18/01/2017

APAE: O Braço da Inclusão Social

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Interessante a nossa sociedade. Todo ano as mesmas especulações, mas o problema é quando essas especulações se transformam realmente em medo das coisas realmente acontecerem, como os casos das APAE's fecharem.

            Primeiramente precisamos entender o que acontecia com as pessoas com alguma Necessidade Especial Educacional (NEE), ou como antes se referiam a pessoas especiais.

            A sociedade na História antiga ou Medieval era a própria algoz destas criaturas, diga-se criaturas porque não eram vistas como seres humanos, e sim, verdadeiras aberrações ou um castigo divino, pois para tal época Deus era impiedoso. Uma excelente obra que ajudará a elucidar as barbáries que a sociedade cometeu com estas pessoas, é a Jannuzzi, intitulado A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI, publicado pela Editora Autores Associados em 2004. Esta obra nos faz ver o quanto fomos omissos e também bárbaros com as crianças com deficiências.

            Para a autora, algumas crianças quando não eram assassinadas de imediato em nome de Deus, eram abandonadas para serem devoradas por animais, pois acreditava-se que o nascimento "desta aberração" seria um mau agouro, um castigo de Deus ou até mesmo um ato de bruxaria que precisaria ser expurgado, que algumas vezes, se dava pela fogueira.

            Apenas para complementar as falas da autora acima, Harari em seu livro Uma breve história da humanidade sapiens, publicado pela L&PM em 2016, esclarece que bebês nascidos sem cabelos para uma certa tribo situada no Paraguai, eram consideradas subnutridas e assassinadas imediatamente.

            Quantas outras crianças não foram abandonadas em lugares repletos de bichos que quando não as devoravam, as mutilavam, aumentando ainda mais o seus fardos perante essa sociedade hipócrita, cujo padrão de normalidade é algo totalmente subjetivo.

            Tais insanidades eram cometidas por todos, inclusive religiosos, pois já se afirmava que o homem é imagem e semelhança de Deus, e alguém com uma deficiência seria inconcebível, afinal de contas, Deus é pura perfeição.

            O problema é que a história antiga e medieval ainda nos persegue, e muitos ainda fazem o uso desta prática, ou abandonando a criança que nasceu com alguma deficiência ou a excluindo do convívio familiar e da sociedade.

            Felizmente, hoje existe uma Associação denominada APAE, ou seja, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais que desde a sua primeira iniciativa em 1954 por uma mãe de uma criança com Síndrome de Down, tem levado esperanças as pessoas com deficiências e a seus familiares, proporcionando uma melhor qualidade de vida e inclusão social.

            Cabe uma ressalva quanto as APAE's que hoje representam o maior movimento social de caráter filantrópico do país na defesa de direitos e prestação de serviços para amenizar as angústias dos familiares que se sentem abandonados e para também ofertar uma melhor qualidade de vida para as pessoas deficientes.

            A articulação das APAEs é conhecida como movimento Apaeano que trabalha com a dualidade dos princípios filosóficos e institucionais. Será trabalhado aqui apenas os princípio filosófico que esclarece que

A Pessoa com Deficiência é um ser humano dotado de sentimentos, emoções e elaborações mentais. Sua deficiência deve ser entendida como uma de suas múltiplas características e não como a única configuração possível de sua individualidade.

A Pessoa com Deficiência é dotada de desejos e sua manifestação deve ser respeitada e naturalmente aceita.

Cada pessoa possui diferentes possibilidades. É preciso que saibamos reconhecê-las para dar a cada uma a abordagem necessária.

A sociedade tem a responsabilidade de comprometer-se nas questões da Pessoa com Deficiência, não devendo atribuir somente às famílias, órgãos públicos e organizações filantrópicas a responsabilidades sobre a questão.

A Pessoa com Deficiência tem seus direitos assegurados

            Isto implica em dizer que no quesito ser humano, são pessoas normais com sonhos, frustrações, sofrimentos, alegrias, ou seja, são "gente como a gente".

            O outro princípio pode ter algumas customizações, por se tratar de algo institucional, mas em resumo, ele visará o desenvolvimento do potencial da pessoal com deficiência, para sua autonomia, ou seja manifestação de sua individualidade, ensibilizar a sociedade para a causa da pessoa com deficiência com o intuito de reduzir preconceitos e ampliar a consciência quanto ao papel e posicionamento além de assegurar os direitos das pessoas com deficiência.

            Se analisarmos, é um lindo trabalho que as APAEs fazem por todo Brasil, mas o problema está nas especulações de que elas fecharão o que é endossado pela falta de interesse de outras instituições tanto públicas quanto privadas em ajudar esta associação.

            Argumentos para não ajudar são vários, inclusive defendidos por pessoas ligadas a educação de com status social, mas, ela apenas vê o lado econômico das prefeituras que vêem como um gasto e não um dinheiro que proporcionará uma qualidade de vida ao portador de deficiência um conforto ao pai que não teria como financiar um tratamento de qualidade para seu filho.

            Como dito por Boaventura de Souza Santos " temos o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferiorize; e temos o direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize".

            Faz-se mister unirmos esforços para não deixarmos que nenhuma instituição feche suas portas e deixe a pessoa com deficiência a margem da sociedade.

            Que os gestores das APAEs consigam parcerias com prefeituras e demais instituições públicas e/ou privadas para que este lindo trabalho social tenha sua continuidade, pois como dizia Einstein " O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.", então, façamos o bem e que ele se perpetue nas atividades das APAEs.

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