10/06/2020

A Lei de Thcékhov

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente– www.wolmer.pro.br

 

            É sabido que o Estatuto do Desarmamento que teve o intuito de restringir o número de homicídios, serviu para estancar o seu crescimento, pois antes dele eram 36,1 assassinatos para cada 100.000 habitantes, e atualmente a taxa está em 29,9 para os mesmos 100.000 habitantes[1].

            Dito isso, pode-se perceber que a violência não salva vidas, e que pessoas armadas precisam ter um bom equilíbrio emocional, o que não demonstram as pesquisas relatadas por Daniel Cerqueira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

            Para ele, quando o Estado arma o cidadão faz com que a violência se autoalimente, nas palavras de Daniel Cerqueira “Quanto mais medo as pessoas sentem e mais homicídios ocorrem, mais elas se armam. Quanto mais se armam, mais mortes teremos”.

            Segundo pesquisa, a maior parte dos homicídios não está relacionado com "criminosos contumaz", mas com o cidadão de bem que em um momento de ira torna-se uma pessoa impulsiva, que rende manchetes como "família morta após briga de trânsito [...]".

            Esta triste história corrobora com a pesquisa acima, pois um jovem após um esbarrão em seu carro e uma discussão, alvejou o motorista, a esposa e o filho de 20 anos, na presença de um outro de 8 anos. O assassino era um jovem que segundo seus familiares, não possuía histórico de ser uma pessoa "agressiva ou com ímpeto de violência"[2]

            Não será por meio de importação de armas para uso individual sem impostos que a violência será erradicada, já que a segurança pública é dever do Estado, caso contrário nos remeteremos a um filme de "faroeste" ao qual os duelos serão constantes e mortes banalizadas.

            Narloch em seu texto O porte de armas aumenta ou diminui a violência? Publicado em 2015 pela Veja, cita Cerqueira, quando afirma que "cada ponto percentual de aumento do número de armas de fogo resulta num crescimento de 2% do número de vítimas"[3] e estas falas corroboram com as pesquisas acima.

            Interessante perceber em seu texto que existe uma ambivalência quando se trata no porte de arma ou não, já que em países como Japão que baniram as armas para uso pessoal tem uma taxa de homicídio de 0,3 para 100.000 habitantes, em contrapartida, na Suécia, Alemanha e Áustria, que têm em média 30 armas para 100 habitantes, têm taxas baixíssimas de homicídios.

            Observe que a educação realmente é a melhor forma de se reduzir o número de homicídios, já que estes três países de acordo com Pisa – Ranking de educação mundial encontram-se em 11ª, 21ª e 28ª posições no Ranking, enquanto que o Brasil amarga a 58ª posição[4].

            O Estado precisa perceber que o que reduz a violência é a educação de qualidade e para isso ele só precisa ter boa vontade política, já que educação nunca foi gasto e sim investimento, assim sendo, não será por meio de importação de armas para uso individual sem impostos que a violência será erradicada.

            Como comentado por Harari em seu livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras, 2016, quando elucida sobre a  Lei de Thcékhov, que se resume na famosa declaração de Anton Thcékhov de que, "se uma arma aparece no primeiro ato de uma peça, é inevitável que seja disparada no terceiro". Para Harari esta fala é tão verdade que na história da humanidade, todos reis e imperadores que adquiriram alguma arma nova, mais cedo ou mais tarde foram tentados a usá-la.

            Harari ainda afirma no livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, que durante as guerras pré-industriais, a fome, frio e doenças acometiam mais de 90% da população e não as armas.

            Imagine, se pessoas armadas se sentem encorajadas a fazerem o que acham ser correto, imagine então estas pessoas dominadas pela raiva?

            A educação também tem a função de fomentar e exercício do diálogo já que ele não existe sem a reflexão, o que é corroborado por Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, publicado pela Paz e Terra em 2000, ao afirmar que é pelo diálogo que organizo minhas ideias, aprendo a me colocar melhor.

 

[1] Para mais informações vide https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/25/politica/1508939191_181548.html

[2] Para mais informações vide https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/01/28/familia-morta-apos-briga-em-transito-e-enterrada-em-porto-alegre.ghtml

[3] Para mais informações vide:  https://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/o-porte-de-armas-aumenta-ou-diminui-a-violencia/

[4] Para mais informações vide app.informinascursos.com.br

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