Brejo da Cruz.
Dênio Mágno da Cunha*
Ontem, (18.06.2016) estive em Pedro Leopoldo participando da aula do Prof. Giroletti. Um tema e tanto para nossas conversas, amigos professores e alunos. Mas não é este o tema hoje.
No material de estudo distribuído por ele, estava o texto da entrevista do economista americano Robert Gordon, à revista Veja (15.06.2016). Nela há uma afirmação que considero polêmica, instigadora e provocativa a nós que vivemos neste tempo (atual e sempre moderno): “Nas cinco décadas entre 1920 e 1970, o crescimento da produtividade devido à inovação foi quase três vezes maior do que no período seguinte, o nosso período”. Ops! Como assim?
Ele explica: “Houve uma década, entre 1994 e 2004, em que a revolução digital deu sinais de que entregaria a sua promessa. Mas depois disso os ganhos de produtividade caíram novamente. Então é preciso concluir que as tecnologias que moldaram nosso mundo entre 1920 e 1970 tiveram um impacto transformador mais profundo na economia e em nossos padrões de vida do que o computador e as tecnologias de informação que definem nossa época”.
Paulada na cabeça! É preciso ler o que Robert Gordon está falando porque ele estuda esse tema a meio século e só agora tomei conhecimento desse possível fato. Professor Giroletti, explica isso.
Mas aí eu volto o olhar para as nossas salas de aula (não poderia ser diferente).
Não vivi como professor nas décadas de 1920 e 1970, mas já li muito sobre e posso dizer que me parece ser um tempo mágico e produtivo. O mundo era outro. Com o olhar distante do tempo é possível perceber uma grande diferença em termos de produtividade – balizador do trabalho do professor Gordon. Ainda mais se considerarmos que entre 1920 e 1970 vivemos pressionados por construir um novo mundo, destruído pelas duas guerras mundiais e por outras tantas que nos aconteceram como Humanidade.
No Brasil, particularmente, vivemos a Crise de 1929, a Revolução de 1930, o Estado Novo de 1937, o desenvolvimento Getulista e de Juscelino, o golpe de 1964, a revolta de 1968 e a guerra que se seguiu. Isto é, anos de ebulição e transformações. Na continuação, anos mornos, de crise e normalização democrática. “Nada de novo no front”.
E nas salas de aula esse clima foi refletido. Ficamos mais tecnicistas e menos políticos. Não queremos transformar nada, a não ser aplicar bem as técnicas pedagógicas e os novos (velhos conceitos reformatados) que a cada ano parecem desejar “deixar tudo como está, para ver como é que fica”. Patinamos, presos no chão escorregadio da pseudo inovação de cada dia. Alunos e professores patinam.
Mas patinamos porque? Porque estamos ansiosos por saber aonde a evolução tecnológica digital nos levará e totalmente despreocupados com a pergunta: como usar essa tecnologia de forma produtiva? É como se estivéssemos fugindo do desafio de hoje, escapando para o futuro que só a Deus pertence. De fato, para evitar problemas, para evitar viver o agora, nada melhor do que o futuro que não existe.
Calma lá!! Nem tanto céu, nem tanto mar. Temos caminhado, temos produzido, mas muito menos do que seria possível produzir (sempre penso assim). Os semestres se sucedem, as histórias são esquecidas, as experiências desrespeitadas pela sua descontinuidade, o que fizemos ontem já era. Não amadurecemos nossos processos, não damos a eles condições de amadurecimento, porque o nosso tempo é curto e o que importa é o futuro. Tenho essa sensação. A a ânsia pela novidade e inovação (a qualquer preço) que vejo a cada semestre me fazem crer que não é apenas uma sensação, é real. O presente morreu, o passado não existe e o futuro ainda não chegou. Portanto, estamos patinando no tempo perdido.
Angustia.
Proposta de solução, se concordar comigo. Primeiro: muita calma nesta hora. Segundo: resgatemos o já feito, não joguemos fora as experiências do passado sem refletirmos sobre elas. Terceiro: pisemos no freio da aceitação daquilo que é novo - antes de adotarmos qualquer novidade perguntemo-nos sobre a sua real importância e sobre a sua capacidade de elevar a nossa produtividade. Isto é, vale a pena mudar? ou é melhor aprimorar e aprofundar aquilo que já estamos fazendo? Isso nos ajudará a frear a corrida na estrada do futuro.
Outro ponto muito importante. Na educação, o que significa produtividade? Gordon analisa a economia e não a educação. Não nos ajuda o meio século de estudo dele. Alguém sabe me responder? Existiria produtividade na educação? Pessoalmente, acho que sim. Desde o básico, número de alunos capacitados com qualidade (putz! mais uma encrenca) até o número de trabalhos produzidos e aplicados ao desenvolvimento humano (outra encrenca). Passando pelo número de egressos que se destacaram no serviço ao desenvolvimento da sociedade/comunidade em que atuam. Temos muito que caminhar e discutir.
De qualquer modo que entendamos, não tenho certeza de nada e uso a expressão Socrática para terminar essa coluna: Só sei que nada sei!!! Mas sei que não estamos fazendo as coisas das educação de forma produtiva. É preciso pensar, pensar e então agir para quebrar o impasse do tempo. Claro, se concordarem comigo.
Até a próxima!
PS: além da entrevista à VEJA, segue outro link para ler sobre o que pensa Robert Gordon: http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/o-adversario-do-otimismo-digital.html
Brejo da Cruz é título de canção de Chico Buarque e município brasileiro situado na Paraíba (PB). Link para a música: https://www.youtube.com/watch?v=XZm5EYCR2PA
* Professor em Carta Consulta e Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba. Adepto ao uso da tecnologia de forma produtiva.