18/11/2015

A Excelência no ensino superior em Universidades

Por Silvana Sá de Carvalho

Alcançar a excelência acadêmica deve ser a meta institucional de qualquer Universidade. Se, de um lado, temos marcos regulatórios determinados pelo governo federal para aferir esta qualidade, de outro lado, as Universidades gozam de autonomia que permite imprimir critérios próprios de autoavaliação que vão além do que é predeterminado pelos sistemas de regulação. De qualquer modo é importante definir um caminho para alcançar a Excelência Acadêmica. Levantamos aqui alguns itens que consideramos importantes para realizar um diagnóstico sobre a qualidade acadêmica de uma Universidade:

 

- Qualidade acadêmica na Graduação

A universidade é o local da formação profissional e pessoal do jovem que busca qualidade de serviço quando escolhe uma IES para estudar. O aluno deve sair do percurso acadêmico amadurecido e pronto para enfrentar as questões e os problemas que a sociedade vai apresentar.

 

A sociedade atual demanda um profissional com uma formação geral, que extrapola o domínio de uma área específica do conhecimento e que requer, além da aquisição de conteúdos básicos, o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes formativas; ou seja, uma formação que capacite o aluno para atuar como agente de transformação do mundo no qual se insere (UCSAL, 1999).

 

O ensino de graduação, para garantir qualidade em todos os seus segmentos de cursos deve ter como princípios:

  1. metodologia voltada para provocar um aprendizado baseado na elaboração do pensamento, com autonomia e independência, capacitando o aluno a problematizar e propor alternativas de intervenção na realidade que o cerca, ou seja, aprender a aprender;
  2. promoção da interdisciplinaridade, que permite uma formação integrada para dar conta das problemáticas advindas de situações reais do cotidiano;
  3. ênfase numa formação humanista baseada na promoção de valores éticos e morais e nos diversos ramos do saber e na reflexão dos problemas humanos;
  4. indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão explicitada nos Projetos Pedagógicos de Cursos - PPCs;
  5. formação de profissionais críticos e atuantes na sociedade, através de um contexto de aprendizagem social e interdisciplinar, buscando o equilíbrio entre o preparo científico, técnico e humanístico, favorecendo uma formação para a liderança e o empreendedorismo;
  6. Acompanhamento do aluno em seus processos de aprendizagem, considerando que boa parte tem necessidades específicas que devem sem contempladas pela gestão institucional;

 

- Produção de conhecimento científico e/ou tecnológico

Para Guimarães (2015), o conhecimento científico e a inovação são considerados fatores centrais para o crescimento e o desenvolvimento econômicos sustentáveis, e seu desenvolvimento demanda “a necessidade de cooperação mais estreita entre ciência, tecnologia e inovação, ou seja, universidade, sociedade e sistema produtivo”.

Neste sentido, é fundamental o papel da Universidade no desenvolvimento da ciência e tecnologia de uma região e até de um país. Algumas ações que se pode promover entre o corpo docente e o alunado de uma Universidade para incrementar o conhecimento científico e/ou tecnológico:

  1. desenvolvimento de grupos de pesquisa;
  2. produção colaborativa e em rede com parcerias interinstitucionais;
  3. valorização de docentes envolvidos na condução dos trabalhos acadêmicos;
  4. inserção da atividade de pesquisa nos projetos pedagógicos de cursos, nos programa de disciplinas, nas orientações de Trabalhos de Conclusão de Curso, etc;
  5. motivação para publicações e participação de professores e alunos em eventos técnicos e científicos.

 

 

 

- Internacionalização

 

A cooperação acadêmica internacional, especialmente na última década, vem adquirindo fundamental importância junto às instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras. As universidades estão entrando no novo século, com o desafio de repensarem o seu papel diante da sociedade, como instituições que abrigam a multiplicidade de valores e de opiniões e que enfatizam o caráter universal do conhecimento. A mobilidade de estudantes, professores, pesquisadores e de gestores intensifica com muita voracidade os laços transnacionais, estabelecendo conexões e criando redes de saber universal. As redes de cooperação formadas pelas universidades aproximam as comunidades científicas de diferentes partes do planeta, reforçando a premissa de que é no seio da universidade que devem ocorrer os grandes avanços científicos e tecnológicos e a efetiva integração dos povos, respeitando, acima de tudo, as diferenças e as especificidades de cada nação (STALLIVIERI, sd).

