25/06/2015

A gestão de cursos no ensino superior: desafios no cenário atual

Neusa Dendena Kleinubing

Este texto tem por objetivo refletir sobre a importância da atuação da coordenação de curso frente às demandas do ensino superior. Tentamos discutir desde os aspectos relacionados às questões práticas, operacionais até as decisões estratégicas que o coordenador deve tomar. Neste sentido, apresentamos algumas ações importantes neste processo buscando discuti-las de modo a entender que a atuação da coordenação de curso exige, em grande medida, dominar elementos da área de gestão.

Atualmente vemos uma grande expansão de cursos superiores no Brasil, tanto os presenciais quanto à distância. Diante deste cenário podemos pensar: como está a qualidade destes cursos ofertados? Os estudantes têm saído preparados das universidades para enfrentar os desafios do mercado de trabalho? Quais são os mecanismos de acesso e de permanência dos estudantes nos diferentes cursos? Os cursos e as instituições de ensino tem conseguido acompanhar as grandes transformações tecnológicas?

Estes são apenas alguns dos questionamentos possíveis quando se pensa na oferta do ensino superior no Brasil. Sabemos que há legislações específicas e mecanismos que visam a implantação, acompanhamento e avaliação dos cursos ofertados, porém há uma questão fundamental neste processo todo, a gestão do curso. O processo de gestão no ensino superior atualmente ganha relevância, pois com a ampla concorrência, principalmente no universo das faculdades e/ou universidades particulares, o gestor fará toda a diferença, pois cabe a ele zelar por princípios elementares do ensino em nível superior, tais como: a) as ações didático-pedagógicas mirando na qualidade de ensino; b) o gerenciamento de recursos financeiros e de pessoas; c) o marketing a fim de dar visibilidade a todas as atividades características que diferenciam seu curso; d) as relações com estudantes (e até familiares!) e docentes. Enfim, nisso podemos dizer que o coordenador de curso tem um papel estratégico na instituição de ensino superior.

Neste cenário imagina-se não ser fácil coordenar um curso de ensino superior, porém a aquisição de conhecimentos relacionados à gestão, articulados com as habilidades e competências pedagógicas podem ser considerados como os elementos que transformarão o(a) coordenador(a) de curso num gestor.

Acredita-se que o foco principal de um coordenador de curso seja a excelência na formação dos futuros profissionais. Porém entre o ingresso dos estudantes até a formação há um longo e complexo caminho a ser percorrido e sabemos que o perfil dos estudantes nos cursos das instituições particulares (não somente nestas, mas principalmente) carrega todas as mazelas da educação básica brasileira. Aqui aparece o primeiro e talvez o maior desafio da coordenação de curso: organizar, pensar estratégias para que em 7 ou 8 semestres as fragilidades dos estudantes sejam minimizadas e potencializadas as habilidades e competências exigidas pelas DCNs de cada curso.

Além do amplo domínio relacionado ao perfil do profissional, Guimarães[1] assevera que o coordenador deve ser onipresente e demonstrar conhecimento do mercado e suas tendências.  Para o autor, o coordenador de curso deve

exercitar uma competência pedagógica e, principalmente, praticar ao limite a sensibilidade para a condução de um processo – a formação em nível superior – envolvendo atores complexos e situações muitas vezes delicadas, que exigirão uma permanente disposição para o diálogo e capacidade de convencimento.

 

Nesse caminho depreendemos que o papel da coordenação de curso não é apenas coordenar atividades pedagógicas, mas pensá-las, planejá-las, implementá-las e avaliá-las. Não podemos esquecer que as ações pedagógicas andam de mãos dadas com as ações administrativas. Por isso a coordenação assume um papel estratégico, portanto, de gestão. Não há possibilidades de desenvolver ações pedagógicas sem projetar tempo (aqui se inclui o horário das disciplinas entre outros), pessoas (docentes, discentes e técnicos) e recursos financeiros. E ainda é preciso se perguntar: essas ações estão em consonância com o PDI? Outro desafio: é necessário olhar para fora do curso! identificando sua inserção em outros níveis institucionais a fim de participar de discussões e garantir espaços em processos de tomada de decisões.

