As causas da evasão e a gestão da permanência
*Carolina Fraga
Num contexto em que as Instituições de Educação Superior (IES) têm procurado alternativas para lidar com o desajuste financeiro causado pelas mudanças nos programas federais de financiamento, é importante que a atenção dos gestores se volte de forma especial para a permanência dos alunos. É o que afirma o professor Wille Muriel, diretor executivo da Carta Consulta, empresa de assessoria e capacitação para o setor. Muriel é uma das referências brasileiras quando o assunto é permanência de alunos. Desde 2008 ele tem desenvolvido trabalhos de estudos e práticas em universidades americanas e brasileiras sobre o tema. Um dos frutos deste trabalho é um artigo que assinala as principais causas da evasão nas universidades brasileiras. No trabalho, o professor indica os caminhos para a implantação de uma equipe de gestão da permanência de alunos e aponta as estratégias a serem adotadas pelas Instituições que desejam realizar um programa proativo nesta área. Nesta entrevista, ele conta um pouco sobre a importância do desenvolvimento destas ações para o sucesso do projeto educacional das universidades.
De que forma o desenvolvimento de programas de relacionamento com alunos pode auxiliar no dia a dia das Instituições de Ensino Superior?
Quando você conhece mais o aluno, suas chances de evitar a evasão são bem maiores. Por exemplo, quando percebo um comportamento típico de um aluno que vai evadir é possível aplicar um conjunto de ações voltadas para evitar a evasão. Quando sei o que ele mais valoriza na Instituição tenho como, em alguma medida, avaliar o grau de envolvimento do aluno com a IES ou com o curso. Isso é fundamental para manter as receitas com mensalidades e envolve-los mais em avaliações como o ENADE.
Seu artigo aponta passos para a implantação de uma equipe de gestão da permanência. Quais são os resultados dos programas desenvolvidos através desta metodologia?
A metodologia que estamos utilizando tem dado resultados expressivos no combate à evasão. Pode ser aplicada em qualquer Instituição, contudo, cada caso apresentou contornos específicos e tivemos que fazer os ajustes necessários para superar o desafio. Ter uma equipe bem treinada para estudar o fenômeno da evasão na Instituição e planejar, organizar, executar e avaliar os resultados de ações voltadas para evitar a evasão é fundamental para ter sucesso nos programas de permanência. O foco deve ser na permanência e não na evasão, pois evasão é fato passado, ou seja, podemos apenas aprender com ela. A permanência ocorre por meio de ações proativas que indicam perfis de alunos que vão evadir. Mas essa equipe deve ser bem treinada, saber lidar com tudo o que envolve a gestão da permanência e atuar sob regência de um planejamento anual bem elaborado com cronogramas de ações que antecipam a evasão. Por outro lado, deve saber atender e buscar meios para a resolução de casos em que o aluno diz que vai evadir. É como se ele pedisse socorro.
O relacionamento com os alunos começa antes da matrícula. Existe uma orientação geral sobre como as IES devem captar alunos em um contexto tão complexo como o atual?
Uma orientação relevante seria a de investir em marketing digital. Para isso precisamos compreender a nova sistemática de captação de alunos. Mais do que planejar e realizar uma campanha de aquisição de novos alunos, as IES devem investir em gerar tráfego para suas páginas.
Nesse novo contexto, as IES devem investir num site arrebatador, tanto no design quanto em conteúdos relevantes para o visitante. Mas, como fazer isso? Devemos entregar para os candidatos conteúdos em vídeo (principalmente), textos, e-books, áudios, fotos, enfim, um conjunto de informações que fazem sentido para eles. Esses conteúdos devem ser interessantes o suficiente para que os visitantes sintam vontade de ir e passar algum tempo no site da IES. A ordem agora é: ser interessante para eles e aumentar o tráfego.
A partir do tráfego devemos investir na aquisição de listas com informações dos interessados. Por exemplo, para baixar um e-book ou assistir um vídeo, o candidato deve informar o seu nome, e-mail e indicar uma rede social que ele costuma frequentar. Com essas informações podemos enviar novos conteúdos ainda mais relevantes. Quando você faz isso é bem provável que o candidato confie mais na sua IES e que, por meio de ações continuadas na promoção de conteúdos relevantes para eles, a IES crie um capital social, ou seja, um engajamento a partir do tráfego no site.
É na terceira etapa que indicamos para que ele faça a sua inscrição no processo seletivo. Se pularmos as duas etapas anteriores realizaremos campanhas comuns, mais caras e com resultados insatisfatórios.
Quem tiver interesse em ler o artigo e compartilhá-lo na Instituição pode acessa-lo gratuitamente?
O objetivo dos nossos estudos é compartilhar esse conhecimento com as universidades. Por isso, o artigo está disponível para download gratuito na internet. Os interessados podem entrar em contato comigo através do e-mail w@cartaconsulta.com.br Estamos criando uma rede de profissionais interessados no tema. Além disso, temos desenvolvido palestras por todo o país. Estas são oportunidades muito ricas para a troca de experiências sobre essas práticas, que estão só começando a ser implantadas no Brasil.