar-se, pouco importando seu grau de felicidade. A escola “sem partido” se opõe frontalmente aos que são partidários do bom e necessário debate dialético em torno do entendimento efetivo da realidade. Sabe, esta escola, que ninguém transforma o que não conhece, como dizia Paulo Freire, mas negam todo o potencial transformador da própria escola.

Ademais, a escola “sem partido” tem em Paulo Freire, seu alvo preferido. Isto flagra o quão partidários sãos os seus mentores, afinal Freire sempre tomou parte. Se se assumem como parte contrária a Freire por que estão efetivamente tomando partido. Seu método de alfabetização, que é respeitado mundialmente, não apenas serve para letrar pessoas, mas para fazer com que percebam o quanto podem participar da construção de sua própria vida e da história do seu mundo.

Se considerarmos o que afirmou Gramsci e o que afirmam seus opositores atuais, não há escola que não tenha tomado partido, e nem poderia haver. Não se está obviamente, falando de partido político, mas de concepções, convicções teorias e práticas. Do mais conservador, tradicional e arcaico professor, ao mais revolucionário e progressista, todos adotam uma parte para si. Ninguém consegue ser “tudo ao mesmo tempo” ou “nada o tempo todo”. Afinal se fosse possível não tomar parte em nada a escola, pessoas simplesmente não existiriam.

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×