Aprendendo Ibrahim Traoré

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

Ibrahim Traoré, líder de Burquina Faso pode ser visto como um exemplo para nós brasileiros, uma vez que ele tem em sua ideologia o contexto de uma abordagem mais soberana e anti-imperialista.

Observe a história de seu país que era uma colônia francesa e que se tornou independente em 1960, mas que mesmo independente continuou tendo a França como exploradora e algoz, apesar de nova bandeira, novo hino, novo nome, a França continuava controlando a economia, a política e as forças armadas.

O fato é que com a independência, nos anos de 1983 a 1987 o novo governo que era Sankara, se preocupou verdadeiramente com seu povo, distribuindo terras aos camponeses, e também elevou a taxa de alfabetização de 13% para 73%, tudo isso em apenas 4 anos[1].

Ele estendeu seu trabalho também na área da saúde, vacinando mais de 2,5 milhões de crianças contra meningite, febre amarela e sarampo, mas um povo educado é perigoso, assim, a França apoiou um golpe de Estado colocando na presidência o Blaise Compaoré que presidiu o país até 2014 e interrompeu as reformas para erradicar as mazelas neonacionalistas no pais do Sahel[2], além de assassinar 12 companheiros, inclusive Sankara.

O nome do país não foi mudado à toa, “a Terra dos Homens Íntegros” manteve sua integridade pós independência e principalmente com Ibrahim Traoré que de acordo com o Banco Mundial, somente nos últimos 12 meses, mais de 700 mil burquinenses deixaram a extrema pobreza.

O interessante é que Ibrahim Traoré ao receber um ultimato de Donald Trump exigindo que 60% de todo petróleo recém descoberto e da produção de ouro deveriam ser transferidos para um consórcio de empresas americanas. Em troca, seria oferecido estabilidade, tecnologia e proteção contra interferências externas; e a resposta com firmeza foi: “Burquina Faso não está à venda”[3].

A ideia aqui não é exaltar a personalidade forte deste líder, mas mostrar o que é uma visão patriota, já que para nós, o patriota é aquele cidadão que é contra a própria pátria, é o militar do próprio país pedir intervenção estratégica de um país imperialista, o patriota também é representado pelo servidor público que é a favor da privatização, o pobre ser contra a taxação de ricos, é aquele cidadão que no dia 07 de setembro, dia que comemoramos nossa independência, vai para avenida pessoas usando a bandeira estadunidense.

Veja que interessante, acessando um texto de Leonardo Attuch, de Kunming, Yunnan, China, foi constatado uma guerra cognitiva estadunidense que visa “a manipulação do discurso, do uso massivo de propaganda, da cooptação das elites e da criação de uma mentalidade colonizada”, e é justamente isso que tem se demonstrado em nossa sociedade.

Narrativas totalmente imbecilizadas como presidente da república e ministros do STF terem sido substituídos por clones[4] e a ideia colonizadora é tão enfática que temos políticos pagos com dinheiro público fazendo campanha a favor de uma interdição estadunidense, ignorando por completo nossa Constituição e soberania.

Ibrahim Traoré conseguiu despertar a consciência de seu povo. Ele disse NÃO aos Estados Unidos e o povo disse SIM a ele, e vale observar que uma de suas falas é “não negociamos a liberdade” e os “patriotas brasileiros” querem que o governo negocie nossa dignidade e a nossa soberania.

Enfim, um país com 65 anos de independência tendo muito a ensinar em termos de patriotismo a nós brasileiros que temos mais de 200 anos, mas com uma mentalidade colonizada e imperialista.