Alfabetização Científica para Crianças
Resumo
As discussões sobre o currículo e método do ensino das ciências naturais para as crianças em seus primeiros anos de escolarização sofrem com a falta de conhecimento científico dos professores polivalentes que muitas vezes se utilizam do livro didático como um manual ser preenchido com os alunos durante o período letivo. Esta prática cria barreiras para a busca do ato de pesquisar e das descobertas dos pequenos estudantes e deixa de aproveitar os conhecimentos prévios como ponto de partida para a iniciação cientifica e investigativa, ou seja, a falta da alfabetização científica certamente comprometerá o desenvolvimento do educando. O ensino das Ciências naturais nos primeiros anos de escolarização deve naturalizar a ciências, aproximando as crianças da experiência, pois o ambiente é um grande laboratório à disposição da curiosidade. As atividades práticas devem ganhar destaque, não somente por causa da didática pedagógica, mas para a dinamização do ensino dos conceitos científicos dos mais simples aos mais elaborados, fazendo com que, tanto o docente como a criança nesta fase escolar possam vivenciar os conceitos científicos comuns ao meio natural.
Palavras-chave: Alfabetização, Ciências, Crianças, Currículo
Abstract
Discussions on the curriculum and method of teaching natural sciences for children in their early years of schooling suffer from the lack of scientific knowledge of multipurpose teachers who often use the textbook as a handbook to be filled with students during the period school This practice creates barriers to the search for research and discoveries of small students, and fails to take advantage of previous knowledge as a starting point for scientific and investigative initiation, that is, the lack of scientific literacy will certainly jeopardize the student's development. The teaching of natural sciences in the first years of schooling should naturalize the sciences, bringing children closer to the experience, because the environment is a great laboratory at the disposal of curiosity. Practical activities should be highlighted, not only because of pedagogical didactics, but also to stimulate the teaching of scientific concepts from the simplest to the most elaborate, so that both the teacher and the child at this stage of the school can experience the common scientific concepts to the natural environment.
Keywords: Literacy, Science, Children, Curriculum
Introdução
Quando olhamos para o currículo e para os objetivos do primeiro ciclo de escolarização do ensino fundamental, observa-se as descrições das propostas para o ensino de Ciências, Geografia, História, Língua Portuguesa e Matemática como áreas do conhecimento, tendo como proposição um currículo mínimo e que seja flexível, levando em consideração aos aspectos socioeconômico e locais a fim de tornar os conhecimentos mais próximos da realidade da criança. Além da áreas de conhecimentos específicos, os temas transversais que percorrem o currículo de forma a articular os conhecimentos de várias áreas sobre assuntos de relevância sobre o aspecto social, saúde, meio ambiente etc. Olhando este retrospecto nos documentos de diretrizes da Educação Básica parece que estes conhecimentos estão dentro de uma equilibração de relevância, porém na práxis educacional a realidade é bem diferente, os professores que atuam nestas áreas são na maioria unidocentes e não especialistas nas áreas e acabam por priorizar a Língua Portuguesa e a Matemática como as principais disciplinas, pois a aquisição da leitura e da escrita da Língua Portuguesa e os conhecimentos básicos da Matemática são priorizados, inclusive na carga horária da matriz de algumas escolas, dando a Ciência da Natureza uma secundaridade em nível de relevância das aprendizagens necessárias. Isto pode explicar porque o Ensino da Ciência da Natureza, já que as demais áreas também são ciências, acabam por ficar rechaçado.
Para Chassot, ser alfabetizado científico é “saber ler a linguagem que está descrita na natureza” (2003 p.3), sendo assim não há necessidade de alfabetizar nas letras primeiro para depois inserir conhecimentos científicos da natureza, mas pelo contrário, a partir dos conhecimentos prévios dos estudantes, e utilizando a metodologia da pesquisa e projetos, podemos aproveitar a curiosidade e as dúvidas das crianças como uma proposta para descobertas. Os mitos ou conhecimentos sobre a natureza que foram adquiridos pelo convívio social da criança podem trazer o que Feyerabend diz: “distinção entre a Ciência e o Mito” (Lemonde ,1989 p.26). Esta iniciação na descoberta científica é a busca de boas perguntas e não somente as respostas conceitualmente prontas como um conhecimento acabado, apontam para uma escola mais dinâmica e que ao ensinar os pequenos a desenhar as fases de crescimento do feijão plantado em algodão embebecido em água, pode buscar informações sobre a tecnologia da plantação hidropônica.
O conhecimento de ciência deve ultrapassar as fronteiras da escolarização e ter a finalidade de instrumentalizar as crianças para uma formação científica que promova o desenvolvimento de cidadãos mais conscientes sobre o uso dos recursos naturais, a sustentabilidade, tendo acesso às tecnologias que contribuam melhoria de vida para a sociedade. Para promover o ensino da ciência da natureza precisamos democratizar o acesso ao conhecimento científico através de uma metodologia interdisciplinar que rompa com a fragmentação das áreas do saber para promoção de interdisciplinaridade onde ao trabalhar o crescimento do feijão, como já citado anteriormente, possamos trabalhar a plantação hidropônica e o uso racional da água. Não é uma interdisciplinaridade cientifica, mas escolar, que busca por finalidade o ensino da ciência que reconhece que o saber foi constituído de incertezas, conforme defende Fazenda (2011, p.33) “portanto creio que constitui um atentado contra o processo de maturação cientifica e intelectual dos educandos toda a pedagogia que tenta incutir-lhes a ilusão da verdade. Ao contrário, a pedagogia da incerteza tenta revitalizar a produção científica e a do ensino da ciências.”