 

Nesse processo, é importante, além de incentivar intercâmbio de pesquisadores e alunos com instituições estrangeiras, estimular a criação de um determinado padrão internacional no interno da Universidade, através de eventos internacionais, criação de componentes curriculares ministradas em língua estrangeira, convite a professores estrangeiros para desenvolvimento de atividades e projetos de pesquisa. É fundamental que a IES fique atenta às oportunidades de mobilidade favorecidas por programas do governo Federal e outros programas particulares de Instituições estrangeiras que atraem profissionais de outros países.

 

- Corpo docente qualificado

É importante notar que atualmente existe uma busca bastante saudável dos professores de Universidades almejando o doutorado e uma posição de participação plena na Institução, produzindo em pesquisa e/ou extensão. Porém aumenta a demanda de uma formação pedagógica que possa qualificar, e muito, os professores em suas atividades como docentes e intermediadores do conhecimento.

Para Gaeta (2012), a preocupação com a formação dos docentes no ensino superior tem mobilizado muitos, entre educadores, pesquisadores e os próprios professores. Isso é percebido através do número expressivo de publicações de pesquisas e artigos relevantes sobre o tema; do aumento de obras didáticas para o ensino superior; dos debates promovidos pelos congressos nacionais de educação; das dissertações e teses produzidas na área educacional. Para a autora, discute-se sobre a formação docente a partir de diferentes abordagens, mas as pesquisas apontam para a necessidade de uma formação, principalmente pedagógica, para os professores do ensino superior. Existe hoje uma falta de espaços para esse tipo de formação.

No contexto das instituições de ensino superior, na prática, o que se observa é o aumento da demanda por formação específica dos professores do ensino superior: (i) seja por iniciativa particular daqueles que querem acrescentar um diferencial de qualidade a sua atuação; (ii) seja por força das restrições legais para contratação de professores para esse nível de ensino determinadas pelo MEC; (iii) seja por políticas internas das instituições de ensino superior que procuram qualificar seus quadros de forma que se mantenham competitivas no mercado educacional (GAETA, p. 37).

 

 - Atividade de gestão acadêmica na coordenação de curso

 As competências de um coordenador de curso estão centradas na ação de gerir, que consiste em agir de acordo com os objetivos institucionais e os recursos disponíveis para tal. Esta ação é considerada em nível estratégico de uma IES.

 

Pensando pelo ângulo das competências, seriam exemplos de decisões no nível estratégico em IES os objetivos ligados ao seu crescimento focalizado e quantitativo, integrado e qualitativo, e à sua sobrevivência e consolidação ao longo do tempo, que são partes importantes do PDI (MURIEL, 2015a).

 

 Espera-se dos coordenadores de curso, que, em sua gestão, assumam o desenvolvimento dos seguintes aspectos (atualizado de Muriel, 2015a):

- marketing – integração entre a política de comunicação, a gerência de produtos e serviços (política de egressos e captação de alunos), o atendimento aos alunos que utilizam os serviços diretos da IES e a logística da distribuição de cursos;

- sustentabilidade financeira – coerência entre as ações desenhadas para o curso, as metas financeiras e o projeto institucional, utilizando o orçamento anual como instrumento de gestão;

- produção acadêmica - integração entre os projetos pedagógicos, as atividades de ensino, pesquisa e extensão, os recursos didático-pedagógicos, os convênios com as empresas, a infraestrutura física e tecnológica, o controle da qualidade de todo o processo de aprendizagem e os instrumentos de regulação; 

- gestão de recursos humanos - relação entre as políticas de contratação e exoneração, os planos de carreira docente, cargos e salários, o acompanhamento psicológico e as políticas de qualificação;

Além disso, é muito importante que os coordenadores participem do planejamento das ações definidas no PDI, principalmente as que se referem às políticas de ensino, que devem ser evidenciadas nos projetos pedagógicos, gestão dos estágios, acesso dos alunos aos serviços oferecidos na IES, atualização das bibliografias e dos laboratórios.

