15/06/2020

Argumentum ad Hominem

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente– www.wolmer.pro.br

 

            O Covid-19 veio para nos mostrar uma lição que não foi bem assimilada por alguns governos, e esta lição tem o gosto de fel, no qual este amargume é destilado por meio da verbosidade néscia que agudiza os problemas sociais.

            O Covid-19 descortinou a dura realidade, "uma gripezinha" que até o dia de hoje, já dizimou mais de 425 mil vidas em todo mundo apesar da pressão política e manipulação de números no Brasil, foram mais de 42 mil mortes e que tendem a aumentar devido a atos inconsequentes de manifestações como invasões a hospitais de campanha, dentre outras imbecilidades.

            O governo fala que são números inflados, talvez seja por não ter perguntado a família que em cinco dias perdeu quatro membros[1], mas a realidade é ainda mais dura, são vidas que se perderam por omissão, fake news e até descrença da real situação, entretanto, o fato é que querendo ou não, o Covid-19 nos mostrou também o quanto somos frágeis e como realmente a vida se resume em um sopro.

            De tudo isso, a única coisa inflada na atual conjuntura são os egos que sobrepõe vidas, que mutilam sonhos e destroem esperanças.

            Para alguns, tais atos representam loucura, mas na verdade, não passa de uma triste perversidade.

            Um louco não venera um torturador, não é a favor da tortura e tampouco de assassinatos a ponto de afirmar que "o grande erro foi torturar e não matar".

            A perversidade tem sido a marca de nossa política já que antes do Covid-19, trabalhadores perderam seus direitos, aposentadoria ficou para os poucos que sobreviverem, política ambiental está sofrível com vista grossa para as queimadas e uso de agrotóxicos (239 autorizações no Brasil em um ano) superior a União Européia em 8 anos, Educação e pesquisa passaram a ser tratadas como gastos tendo cortes excessivos, e em especial as pesquisas foram desacreditadas através de Argumentum ad hominem, e a democracia "...".

            O argumentum ad hominem, que é o mesmo que argumento contra a pessoa e não contra ao que está sendo falado por ela, se baseia em uma falácia, termo este fundamentado no sofismo que usa raciocínio capcioso ou de silogismo sofístico de forma a defender algo falso e confundir quem está falando.

            Assim sendo, o argumentum ad hominem segundo Dr. Schmaelter[2] é um tipo de falácia de relevância que aparece de três formas sendo elas "ad hominem ofensivo, ad hominem circunstancial e tu quoque (“você também”, em latim). "

            No caso da pessoa que fala, ao invés do outro refutar seu argumento com sua outra linha de pensamento enfrentando-o no campo de batalha das ideias e argumentos, este prefere atacá-lo diretamente, colocando em dúvida seu caráter e invalidando sua verdade.

            O Dr. Schmaelter vai além quando ressalta que as questões psicológicas são as realmente consideradas, já que o indivíduo que pratica a fala, tem nela, a confiança afetada.

            Observe então que o argumentum ad hominem não é prática de um louco, e sim de um perverso estrategista racional, que não mede esforços para satisfazer seu ego.

            É um perverso que vive em um mundo paralelo, ignorando a realidade dos fatos, instigando e destilando ódio bem como colocando em dúvida a ciência.

            Realmente o Covid-19 nos ensinou e mostrou muita coisa, principalmente que a politicagem sobrepõe o bem estar das pessoas e o que vale é manipular dados para angariar simpatizantes e reforçar o seu gado de manobra.

            Assim sendo, esta pandemia serviu para preparar os professores quanto ao trabalho que deverá ser feito quando voltarmos a realidade que será dura e triste.

            Caberá a nós professores salientarmos aos nossos alunos a diferença entre realidade paralela e realidade imaginada.

            A primeira é uma realidade mentirosa, enganosa e que existe apenas na cabeça dos perversos, que ignoram os fatos e fazem ecoar suas falas imbecis, e a segunda, é bem explicada por HARARI em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, quando esclarece que não se trata de uma mentira, já que se trata de uma realidade que todos acreditam e enquanto esta crença persistir, ela exercerá forte influência no mundo, e assim sendo, nas falas do autor acima, os mitos nesta realidade, podem mudar muito depressa, ou seja, estes mitos perdem seu valor e a população deixa de acreditar neles.

            Que nós professores possamos trabalhar em nossos alunos o poder do diálogo para que estes fujam ao argumentum ad hominem e que se um dia tiverem que confrontar alguém, que seja pelo verdadeiro diálogo, com respaldo científico e respeito ás diferenças de opiniões, e que estes alunos não tenham medo de mudar de ideia, pois as crenças não precisam ser eternas pois como dizia Marshall Berman, "tudo que é sólido se desmancha no ar".

 

[1] Para mais informações vide https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/05/2020/em-5-dias-coronavirus-matou-quatro-pessoas-da-mesma-familia

[2] Para mais informações vide https://www.infoescola.com/filosofia/argumentum-ad-hominem/

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