24/06/2015

A gestão de cursos de curta duração na modalidade de educação a distância

A educação a distância vem evoluindo à medida com que as novas tecnologias vão sendo, cada vez mais, incorporadas no dia-a-dia das pessoas. Essa crescente busca por um meio “alternativo” de acesso ao conhecimento – que não seja o método presencial de ensino –, se dá por algumas razões: uma delas é reflexo da necessidade pela busca de informações em ritmo acelerado exigido pelas atividades relacionadas ao mercado de trabalho. Outro motivo está ligado às facilidades de acesso à informação por meio da internet, através de dispositivos móveis que conectam pessoas sem a necessidade de estarem próximas umas das outras. Essa conexão digital gera interação, troca de conhecimento, formando um elo entre o mundo online e o mundo off-line.

Segundo Gabriel (2015),

 

Com os dispositivos móveis ultraconectados e a superpenetração da tecnologia digital em nossas vidas, o ser humano tem se expandido além do seu corpo biológico, existindo on e off-line ao mesmo tempo. Viramos seres ciber-híbridos – cíbridos – e isso tem impactos gigantescos na nossa vida e na maneira como o mundo se comportará daqui pra frente.

 

Essa percepção do perfil dos jovens conectados faz com que muitas universidades comecem a pensar alternativas de oferta de ensino por meio da modalidade de Educação a Distância em cursos livres de curta duração. Geralmente são cursos complementares à grade curricular com foco específico em determinada área.

Segundo o Censo EaD (2014), organizado anualmente pela Associação Brasileira de Educação a Distância, os cursos livres são aqueles que não precisam de autorização de órgão normativo para serem ofertados. Em 2013 representaram a maior parcela entre os tipos de cursos ofertados na modalidade de ensino a distância, bem como o maior número de estudantes matriculados, com um total de 1.628.220 matrículas efetivadas. Esses cursos podem ser classificados em diversas modalidades, de acordo com suas especificidades de conteúdo, carga horária e público-alvo. Suas principais características são:

  • Iniciação profissional: proporcionar conhecimentos técnicos que permitam ao educando criar condições de acesso a uma profissão de caráter essencialmente prático.
  • Treinamento operacional: busca resolver um problema específico de produção ou de processo de trabalho (preenchimento de formulários, software novos etc.).
  • Treinamento em habilidades sociais/comportamentais: desenvolver habilidades a partir de relacionamentos. Por exemplo: cursos de liderança, como atender melhor o cliente, etc.
  • Atualização: visa colocar o educando em contato com os últimos conhecimentos produzidos numa determinada área.
  • Aperfeiçoamento: têm como objetivo aprofundar ou agregar novos conhecimentos ao profissional para possibilitar o exercício de outras funções.
  • Extensão universitária: concebidos para se adequar às necessidades específicas de profissionais, graduados ou não, e estudantes que buscam aprofundar seus conhecimentos em determinada área. 

Classificar um curso de curta duração em uma dessas modalidades é, muitas vezes, difícil de ser definido, pois muitas características se mostram comuns entre eles. Mas independente da modalidade, o que se percebe é que há uma crescente busca por esse tipo de capacitação que oportuniza, em um curto período de tempo, se comparado a um curso de graduação, necessidades de aprendizagem rápida e com foco específico.

Com essa popularização dos cursos de curta duração surge a necessidade de uma gestão eficiente focada na qualidade do ensino prestado e no envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem.

Assim como a educação presencial está, cada vez mais, incorporando ferramentas da educação não presencial nas salas de aula, utilizando-se de recursos e ambientes digitais como recurso didático-pedagógico, a modalidade de ensino a distância vem buscando aproximar o estudante para uma experiência cada vez mais realista.

Para a socióloga, antropóloga e mestre em educação a distância, Lina Sandra Barreto Brasil (2012, p. 12), “[...] em breve não será mais possível estabelecer uma linha divisória entre educação presencial e educação a distância. As duas estarão intimamente imbricadas por meio da utilização das tecnologias de informação e comunicação – TIC.”

Corroborando com esse pensamento, Wille Muriel (2015a) comenta que no futuro não haverá diferença entre educação presencial e educação não presencial, porque a presencial vai utilizar muitas ferramentas da educação a distância. “Isso será uma constante, uma mudança imposta justamente pela utilização de tecnologias, sobretudo de tecnologias mobile.”

Aproximar o estudante da modalidade a distância de um universo mais participativo e colaborativo dentro de ambientes virtuais de aprendizagem reflete uma necessidade de se pensar em estratégias de melhoria na qualidade desses cursos, uma vez que se não avançarmos nesse sentido, outras instituições de ensino tomarão frente a essa tendência. Paralelo a isso, deve-se pensar uma gestão que não venha a competir com os cursos de graduação da própria instituição, mas que fortaleçam a ideia de oferta adequada de cursos livres na modalidade EaD.

Na busca por uma gestão mais eficiente nos cursos de curta duração, cabe compreender o conceito ideal de um gestor de cursos, o qual “necessita de tempo para ‘pensar o curso’, controlar a sua qualidade, supervisionar todas as atividades, planejar alterações nas diversas estratégias e avaliar a eficácia e a eficiência dos processos.”. (MURIEL, 2015a).

