27/04/2016

Apartheid da Educação

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

            Assim tem sido a nossa educação. Medidas absurdas que surtem efeitos aqui, acolá, mas nada que se possa generalizar como procedimento eficaz.

            Infelizmente, absurdos e idiotices são comuns na área da Educação e são ditas ou feitas por pessoas pseudo-educadores e profissionais ineptos, que encontram-se em tal cargo por uma simples manobra política.

            Conterei-me apenas na última notícia que li sem o intuito de caminhar por uma seara política, mas o que é educação sem o viés político? Não veja a política aqui como essa coisa imunda e corrupta que temos em nosso pais, mas apenas como uma necessidade para nossa sociedade, como diz Rios em seu livro Ética e Competência publicado pela editora Cortez em que a autora aduz não haver vida social que não seja política.

            Seguindo este pensamento, percebemos que não temos como fugir da vida polis. A educação pública deveria  levar o aluno a compreensão da totalidade social onde o educando está inserido, mas como fazer isso sem permear no âmbito político?

            Romão discorre em seu livro Pedagogia Dialógica, publicado pela editora Cortez em 2002 o aprender em três formas que são aprender a conhecer que se baseia no processo da construção do conhecimento; aprender a fazer não se limita apenas no fazer em si, mas em perceber e/ou construir novos modos para o feito e o autor finaliza como o aprender a conviver. Este aprender apresenta um papel fundamental na sociedade, pois ele não se limita apenas a tipos de convivência, mas permeia pela busca de conhecimentos “das diferenças étnicas, econômicas, políticas, sociais, religiosas, culturais, de gênero etc”, ou seja, nós educadores somos profissionais que necessitamos trabalhar a política em nossos alunos.

            No livro Filosofia da Educação, publicado pela editora Moderna em 1996 da autora Aranha, é ressaltado que o professor precisa desabrochar na criança o amor pela leitura, a paixão pelo saber, a ética do trabalho e o interesse pela política.

            Estes são papeis também de uma educação pública que estão aos poucos sendo ignorados, facilitando assim a manipulação por parte dos políticos que representam a escória da sociedade.

            Esta mesma escória esquece que a formação de um educador exige três aspectos importantes de acordo com Aranha (1996) que são: qualificação, formação pedagógica e formação ética e política. Na qualificação o educador deve buscar o conhecimento científico indispensável para o ensino de um determinado conteúdo, na formação pedagógica  o ato de ensinar supera os níveis de senso comum e é nesta formação que o educador conseguirá sistematizar o processo ensino-aprendizagem. A formação ética e política se baseará no educar através de valores, visando um protagonismo dos educandos, consequentemente um mundo melhor, entretanto, na contra-mão surge o absurdo. Como se não fosse bastante a opressão física dos educadores e o roubo de sua dignidade

            Certa vez, em conversa com uma educadora, ouvi a seguinte fala: “se o aluno não aprende, a culpa é do professor”. Será que devemos atribuir esta falta do aprender ao professor que agora se encontra amarrado por uma lei que o inibe em induzir alunos a assuntos políticos e ideológicos em sala de aula, sob a pena de demissão?

            Será que irão acabar de vez com as disciplinas de sociologia e filosofia que fazem nossos alunos seres mais questionadores? Será que as disciplinas de História e Geografia passarão por uma revisão e voltaremos a censura em que tais disciplinas para serem lecionadas tinham acompanhamento de representantes da DOPS (Departamento de Ordem Política e Social)? Lembrem-se, o DOPS tinha o objetivo de controlar e reprimir movimentos contrários ao regime do poder, ou seja, não se podia fazer pensar.

            Aos poucos, a educação está sendo enterrada e formalizando a sua função social que está na idiotização de seus alunos para o aumento da manipulação desta elite.

            Talvez estas palavras sejam duras, entretanto mais duras serão as consequências a nossos educandos de tal insanidade. Mais uma vez, a educação leva segregação. Estamos presenciando um apartheid na educação, que aos poucos vai se tornando explícito.

            A fonte inspiradora deste texto está em http://educacao.uol.com.br/noticias/2016/04/26/deputados-de-al-aprovam-lei-que-pune-professor-que-opinar-em-sala-de-aula.htm?cmpid=fb-uol

            Chegará o tempo em que a fala de Mandela não terá mais sentido. De acordo com Mandela, “educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal. É através dela que a filha de um camponês se torna médica, que o filho de um mineiro pode chegar a chefe de mina, que um filho de trabalhadores rurais pode chegar a presidente de uma grande nação”. A realidade continuará com a filha de um camponês sendo apenas uma camponesa, o filho de um mineiro sendo apenas um simples mineiro e o filho de um trabalhador rural se não quiser ser um trabalhador rural, terá que se contentar com um subemprego levando-o a um trabalho escravo em uma fazenda qualquer de um destes políticos, então, o nosso educando perderá a perspectiva de uma vida melhor e o brilho no olhar.

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