Outra questão importante a qual o coordenador precisa se inteirar e participar está relacionado com o marketing. Em tempos de concorrência, há a necessidade de dar ampla visibilidade às atividades do curso, principalmente àquelas que podem dar vistas a qualidade do processo de formação. Sabemos que na era da informação as pessoas que estão pensando em fazer um curso graduação investigam, buscam informações sobre os cursos e instituições. Nisso a importância de uma estreita relação entre coordenação de curso e a unidade de marketing da instituição para que o diferencial do curso possa aparecer e contribuir para a captação de estudantes.

Outro fator pelo qual a coordenação de curso deve zelar são as relações com os estudantes e docentes. Aqui se estabelece o cenário no qual o gestor terá que demonstrar seu “jogo de cintura”, já que as relações entre sujeitos são sempre complexas. Com relação aos estudantes a coordenação precisa acompanhá-los de perto, ouvindo-os para identificar suas necessidades e buscando resolver seus problemas. Neste campo, ações que vão desde orientação de matrícula, esclarecimentos sobre Atividades Curriculares Complementares (ACC), até a dissolução de problemas entre estudantes e docentes estão na lista das atividades que deverão ser geridas pelo coordenador. Por outro lado, os docentes também demandam atenção: desde o acolhimento de um novo professor inteirando-o do PPC e do processo pedagógico do curso até o envolvimento do coletivo a fim de alcançar os objetivos proposto no PPC.

Nesse percurso e para que os objetivos sejam alcançados, há um intenso trabalho realizado em nível de coordenação que pode ser compreendido como um trabalho de liderança. Podemos pensar esta atitude a partir da ideia do prof. Wille, para o qual liderança é a “capacidade de envolver as pessoas para que elas se realizem por meio de um projeto que é institucional”. Os docentes que compõe o curso são peças fundamentais para que curso alcance seus objetivos e tenha sucesso. Não basta apenas a titulação de doutor ou mestre, é necessário que o corpo docente esteja envolvido pelo/no projeto de formação proposto pelo curso e pela instituição. É preciso que os docentes sintam-se realizados pelo que fazem. Sabemos da dificuldade em envolver todos os docentes, mas uma parcela deve aceitar os desafios que um processo de formação de ensino superior traz. Esta parcela trata-se do NDE. É com este grupo que a coordenação deve dividir as responsabilidades, planejar e criar estratégias que possam garantir o sucesso deste projeto de formação. É com este grupo que se deve pensar a “gestão compartilhada”.

Gestão compartilhada: chegamos a outro item para se pensar a gestão de cursos no atual cenário, que como vimos é altamente complexo e nem mesmo um “supercoordenador” com seus “superpoderes” dará conta sozinho desta empreitada. Por isso a necessidade de cercar-se de pessoas coadunadas com as propostas e dispostas a dispender esforços a fim de alcançar o sucesso do curso. Os componentes do NDE devem ser chamados a colaborar e a pensar estrategicamente o curso. Devem ser chamados a responder coletivamente aos desafios previstos num processo educacional.

Além disso, ainda há de se pensar que a instituição precisa garantir que as “estruturas meio”, de fato, deem subsídios para a atuação do coordenador de curso. Diretorias, departamentos, secretarias devem dar suporte e ter respostas rápidas aos problemas que surgem durante a gestão. Para que as ações relacionadas a gestão sejam efetivas e bem sucedidas as estruturas institucionais também devem dar respostas rápidas e efetivas.

Como podemos perceber, coordenar um curso exige atitudes de gestão em diferentes níveis e de complexidade, por isso é tão importante que as instituições se preocupem com o papel do coordenador bem como cada coordenador tenha em mente a posição estratégica que ocupa, talvez seja por isso que nos processos de avaliação de curso, há tanto interesse em questões específicas direcionadas à coordenação de curso.

A partir destas considerações, acreditamos que o maior desafio seja transformar docentes em gestores. Essa transformação não se dá da noite para o dia, há necessidade de empreender esforços e estratégias institucionais neste sentido, afinal, o coordenador opera uma rede complexa na qual envolve estudantes, docentes, instituição de ensino superior e a própria sociedade cada qual, com seus desejos e objetivos, porém com uma só expectativa: a de uma formação superior de qualidade.

 


[1] GUIMARÃES, Luiz Fernando Gomes. Gestor ou coordenador de curso? Biblioteca complementar do Programa de Capacitação para Coordenadores de Cursos.

 

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