Cabe destacar também que esse perfil de gestão deve ir de encontro com os propósitos da instituição de ensino. No caso das universidades, Muriel (2015a) comenta que é preciso identificar as semelhanças e as diferenças entre uma IES e as organizações de outros setores. “O cenário atual é de grande concorrência no setor educacional. Urge, portanto, que o coordenador de curso se empenhe para que sua IES concorra em alto nível, sem agredir suas marcas, sem oferecer programas inúteis e cursos sem qualidade.”.

A qualidade dos cursos de curta duração promovidos por IES são respaldados no conceito institucional da própria universidade, na estruturação de seu corpo docente, quadro técnico e metodologia de ensino. Por mais que os cursos de curta duração não precisem de autorização de órgãos normativos para serem ofertados, a estrutura organizacional e pedagógica do setor de ensino a distância de uma universidade deve atender princípios que atendam o seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), respeitando a visão e missão institucional.

Dentro do processo educativo na modalidade EaD, Pontes (2012, p. 69) comenta que “o valor do trabalho educativo tem a ver com as opções teóricas e metodológicas que são feitas para sustentar a prática pedagógica.” O autor baseia-se numa perspectiva da Pedagogia da Comunicação, em que a educação deve viabilizar e valorizar a participação e manifestação dos alunos.

A EaD pode representar uma rica oportunidade de conexão das inteligências, da potencialização das habilidades dos indivíduos que, por meio das tecnologias midiáticas, têm a oportunidade de aprender constantemente. No entanto, além de tecnologias, é preciso que as práticas docentes mediadoras tenham uma intenção pedagógica clara, que sejam minuciosamente planejadas e fundamentadas teórica e metodologicamente em uma Pedagogia da Comunicação. (PONTES, 2012, p. 73).

 

Esse conceito de educação participativa, mesmo que inserida dentro de um ambiente virtual de aprendizagem, permite a compreensão entendida por Muriel (2015b) de que os sistemas e-learning (educação a distância) são apenas um meio e não podem ser tratados como instrumento responsável pela condução do método de ensino. “O aluno é que estabelece o relacionamento com a plataforma, construindo sentimentos de repulsa ou simpatia”.

Desta forma percebe-se que para uma melhor aprendizagem do conteúdo do curso, o estudante é estimulado tanto por tecnologias interativas quanto pelo envolvimento que este estudante estabelece com os demais agentes do processo de ensino-aprendizagem, como a relação com os professores, tutores e colegas de curso. Para isso, o gestor de cursos EaD precisa estabelecer uma organização voltada a atender as necessidades desse público sem perder o caráter institucional da universidade.

Para Moreira (2009, p. 372), “embora as instituições variem na organização de suas estruturas, alguns perfis profissionais são típicos de projetos de EaD, independentemente do escopo e das tecnologias predominantemente utilizadas.”.

Os profissionais envolvidos em cursos EaD devem atender uma necessidade fundamental da educação a distância, a formação de uma equipe multidisciplinar que possa pensar estratégias teóricas, metodológicas e operacionais capazes de instigar o envolvimento dos estudantes com o conteúdo do curso. 

Não há uma estrutura rígida dos profissionais e métodos que devem compor um curso EaD, mas alguns agentes são fundamentais para o bom desenvolvimento das práticas de ensino-aprendizagem na modalidade de educação a distância, tais como: equipe gestora, autores ou conteudistas, equipe pedagógica, designers instrucionais, equipe de arte, suporte técnico,  tutores ou mediadores de aprendizagem. Todos esses profissionais devem atuar de forma integrada, a fim de proporcionar metodologias interativas e participativas com os estudantes.

Percebe-se, por fim, que fazer a gestão de cursos de curta duração na modalidade de ensino a distância requer uma série de entendimentos que vão desde compreender o perfil do público-alvo, passando pelo conhecimento estratégico da instituição, compreensão da estrutura organizacional e dos ambientes virtuais de aprendizagem e da condução/relacionamento dos estudantes a fim de oportunizar um eficiente método de ensino-aprendizagem.

Referências

BRASIL, Lina Sandra Barreto. Educação mediada por tecnologias interativas: mas o que a universidade tem a ver com isso? In: OLIANI, Gilberto; MOURA, Rogério de. (Orgs.). Educação a Distância: gestão e docência. Curitiba: CRV, 2012.

GABRIEL, Martha Carrer Cruz. Cibridismo: o fim do mundo offline. Disponível em: <http://www.martha.com.br/youpix-festival-cibridismo-o-fim-do-mundo-offline/>. Acesso em: 5, maio, 2015.

MOREIRA, Maria da Graça. A composição e o funcionamento da equipe de produção. In: LITTO, Fredric Michael; FORMIGA, Marcos. (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

MURIEL, Wille. Programa de Capacitação para Coordenadores de Curso. Carta Consulta, 2015a.

MURIEL, Wille. Um relato de quem aprendeu na modalidade EaD. Carta Consulta, 2015b.

PONTES, Aldo. Processo educativo na modalidade EaD: contornos, caminhos, dinâmicas e mediações. In: OLIANI, Gilberto; MOURA, Rogério de. (Orgs.). Educação a Distância: gestão e docência. Curitiba: CRV, 2012.

 

 


[1] Graduado em Publicidade e Propaganda e especialista em Promoção de Vendas, Merchandising e Varejo pela Unochapecó. Mestre em Design e Expressão Gráfica – Hipermídia pela UFSC. Coordenador de Educação a Distância da Unochapecó.

 

FONTE: CARTA CONSULTA

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