30/01/2019

Alice no país das Maravilhas

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Alice no país das Maravilhas foi um clássico infantil criado em 1865 e fez com que muitos viajassem nesta obra literária e inclusive nos filmes e/ou desenhos oriundos desta literatura.

            Se observarmos a obra, seja qual mídia for, é um mundo de loucos, o que é reforçada pelas falas do gato

“Nesta direção”, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, ambos são loucos.”

 “Mas eu não ando com loucos”, observou Alice.

“Oh, você não tem como evitar”, disse o Gato, “somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.”

“Como é que sabe que eu sou louca?”, disse Alice.

“Você deve ser”, disse o Gato, “senão não teria vindo pra cá.”

            O país das maravilhas ressalta a loucura de cada um e esta loucura não é mérito somente no pais em que Alice está aliás, no Brasil temos muitas Alices que acreditam ser este o país da obra literária.

            E neste país das maravilhas as Alices querem regulamentar o ensino domiciliar conhecido como "homeschooling" por meio do que muitos políticos fazem uso que é a canetada, ou seja, uma Medida Provisória.

            Cabe ressaltar que esta prática foi considerada ilegal pelo STF (Supremo Tribunal Federal), no final de 2018, sendo refutada pela maioria dos ministros e visto que não era um meio lícito.

            Na fala de nossa Alice, em uma reportagem, ela cita que muitos países fazem uso disso, entretanto não cita quais são estes países, contudo, cabe aqui citarmos alguns para que tenhamos melhor entendimento da situação.

            Alguns países que fazem uso da educação domiciliar são Áustria, Bélgica, Canadá, Austrália, França, Noruega, Nova Zelândia dentre outros de primeiro mundo, ou seja, não fazemos parte deste time. Somos subdesenvolvidos e isso é  a nossa realidade.

            Uma realidade formada por 29% de analfabetos funcionais, dentre estes jovens e adultos de 15 a 64 anos, o que corresponde a 38 milhões de brasileiros segundo o Instituto Paulo Montenegro.

            Ainda o Instituto ressalta que destes 29%, os analfabetos absolutos correspondem a 8% e os 21% encontram-se na forma rudimentar, ou seja, "não localizam informações em calendário, por exemplo".

            De acordo com a nossa Alice, o espaço de socialização destas crianças poderá ser na prática de algum esporte, clube, igreja, vizinhos, etc e qualquer argumento que refute isso não se sustenta, ou seja, ela é uma advogada de formação e pastora evangélica, que como muitos outros profissionais que vivem no país das maravilhas, adoram dar opiniões infundadas sobre educação e contexta professores especialistas, mestres e doutores com experiências ímpares com a realidade escolar.

            O pais das maravilhas não teria como tem o Brasil 50 milhões de brasileiros vivendo na linha da pobreza, de acordo com a Agência Brasil e tampouco 13 milhões que segundo IBGE ainda vivem na pobreza extrema.

            Através de Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela editora Autêntica em 2007, percebemos que a escola é responsável por difundir outros tipos de conhecimento como humanístico, científico, técnico, artístico, etc, e não só conteúdos como nossa Alice afirma que com menos horas, os alunos poderiam aprender mais conteúdos.

             Delors em seu livro Educação: um tesouro a descobrir, publicado pela Cortez em 2001 esclarece que na escola deve começar uma educação para uma cidadania consciente e ativa e Cecim em seu artigo Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar, publicado pela Pátio Revista Pedagógica, em 1999 reforça que a escola "é um espaço no qual a criança além da aprender habilidades escolares, desenvolve e estabelece elos sociais diversos, e ficar à margem desse espaço de vivências pode ser penoso para a criança", ou seja, as opiniões destes especialistas em educação não são opiniões infundadas, são resultados de pesquisas e não opiniões, uma vez que nós graduados em licenciaturas somos formados pelas bases durkheimiana, ou seja, acreditamos no positivismo, no método e não em meras opiniões de pessoas que vivem em seu mundo rosa, alheia a dura e sofrível realidade brasileira.

            Rios esclarece em sua obra Ética e competência, publicado pela Cortez em 1993 que no seu sentido amplo, a educação é definida como processo de transmissão de cultura e a instituição escola tem esta função específica.

            Para a autora, será nesta instituição que acontecerá o espaço " transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar os indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção dessa sociedade".

            Poderíamos pesquisar muito e muito sobre a educação domiciliar e até mesmo citar algumas vantagens, mas no fritar dos ovos, as desvantagens imperam e não foi a toa que o STF julgou como não lícito tal atitude que com apenas uma canetada poderá ser colocada ao chão, baseada na falácia de uma de muitas Alices que se fundamentam em um achismo sem a menor experiência em sala de aula.

            Acorda Alice e volte para o nosso país que ainda não é o país das maravilhas.

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