19/04/2018

A Morte por um quinto

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            A educação pública nos dias de hoje tem levado nossos educandos a um discernimento? Vamos puxar um pouco a nossa história, seja ela recente ou até mesmo ocorrida há decádas, fazendo valer as sábias falas de Harari em seu livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016, que afirma que o estudo da história tem o objetivo de nos livrar dessa submissão ao passado.

            Acontece que em nosso caso, não estamos submetidos ao passado, o nosso passado está sendo simplesmente esquecido e manipulado pelo poder político que impõe as instituições de ensino uma história deturpadora e alienante.

            Perdemos as referências de nossos heróis, que hoje, distorcidamente são vistos como comunistas, socialistas ou qualquer outro "ista", e isso pela simples função de denegrir a imagem de quem deu a própria vida em nome de seu povo, tornando mais fácil a manipulação e completa alienação.

            Peguemos como exemplo o mártir de nome Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por todos nós como Tiradentes. De todos os inconfidentes, ele foi o único que morreu, e poucos têm acesso a esta informação, pois ele era o que tinha a posição social mais baixa e os demais inconfidentes eram mais ricos ou tinham patente militar superior.

            Repararam que nossa justiça continua funcionando da mesma maneira? Conhecem pessoas no topo da pirâmide social presas ou que estejam presídios comuns? Não, muitas encontram detidas em locais que funcionam como verdadeiros hotéis, quando não ficam em seus próprios domicílios que são verdadeiras mansões, cumprindo a pena domiciliar.

            Voltando ao Tiradentes, nossos alunos de hoje sabem que ele morreu por lutar pela redução de impostos, que em sua época era um absurdo pagar um quinto para o governo? Pois é, pagamos muito mais que isso com impostos e nada fazemos.

            O problema de nossa educação é que nossos educandos apenas reproduzem o que é imposto por aí, principalmente pela mídia através da nunciopolítica.

            O que era absurdo para muitos na época, uma taxa de 20% em impostos, temos hoje, valores surreais como o caso da cachaça, bebida tipicamente brasileira que tem embutido nela 81,87% de imposto. Os aparelhos de videogame e os seus jogos tem 72,18% de impostos. O perfume nacional tem 69,13% e uma moto com mais de 250 cc tem 64,65% de Impostos.

            Interessante percebermos que produtos primordiais para que tenhamos o mínimo de qualidade de vida também tem impostos que ultrapassam o "um quinto" que foi um dos motivos da inconfidência mineira, como água que tem 38% , a água mineral com 44% e a energia elétrica com 48%. A grande maioria dos produtos ultrapassam os 20% que foi um dos motivos da inconfidência.

            Para ilustrar um pouco mais, 53,03% do preço da gasolina são de impostos, o que a torna uma das mais caras do mundo, isso sem levar em conta que O Brasil reconquistou a chamada “autossuficiência volumétrica” de petróleo, entretanto a nossa gasolina é toda adulterada. Aliás, os postos de gasolina no país não podem vender gasolina pura. e caso aconteça, isso passará a ser um crime de adulteração de combustível. O combustível é adulterado e vende-lo puro é indício de adulteração. Isso chega a soar estranho, mas para a terra "brasilis" estranho aqui é o normal.

            De acordo com a Lei 8.176/91[1] a venda de gasolina pura é um crime de ordem econômico e quem assim fizer, poderá pegar entre 1 a 5 anos de detenção e multas, por isso os postos adulteram a gasolina com 27% de álcool (o que é obrigatório) e muitos aproveitam aumentando ainda mais o percentual do álcool, o que implica em um maior consumo de combustível além de reduzir a vida útil de seu veículo.

            Os nossos impostos dá ao Brasil o título de país com uma das maiores cargas tributárias do mundo, fazendo com que o cidadão brasileiro trabalhe 150 dias para pagar impostos[2], e o maior problema é que grande parte deste dinheiro é simplesmente escoado para a corrupção.

            O valor recebido pelos impostos não é aplicado onde deveria, como: saúde, educação, transporte e segurança pública, o que nos torna longe de igualarmos aos Estados Unidos, Japão, Irlanda, Coréia do Sul e Austrália, países com maior retorno à sociedade dos impostos pagos, e para não ser diferente, somos os primeiros nos piores no retorno à sociedade.

            Isso nos faz pensar nas falas de Neiva, em seu livro Lições aprendidas publicado pela Editora Universidade em 2006, quando ressalta que a missão educacional pressupõe crença na vida, crença na capacidade de o homem compreender a realidade e nela atuar, tornando-se melhor e melhorando a qualidade de vida da sociedade.

            Assim sendo, como educadores que somos, ainda mantemos a crença de despertarmos em nossos alunos o discernimento para que estes possam compreender a realidade e perceberem que a mesma poderá ser modificada, desde que saiam da inércia e não se deixe mais manipular por políticos e/ou pela mídia.

 


[1] Para mais informações vide http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8176.htm

[2] Para mais informações vide https://www.terra.com.br/economia/tributos/produtos-com-as-maiores-cargas-tributarias/
http://www.fiepr.org.br/sombradoimposto/veja-o-quanto-voce-paga-de-imposto-1-14466-115735.shtml

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