Capacidade Funcional, Obesidade e Histórico de Doenças Crônicas Entre Estudantes do Ensino Médio de São Paulo
Capacidade funcional, obesidade e histórico de doenças crônicas entre estudantes do Ensino Médio de São Paulo
Alexandre Nogueira, Elias Silva, Regina Xavier, Ana Carolina Siqueira Zuntini
Capacidade funcional, obesidade e histórico de doenças crônicas entre estudantes do Ensino Médio de São Paulo
NOGUEIRA, A.1; SILVA, E. 1; XAVIER, R. 1; ZUNTINI, A.C.S2.
1 Discentes do Curso de Educação Física – UniÍtalo
2 Orientadora, Bacharel em Fisioterapia pelo UniÍtalo, Especialista em Anatomia Macroscópica pelo Centro Universitário São Camilo, Mestranda em Farmacologia e Fisiologia pela UNIFESP, Docente do Curso de Educação Física do UniÍtalo
Introdução: A capacidade funcional refere-se à autonomia do indivíduo para a realização de tarefas que fazem parte do cotidiano e lhe asseguram a possibilidade de viver sozinho em contexto domiciliário. Algumas anormalidades da massa corporal, incluindo tanto o aumento quanto a perda, estão atraindo mais atenção da medicina e da sociedade em geral. Especialmente, o crescimento da obesidade entre adolescentes e a elevadíssima taxa de mortes por doenças crônico-degenerativas têm despertado interesse de pesquisadores da saúde.
Objetivo: Avaliar a Capacidade Funcional, o IMC e o histórico familiar para doenças crônico-degenerativas de alunos do ensino médio.
Metodologia: Os adolescentes foram avaliados quanto à capacidade funcional, classificados quanto ao IMC e responderam um questionário para identificação do histórico familiar.
Resultados: Observou-se apenas 4% de alunos com sobrepeso/obesidade, entretanto a maioria com histórico de obesidade e doenças crônicas na família.
Palavras-chave: Capacidade funcional; Obesidade; Professor de educação física.
ABSTRACT
Introduction: The FC refers to the autonomy of the individual to perform tasks that are part of the daily life and ensure the possibility of living alone in a home context. Some body mass abnormalities, including both increase and loss, are attracting more attention from medicine and society in general.
Objective: To evaluate the functional capacity of high school students in two public schools in São Paulo.
Methodology: During the test, the evaluator, when receiving the student's information, takes the measurement of the blood pressure and pulse rate. Then the student begins the Walking carrying out the shuttle Walking test that basically is the student Walkinging in a distance of ten meters for six minutes.
Results: Only 4% of overweight / obese students were observed, but the majority had a history of obesity and chronic diseases in the family.
Keywords: Functional capacity; Obesity; Physical education teacher.
INTRODUÇÃO
Capacidade Funcional (CF) pode ser definida como aptidão do indivíduo em desempenhar suas atividades da vida diária, em realizar atividades instrumentais sem disfunção ou limitações. A CF das pessoas é um marcador de qualidade de vida. Esta capacidade permite medir o quanto o indivíduo pode realizar suas atividades diárias ou o quanto perdeu esta habilidade (KAARLOLA et al, 2006/2008).
A CF refere-se à autonomia do indivíduo para a realização de tarefas que fazem parte do cotidiano e lhe asseguram a possibilidade de viver sozinho em contexto domiciliário (LAUPLAND et al, 2006).
Esta capacidade pode ser reduzida ou completamente perdida em decorrência de doença crônica ou de algum processo patológico agudo de natureza médica, traumática ou cirúrgica (QUINNELL et al, 2006).
Algumas anormalidades da massa corporal, incluindo tanto o aumento quanto a perda, estão atraindo mais atenção da medicina e da sociedade em geral. Inúmeros fatores afetam a massa corporal durante a vida de uma pessoa, e há muito a ser aprendido sobre as interrelações entre os fatores endógenos e exógenos. Os clínicos geralmente usam o peso corporal ou, preferivelmente, o índice de massa corporal (IMC; peso [kg]/altura[m²]) para diagnosticar se o paciente está “acima” ou “abaixo” do peso. Estudos em gêmeos e em outros parentes documentam que o IMC possui um forte componente genético sobre toda a variação do tamanho corporal. A classificação para identificar os alunos “obesos” foi tirada da “Curvas de Crescimento da Organização Mundial da Saúde – OMS” essa tabela dará as informações de qual alunos estará acima do peso, no peso ideal ou abaixo do peso (REED, 2005).
Em um sentido amplo a obesidade é determinada pela genética, mas sofre uma forte influência da disponibilidade de comidas palatáveis e do estilo de vida sedentário. O filho de dois pais obesos tem aproximadamente 80% de chance de tornar-se obeso, enquanto filhos de pais com peso normal possuem apenas 15% de risco. Entretanto, a correlação entre o IMC dos pais e dos filhos apresenta um amplo espectro de valores, sugerindo tanto uma herança poligênica para obesidade como uma grande contribuição dos mecanismos metabólicos. Os mecanismos causais precisos continuam desconhecidos, mas muitos loci gênicos estão sendo mapeados. O sistema endócrino possui um importante papel na regulação do peso corporal, e o hormônio leptina é fundamental, pois interage tanto com o tecido adiposo quanto com o hipotálamo (PYERITZ, 2005).
