A importância da atividade física e dos estudos na recuperação de dependentes químicos

A recuperação de dependentes químicos é um assunto muito complexo e ainda com pouco conhecimento científico estruturado. É possível saber por evidências empíricas o que funciona e não funciona, mas não há garantia de que um mesmo tratamento será igualmente eficaz em qualquer pessoa.
No entanto, é fato de que o Brasil é um país que sofre particularmente com esse problema. De acordo com uma pesquisa da Fiocruz, 3,2% dos brasileiros consomem drogas ilícitas regularmente. Já em relação ao álcool, 46 milhões de pessoas consomem com regularidade no país.
Esse é um cenário muito propício para o desenvolvimento de dependência química e é essencial que saibamos como atuar para recuperar os pacientes que apresentam essa condição.
Será que o exercício físico pode ser um aliado na luta pela recuperação de dependentes químicos e evitar a internação compulsória? É o que veremos a seguir!
O exercício físico pode ajudar na recuperação de dependentes químicos?
Não é incomum ouvir falar sobre os benefícios da atividade física para uma série de situações. Por exemplo, os exercícios físicos podem ajudar a aliviar o estresse, regular o sono e ajudar o organismo a liberar toxinas que estejam guardadas no nosso corpo. Tudo isso ajuda, direta ou indiretamente, no combate a dependência química e, portanto, dá indicações de que a prática recorrente de atividade física possa ser útil nesse tratamento.
Em termos de estudos específicos, existem alguns poucos trabalhos que indicam que, de fato, a atividade física pode ajudar na recuperação de dependentes químicos. Por exemplo, um estudo feito com ratos com dependência de opióide mostrou que aqueles que tiveram acesso a uma roda de exercícios tiveram, também, menor consumo do químico em doses auto-administradas. Ou seja: com os roedores, o exercício físico ajudou a reduzir a necessidade pelo objeto de dependência.
Já um estudo com humanos mostrou resultados semelhantes. Feito com apenas 38 pessoas (homens e mulheres), o estudo foi pequeno, mas animador. O público escolhido era dependente de uma série de químicos diferentes, incluindo opióides, cannabis, anfetaminas e cocaína. Os participantes passaram por uma rodada de exercícios três vezes por semana durante 6 meses. Das 38 pessoas, apenas 20 completaram o programa de treinamentos. Um ano depois, 5 dessas 20 pessoas estavam em abstinência e 10 delas tiveram significativas reduções no consumo da substância.
Ou seja: apesar de uma grande quantidade de participantes não completar o treinamento, aqueles que foram até o fim registraram ou a abstinência completa ou uma redução no consumo, com exceção de aproximadamente 25% do público.
Isso mostra que, apesar de não ser uma certeza científica, há grandes indícios de que a atividade física pode ajudar no combate à dependência química. É claro que, na prática, é essencial que seja possível realizar novos exames e estudos para poder formalizar esse conhecimento.
Quais os outros benefícios da atividade física?
Além dos benefícios físicos, os exercícios podem ajudar na recuperação de dependentes químicos de muitas outras formas. Uma delas é na formação de conexões positivas com outras pessoas em recuperação.
Uma organização não-governamental dos EUA, chamada de The Phoenix (A Fênix, em português), trabalha com esse conceito no país. Eles focam na criação de uma comunidade de pessoas sóbrias que se unem na prática de exercícios físicos de todos os tipos. Dentre as atividades promovidas pela organização, estão o CrossFit, a ioga, o boxe, a corrida e a escalada.
Tanto é assim que, atualmente, eles inclusive organizam eventos pelos EUA e competições simples para manter os participantes motivados no processo de recuperação. Para participar, a única exigência é que a pessoa esteja sóbria há, no mínimo, 48 horas.
Um dos principais benefícios da ação da The Phoenix, além dos ganhos da atividade física e dos treinadores empenhados na recuperação dos participantes, é a criação de laços de camaradagem entre as pessoas. Todas elas que estão ali sofrem com o mesmo problema e não encontram na sociedade o tipo de compreensão da questão que precisam superar. Na prática dos exercícios físicos com outros dependentes, eles encontram isso e conseguem engajar mais na recuperação.
É importante combinar o exercício físico com outros tipos de tratamentos?
É importante ter em mente que, por mais benéfica que seja a prática de atividade física na recuperação de dependentes químicos, ela não consegue resolver o problema sozinha. O ideal é que haja uma combinação de tratamentos para poder aumentar as chances de manter a abstinência e sobriedade. Por exemplo, os tratamentos com medicação dobram o índice de abstinência nos casos de dependência de opióides. A psicoterapia também é muito útil em potencializar os benefícios de outros tratamentos.
O próprio exemplo dos casos citados neste artigo mostram que é importante combinar tratamentos. A The Phoenix tem mais sucesso do que o estudo com 48 pacientes justamente porque combina os efeitos positivos da integração social com a prática esportiva em vez de simplesmente fazer exercícios.
E aí, aprendeu mais sobre a importância da atividade física na recuperação de dependentes químicos? Então compartilhe este artigo nas redes sociais para ajudar o máximo de pessoas possível!