A Hipocrisia Política por Trás do Fim do Valor do Diploma

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

Ouvir qualquer frase que contenha a palavra meritocracia nos remete a um suposto direito direcionado apenas às pessoas de classe alta — percepção reforçada por Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, quando afirmou: “90% dos meninos nascidos em lares pobres morrem pobres, e 90% dos nascidos em lares ricos morrem ricos, não importa o quão estúpidos sejam. Portanto, mérito não é um valor”.

O discurso sedutor da meritocracia funciona como uma narrativa validada pela teologia do domínio para manter o controle sobre a massa, sugerindo que, se você trabalhar sete dias por semana, doze horas por dia, enriquecerá.

Na realidade, a única pessoa que enriquecerá será o patrão — às custas da saúde e do suor do trabalhador.

Tivemos um péssimo exemplo vindo do governador Tarcísio de Freitas, que afirmou que “faculdade não vale nada, basta um curso técnico”. Sua fala segue a mesma linha do pastor André Valadão, que associou a faculdade a riscos morais, chegando a dizer que as instituições poderiam “mandar filhos para o inferno” e que seria melhor para um jovem “vender picolé na garagem” do que frequentar uma faculdade que o afastaria de Deus.

São poucos os governos que fomentam a busca pelo conhecimento. Aqueles que incentivam o jovem a estudar acreditam que o conhecimento é libertador e que um diploma de nível superior favorece o desenvolvimento de discernimento, protagonismo, criticidade e autonomia intelectual.

Falas como as citadas acima são covardes: desestimulam o jovem a estudar, ampliam a massa de manobra e travam a economia. Em pleno século XXI, a mais-valia absoluta ainda se sobrepõe ao bem-estar do empregado, ao capital humano e, em consequência, ao capital intelectual.

Vale ressaltar que, apesar de Tarcísio afirmar que o diploma não é mais relevante, seu filho continua cursando Engenharia de Produção e, não por acaso, conseguiu estágio no BTG — um dos principais bancos de investimento do país[1]. Há quem chame isso de simples meritocracia.

Esse tipo de meritocracia nos remete ao sistema de castas da Índia, que estabelece uma divisão social hierárquica e hereditária, na qual o nascimento determina a posição social, a profissão e até o casamento. É exatamente essa lógica que alguns políticos tentam impor em nosso país.

Um jovem que nasce pobre, preto e em uma comunidade periférica é empurrado a acreditar que está fadado a permanecer assim pelo resto da vida. Uma das formas de garantir isso é usurpar seus sonhos e sua dignidade, implantando a ideia de que “diploma de nível superior não serve para nada”.

Parlamentares que pensam e agem dessa forma fundamentam-se em suas próprias imbecilidades e, com o intuito de aumentar sua massa de manobra, sucateiam as universidades públicas — como tem ocorrido no governo do Estado de São Paulo e como ocorreu no governo federal anterior[2].

Em contrapartida, enquanto alguns parlamentares desmotivam os jovens a estudarem, o atual Governo Federal tem investido em diversas ações e programas, como:

Programas de Incentivo e Permanência Estudantil: Pé-de-Meia; Pé-de-Meia Licenciaturas; Programa Novo Mais Educação.

Programas de Infraestrutura e Acesso: Educação Conectada; Política Nacional de Educação do Campo, das Águas e das Florestas; Política Nacional de Educação Escolar Indígena.

Programas para Qualidade do Ensino e Formação: PNLD; Escola em Tempo Integral; Praema.

Programas de Combate ao Analfabetismo: Brasil Alfabetizado; Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo.

Universidade Aberta do Brasil (UAB): voltada à expansão e interiorização da educação superior pública e gratuita via EaD.

Essas iniciativas demonstram que o Governo Federal reconhece o potencial de seu povo e acredita no poder transformador da educação superior, permitindo que jovens antes sem perspectivas alcancem ascensão social e realizem seus sonhos como médicos, engenheiros, advogados, entre outras profissões.

Ao afirmar que “o mercado exige habilidades”, Tarcísio omite propositalmente que essas habilidades são desenvolvidas justamente em cursos superiores, que ampliam competências técnicas e transversais (soft skills) essenciais para o sucesso profissional, como comunicação, trabalho em equipe, resolução de problemas, pensamento crítico e aprendizagem contínua.

Em suma, o governador de São Paulo — assim como outros parlamentares que desqualificam a importância do ensino superior — representa uma visão hipócrita, manipuladora e prejudicial ao desenvolvimento do país.