As discussões sobre o currículo e método do ensino das ciências naturais para as crianças em seus primeiros anos de escolarização sofrem com a falta de conhecimento científico dos professores polivalentes que muitas vezes se utilizam do livro didático como um manual ser preenchido com os alunos durante o período letivo. Esta prática cria barreiras para a busca do ato de pesquisar e das descobertas dos pequenos estudantes e deixa de aproveitar os conhecimentos prévios como ponto de partida para a iniciação cientifica e investigativa, ou seja a falta da alfabetização científica certamente comprometerá o desenvolvimento do educando. Em pesquisa realizada por Longhini (2008) a maior dificuldade para os docentes que atuam com os anos iniciais é a restrição das fontes de buscas de conhecimento, sendo que o livro didático se constitui, na maioria das vezes a única fonte de pesquisa para ensinar ciências. Faltam espaços didáticos como laboratórios, materiais didáticos e audiovisuais que possam dar suporte às práticas mais ativas., além de outras infraestruturas relevantes ao processo.
É fato que se os professores que atuam nas series inicias são na maioria formados em Pedagogia, sendo a formação inicial e continuada deste profissional um dos aspectos importantes para a melhoria na qualidade e nas definições de uma pedagogia que atenda aos princípios da alfabetização científica. Garantir que os principais pensadores da educação sejam citados no documento de diretriz curricular nacional não garantem uma mudança na prática, é necessário que o docente que atua nas séries iniciais do Ensino Fundamental tenha garantido o direito à capacitação continuada e assim desenvolver projetos de ensino de ciências com as crianças, de forma a transpor os muros da escola e irem além dos livros didáticos, e através da experimentação e da pesquisa possamos assegurar os primeiros passos das crianças para aprender ciências naturais com foco de conhecer o meio em que vivem e assim desenvolver a consciência de suas próprias ações sobre o ambiente em que estão inseridas. Um saber que possa ser ampliado, refutado, questionado e transformado. As vezes penso: será que deixamos de potencializar uma criança que poderia pesquisar e descobrir a cura de uma doença ainda não encontrada ou que promova uma descoberta que melhore as condições de vida do planeta? Essa ideia parte do princípio que todo cientista já foi uma criança curiosa.
Considerações Finais
O ensino das Ciências naturais nos primeiros anos de escolarização deve naturalizar a ciências, aproximando as crianças da experiência, pois o ambiente é um grande laboratório à disposição da curiosidade. As atividades práticas devem ganhar destaque, não somente por causa da didática pedagógica, mas para a dinamização do ensino dos conceitos científicos dos mais simples aos mais elaborados, fazendo com que, tanto o docente como a criança nesta fase escolar possam vivenciar os conceitos científicos comuns ao meio natural. Porque o meio natural é intrigante cheio de curiosidades e possibilidades de exploração. Assim, não podemos justificar a secundarizarão do ensino da Ciências devido à falta de laboratórios e recursos didáticos, pois estamos imersos e cercados por recursos e fenômenos da natureza. Dar oportunidade as crianças para interpretarem o ambiente em que vivem, certamente é um dos caminhos para garantir a sustentabilidade, pois não se conserva o que não se conhece e valoriza. Porém, fato é que a experiência pela experiência não garantirá o Ensino da Ciência efetivamente eficaz e relevante, pois só através de uma educação comprometida com o conhecimento científico, os experimentos devem garantir um compartilhamento entre o saber comum e o conhecimento cientifico, cooperando para formulação de novos conceitos tendo o professor como mediador deste processo.
Bibliografia
BRASIL Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
CHASSOT, A. Alfabetização Científica: uma possibilidade de inclusão social 2003.
FAZENDA, I. C. A Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro, Efetividade ou ideologia 6º ed. 2011 Edições Loyola São Paulo.
KHUN, S. T. Estruturas das evolução Científicas. Editora Perspectiva 5ª edição 1998.
VIECHENESKI, P. J. CARLETO, M. Por que e para quê ensinar ciências para crianças.
[1] Formada em Pedagogia pela UFMS 2001, aluna do Mestrado em Ensino IFMT - Vinculada a linha de Pesquisa: Formação de Professores e Saberes para Docência. silvia.lima@svc.ifmt.edu.br
[2] Professora do Mestrado em Ensino IFMT PPGEN -Vinculada à linha de Pesquisa: Formação de Professores e Saberes para Docência. Formada em Geografia pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iporá-GO – Doutora em Ciências Pedagógicas pela Universidad Central de Las Villas – Cuba. edione.teixeira@svc.ifmt.edu.br