Para apoiar a ação dos coordenadores de curso é imprescindível que a Universidade garanta uma formação continuada para coordenadores e seus respectivos Núcleos Docentes Estruturantes – NDEs. O Coordenador, juntamente com o seu NDE, constituem-se como a liderança acadêmica do curso de graduação e quanto melhor o entrosamento entre os componentes do NDE melhor a gestão do curso.

Muriel (2015b) nos apresenta as atribuições que o Ministério da Educação e Cultura - MEC determinou para os NDEs:

- Contribuir para a consolidação do perfil profissional do egresso do curso.

- Zelar pela integração curricular interdisciplinar entre as diferentes atividades de ensino constantes no currículo.

- Indicar formas de incentivo ao desenvolvimento de linhas de pesquisa e extensão, oriundas de necessidades da graduação, de exigências do mercado de trabalho e afinadas com as políticas públicas relativas à área de conhecimento do curso.

- Zelar pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação.

É importante relatar que o modelo de gestão utilizado no curso de graduação deve transparecer no Projeto Pedagógico de Curso – PPC que, por sua vez, deve refletir a política de ensino adotada pela IES e demonstrada em seu PDI.

 

Desenvolver um curso é muito mais do que consolidar o perfil profissional dos egressos e o PPC é um instrumento de concepção, comunicação, planejamento e implantação de uma intenção educacional muito maior do que ele. O PPC é uma descrição sumária [...] daquilo que queremos fazer como educadores. Cumpre bem a sua função na medida em que comunica uma ideia e estabelece uma programação para implantar um conjunto de ações, políticas e sistemas voltados para viabilizar a aprendizagem de alunos e professores (MURIEL, 2015b).

 

Muriel (2015b) nos mostra que existem NDEs que se estruturam como equipes e buscam um desempenho diferenciado: a) identificam-se por habilidades complementares, b) estabelecem objetivos claros e metas quantificadas de curto prazo, c) desenvolvem um modo específico de trabalhar com uma cultura interna forte. Segundo o autor, é possível criar equipes de alto desempenho mesmo que institucionalmente não existam condições ideais para essa prática.

 

- Infraestrutura e Tecnologias de Informação

A qualidade de uma Universidade é medida, também, pela variável infraestrutura, fundamental para o desenvolvimento das atividades acadêmicas de qualquer IES. Por outro lado, é obrigação da IES oferecer infraestrutura adequada para o desenvolvimento de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Nos últimos anos, assistiu-se a um grande aumento de ofertas de vagas no ensino superior privado e público no Brasil, porém esse crescimento ocorreu de forma desordenada, o que afetou a qualidade dos serviços oferecidos pelas IES, e a maioria delas não conseguiu atualizar a tempo uma infraestrutura para atender a esta demanda.

 

[...] a qualidade e a melhoria do Ensino Superior brasileiro estão intrinsecamente ligadas à identificação e atenção aos fatores que explicam o nível de qualidade das instituições: instalações, estrutura, serviços acadêmicos, suporte financeiro, política de avaliação institucional, planejamento institucional, jornada de trabalho, qualificação docente, qualificação técnico-administrativa, relação professor/aluno, processos metodológicos do ensino, oferta de vagas e expansão de cursos e programas de pós-graduação (grifo nosso) (GRASEL, 2000, apud MARQUES et al, 2015).

 

As Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, item fundamental da infraestrutura de uma IES, se fazem cada vez mais presentes no ambiente acadêmico universitário, o que indica que a educação formal precisa se reinventar e se permitir extrapolar a sala de aula, que perde suas limitações físicas quando se aplicam, além dos ambientes presenciais de ensino, os ambientes virtuais.