Complicações médicas da obesidade grave envolvem morte súbita, apneia obstrutiva do sono, síndrome de Pickwickian (hipoventilação durante o dia), sonolência, excesso de glóbulos vermelhos e Cor Pulmonale, insuficiência cardíaca, síndrome nefrótica/trombose da veia renal, limitações da mobilidade nas atividades diárias e artrite degenerativa (PYERITZ, 2005).
Dessa forma, o propósito da presente pesquisa foi avaliar a Capacidade Funcional, o IMC e o histórico familiar para doenças crônico-degenerativas de alunos do ensino médio de duas escolas públicas de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em duas escolas estaduais localizadas em São Paulo. Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos responsáveis, foram avaliados quinze alunos de uma escola e doze, da outra, totalizando em vinte e seis (26) alunos variando entre meninos (62%) e meninas (38%).
Os alunos voluntários permaneceram no centro da quadra e ouviram o conceito do trabalho e como seria aplicado o teste. Com base nos preceitos da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi aplicado um questionário de autoria própria do grupo com perguntas que averiguassem o histórico familiar do aluno em relação a doenças metabólicas, por exemplo: diabetes, hipertensão, doenças cardíacas.
Na sequência, o avaliador ao receber as informações do aluno, verificava a sua pressão arterial e sua frequência cardíaca. Em seguida o aluno iniciava a caminhada realizando o Shuttle Walking Test para avaliar a capacidade funcional.
Após o aluno concluir a caminhada de seis minutos, o avaliador encerrava o teste e calculava a distância percorrida, verificando, novamente pressão arterial e frequência cardíaca. Esse mesmo teste foi aplicado nas duas escolas e com o mesmo avaliador para que não houvesse diferença nos resultados. Medidas como massa corporal e estatura foram realizadas para cálculo do IMC, com consequente classificação do estado nutricional orientada pelas curvas de crescimento estabelecidas para a população brasileira.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na análise em relação às curvas de crescimento, foi possível avaliar cada aluno. 70% das meninas estavam com o peso adequado para a idade, 20% com magreza e 10% com obesidade. Os meninos avaliados obtiveram o resultado de que 76% estavam com o peso adequado, 12% com sobrepeso e 12% estão obesidade (tabelas 1 e 2).
Tabela 1. Dados antropométricos - meninas |
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|
IDADE (anos) |
MASSA (Kg) |
ESTATURA (m) |
IMC |
ESTADO NUTRICIONAL |
||||||||||||
1 |
16 |
52 |
1,75 |
16,98 |
magreza |
||||||||||||
2 |
16 |
46,8 |
1,58 |
18,75 |
eutrofia |
||||||||||||
3 |
16 |
57 |
1,6 |
22,27 |
eutrofia |
||||||||||||
4 |
16 |
50 |
1,61 |
19,29 |
eutrofia |
||||||||||||
5 |
17 |
56 |
1,58 |
22,43 |
magreza |
||||||||||||
6 |
17 |
54 |
1,57 |
21,91 |
eutrofia |
||||||||||||
7 |
16 |
55 |
1,62 |
20,96 |
eutrofia |
||||||||||||
8 |
16 |
78 |
1,58 |
31,24 |
obesidade |
||||||||||||
9 |
15 |
58 |
1,65 |
21,30 |
eutrofia |
||||||||||||
10 |
16 |
55 |
1,62 |
20,96 |
eutrofia |
||||||||||||
MÉDIA |
16,10 |
56,18 |
1,62 |
21,61 |
|
||||||||||||
ERRO PADRÃO |
0,18 |
2,65 |
0,02 |
1,20 |
|
||||||||||||
|
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Tabela 2. Dados antropométricos - meninos |
|||||||||||||||||
|
IDADE (anos) |
MASSA (Kg) |
ESTATURA (m) |
IMC |
ESTADO NUTRICIONAL |
||||||||||||
1 |
17 |
70 |
1,75 |
22,86 |
eutrofia |
||||||||||||
2 |
16 |
90 |
1,78 |
28,41 |
sobrepeso |
||||||||||||
3 |
16 |
98 |
1,75 |
32,00 |
obesidade |
||||||||||||
4 |
18 |
80 |
1,8 |
24,69 |
eutrofia |
||||||||||||
5 |
16 |
55 |
1,63 |
20,70 |
eutrofia |
||||||||||||
6 |
16 |
75 |
1,75 |
24,49 |
eutrofia |
||||||||||||
7 |
15 |
52 |
1,61 |
20,06 |
eutrofia |
||||||||||||
8 |
15 |
50 |
1,6 |
19,53 |
eutrofia |
||||||||||||
9 |
17 |
80 |
1,8 |
24,69 |
eutrofia |
||||||||||||
10 |
16 |
74 |
1,73 |
24,73 |
eutrofia |
||||||||||||
11 |
15 |
70 |
1,73 |
23,39 |
eutrofia |
||||||||||||
12 |
15 |
89 |
1,62 |
33,91 |
obesidade |
||||||||||||
13 |
17 |
72 |
1,75 |
23,51 |
eutrofia |
||||||||||||
14 |
16 |
85 |
1,74 |
28,08 |
sobrepeso |
||||||||||||
15 |
18 |
75 |
1,8 |
23,15 |
eutrofia |
||||||||||||
16 |
16 |
57 |
1,73 |
19,05 |
eutrofia |
||||||||||||
MÉDIA |
16,19 |
73,25 |
1,72 |
24,58 |
|
||||||||||||
ERRO PADRÃO |
0,25 |
3,53 |
0,02 |
1,06 |
|
||||||||||||
As tabelas 3 e 4 mostram que as meninas apresentaram maior variação da frequência cardíaca e também percorreram as maiores distâncias no Shuttle Walkinging Test (SWT), enquanto os meninos tiveram os maiores valores da pressão arterial, tanto sistólica (PAS) quanto diastólica (PAD).
