Ambiguidade
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente– www.wolmer.pro.br
Nossa atual conjuntura política tem levado a sociedade a uma ambiguidade, e esta ambiguidade tem sido usada por esta política como artimanha para executar suas ações e a mesma passar despercebida pela mídia e/ou sociedade.
Esta palavra tem um significado dúbio, ou seja, tem dupla interpretação desde de que a pessoa seja alguém desprovido de discernimento e não entenda a verdadeira intenção do ato.
Por exemplo, todos que conhecem um pouco de história da Segunda Grande Guerra ou até mesmo assistiu a algum filme retratando esta época, sabem como era feita a saudação nazista.
Não existia outra saudação nazista usada como referência do Terceiro Reich e teve em Adolf Hitler a sua personificação, que era uma variação da saudação romana, e no Partido Nazista representava um sinal de lealdade e culto a sua personalidade, assim sendo, quando um governo qualquer aparece em público e as pessoas com ideias extremistas fazem este tipo de saudação, não quer dizer que estas pessoas estavam em oração, mas sim, um ato nazista ou neonazista como é conhecido hoje.
O mesmo acontece quando o governo deixa claro que pessoas simpatizantes a sua ideologia tomarão cloroquina e os da "esquerda" tomarão tubalina, que como desculpa, disse ser um tipo de refrigerante, o que não é verdade, pois o ex-deputado Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade em São Paulo, relatou que a tubalina era uma forma de tortura usada pelos militares na época da ditadura militar. Vale lembrar que muitos políticos se dizem favoráveis a tortura.
Esta tortura é oriunda da época medieval e era conhecida como "tortura d´água" que consistia em "colocar um funil na garganta da vítima e provocar a ingestão de grande quantidade de líquido"[1].
Isso nos remetem ao filme Calígula em que o torturador colocava algo similar a um funil na boca do torturado e despejava uma grande quantidade de vinho, e quando a barrida da pessoa ficava bem cheia, ele o atravessa com uma espada (espero que esta narração do personagem romano seja apenas especulação), entretanto na ditadura, não existiram especulações, existiram tristes fatos que aniquilaram vidas e famílias.
Outro ato que leva a ambiguidade é o de beber leite. Para as pessoas que fazem uso desta prática em lives, é uma maneira de fomentar descaradamente o racismo, entretanto estas mesmas pessoas deixam subentendido que é uma forma de mostrar a importância de se consumir o leite e assim alavancar a agropecuária no Brasil.
Ora, esta bebida é a mais controversa da atualidade. O intuito aqui não é defender o seu consumo e tampouco fazer apologia ao agronegócio. O fato é que segundo Carvalho[2], o leite de vaca é feito para bezerro e o organismo humano não está preparado para o consumo de leite de outros animais, sendo que o ser humano é o único mamífero adulto que consome leite de outras espécies.
O leite pode ser consumido indiretamente em um iogurte, queijo, bolo, dentre outros derivados, e como ressaltado acima, é uma bebida com suas polêmicas a favor e/ou contra, mas convenhamos, se buscarmos o bom entendimento de adultos tomando leite em um copo transparente para todos verem, está explicitamente ligado a um racismo, tanto que "leite é o novo e cremoso símbolo da pureza racial branca na América de Donald Trump"[3].
Pensemos que isso seja apenas uma teoria da conspiração, já que a raça branca corresponde apenas à 43,1% da população brasileira, e se a mesma agir assim ressaltará de certa forma que são os verdadeiros idiotas úteis.
Desta forma vão acontecendo as ambiguidades. Ideologias extremistas que desconsideram o humanismo, fomentando o ódio ao próximo e usando deste recurso para amenizar ou neutralizar toda e qualquer retaliação oriunda da justiça, e como se realmente a justiça fosse justa, já que a mesma em nosso país poucas vezes foi imparcial.
A ambiguidade acontece sempre, seja nas falas dos políticos, seja nas ações do Estado e/ou instituições, entretanto cabe a educação preparar o cidadão para ter o seu discernimento em perceber tais atos e a lutar por seus direitos.
Aprendamos a respeitar as divergências ideológicas, gêneros e até mesmo culturais, mas que não nos calemos diante de um pensamento que tenha como bandeira uma supremacia branca representando o neonazismo, principalmente porque precisamos perceber que não existe sangue preto ou branco, apenas sangues A, B, AB e O com o seu devido fator RH que pode ser positivo ou negativo.
Antes mesmo das ideologias, precisamos ter a ciência de que pertencemos a uma única raça, a raça humana.
[1] Para mais informações vide https://www.leiaja.com/politica/2020/05/21/refrigerante-tubaina-era-jargao-de-tortura-na-ditadura/
[2] Para mais informações vide https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2018/06/leite-faz-bem-ou-faz-mal-o-que-dizem-os-especialistas-cjig3x8f60di301pabyw30hqk.html
[3] Para mais informações vide https://www.vice.com/en_us/article/kbka39/got-milk-neo-nazi-trolls-sure-as-hell-do