Para Prata-Linhares (2012, p.57),

 

O computador, a internet e as novas tecnologias em geral permitem acelerar e conectar informações, atividades e pessoas. Entretanto, as tecnologias sem educação, conhecimentos e sabedoria que permitam organizar seu real aproveitamento levam-nos apenas a cometer mais rapidamente e em maior escala os mesmo enganos. [,..]

A educação presencial e a educação à distância estão sendo fortemente modificadas e todos nós, organizações, professores e alunos, somos desafiados a encontrar novos modelos e propostas para novas situações. Hoje, ensinar e aprender não se limitam ao trabalho dentro da sala de aula, [...] às formas de expressão oral e escrita. Implicam modificar o que fazemos dentro e fora das salas de aula, usar linguagens diferentes, no presencial e no virtual, organizar ações de pesquisa e de comunicação que possibilitem proporcionar e continuar a aprendizagem também em ambientes digitais, acessando páginas na internet, pesquisando textos, vídeos, imagens, áudios, recebendo e enviando novas mensagens, discutindo questões em fóruns ou em salas de aula virtuais, divulgando pesquisas e projetos.

 

A partir da identificação dos itens que possibilitem denominar uma excelência acadêmica, é necessário criar as condições para que ela possa se desenvolver na universidade. O processo de elaboração do PDI, com a participação da comunidade acadêmica, é fundamental para que se alcance esta meta, pois é o documento do estabelecimento das metas e do caminho para alcançá-las.

 

Referências

GAETA, Cecília. Formação de professores para o ensino superior em cursos de pós-graduação Lato Sensu: uma opção inovadora no contexto educacional atual. In: MASETTO, Marcos (Org.). Inovação no Ensino Superior. São Paulo: Edições Loyola, 2012, p. 38-53.

GUIMARÃES, Sônia K. Produção do Conhecimento Científico e Inovação: desafios do novo padrão de desenvolvimento. Caderno CRH, vol.24 no.63 Salvador Sept./Dec. 2011.Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792011000300001 . Acesso em 9 out. 2015.

MURIEL, Wille. Gestão profissional sob a perspectiva teórica que as coordenações devem conhecer. Programa de Capacitação para Coordenadores de Curso. Belo Horizonte: Carta Consulta, 2015 (arquivo digital).

MURIEL, Wille. NDE e equipes de alto desempenho. Programa de Capacitação para Coordenadores de Curso. Belo Horizonte: Carta Consulta, 2015 (arquivo digital).

PRATA-LINHARES, Martha Maria, Contribuições da arte para a formação de professores universitários. In: MASETTO, Marcos (Org.). Inovação no Ensino Superior. São Paulo: Edições Loyola, 2012, p. 55-66.

ROCHA, Alexandre Reily; CONSONNI, Denise; KOBAYASHI, Guiou. “Excelência Acadêmica: como definir e como alcançar” – implicações para a UFABC e seu novo Plano de Desenvolvimento Institucional. Santo André: UFABC, 2012, Notas.

STALLIVIERI, Luciane. O processo de internacionalização nas instituições de ensino superior. Caxias do Sul: UCS, sd. Disponível em: < http://www.ucs.br/site/midia/arquivos/processo_internacionalizacao.pdf>. Acesso em 9 out. 2015.

UCSAL. Ensino de Graduação na UCSal: referencial para uma nova organização curricular. Salvador: UCSAL/SUGRAD, 1999.

MARQUES, Carolina Sampaio; PEREIRA, Breno Augusto Diniz; ALVES, Juliano Nunes. Identificação dos principais fatores relacionados à infraestrutura universitária: uma análise em uma IES pública. Sociais e Humanas. Santa Maria: UFSM, v. 23, n. 01, jan/jun 2010, p. 91-103. Disponível em < http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/sociaisehumanas/article/view/2100/1284>. Acesso em 11 out. 2015.

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