Tabela 3. Avaliação física - meninas |
|||||||
|
FC INICIAL |
FC FINAL |
PAS INICIAL |
PAS FINAL |
PAD INICIAL |
PAD FINAL |
SWT |
1 |
69 |
78 |
160 |
161 |
82 |
90 |
380,38 |
2 |
76 |
76 |
92 |
94 |
65 |
66 |
429,4 |
3 |
75 |
73 |
108 |
120 |
81 |
79 |
370 |
4 |
82 |
80 |
122 |
135 |
84 |
81 |
475,3 |
5 |
87 |
97 |
123 |
127 |
83 |
91 |
450 |
6 |
66 |
77 |
112 |
113 |
88 |
73 |
305 |
7 |
78 |
85 |
101 |
101 |
70 |
67 |
430 |
8 |
97 |
97 |
142 |
123 |
100 |
79 |
299,25 |
9 |
80 |
90 |
95 |
99 |
66 |
64 |
390 |
10 |
89 |
100 |
123 |
141 |
82 |
103 |
485 |
MÉDIA |
79,90 |
85,30 |
117,80 |
121,40 |
80,10 |
79,30 |
401,43 |
ERRO PADRÃO |
2,95 |
3,16 |
6,70 |
3,36 |
3,97 |
3,97 |
20,47 |
FC em batimentos por minuto (bpm); PAS e PAD em mmHg; SWT = distância percorrida, em metros, no Shuttle Walking Test |
|||||||
Tabela 4. Avaliação física - meninos |
|||||||
|
FC INICIAL |
FC FINAL |
PAS INICIAL |
PAS FINAL |
PAD INICIAL |
PAD FINAL |
SWT |
1 |
66 |
70 |
141 |
102 |
97 |
72 |
390 |
2 |
3 |
98 |
154 |
156 |
108 |
85 |
371,5 |
3 |
70 |
5 |
144 |
137 |
95 |
90 |
360 |
4 |
66 |
61 |
139 |
147 |
90 |
90 |
399,5 |
5 |
81 |
80 |
144 |
116 |
81 |
75 |
338,8 |
6 |
65 |
65 |
135 |
144 |
57 |
84 |
490 |
7 |
82 |
85 |
98 |
101 |
66 |
69 |
310 |
8 |
85 |
77 |
111 |
111 |
79 |
67 |
453 |
9 |
73 |
78 |
126 |
131 |
81 |
86 |
366 |
10 |
69 |
61 |
117 |
161 |
90 |
135 |
380 |
11 |
129 |
116 |
145 |
158 |
102 |
100 |
447 |
12 |
92 |
80 |
140 |
121 |
85 |
82 |
363 |
13 |
72 |
68 |
115 |
151 |
80 |
91 |
468,6 |
14 |
82 |
84 |
147 |
154 |
91 |
111 |
482 |
15 |
76 |
66 |
164 |
165 |
116 |
111 |
344 |
16 |
96 |
82 |
134 |
113 |
87 |
80 |
360 |
MÉDIA |
75,44 |
73,50 |
134,63 |
135,50 |
87,81 |
89,25 |
395,21 |
ERRO PADRÃO |
6,26 |
5,78 |
4,30 |
5,50 |
3,67 |
4,45 |
13,87 |
FC em batimentos por minuto (bpm); PAS e PAD em mmHg; SWT = distância percorrida, em metros, no Shuttle Walking Test |
Foi possível observar que a maioria dos alunos (69,2%) participa das aulas de Educação Física nas escolas. Ainda, 61,5% praticam esporte ou exercícios físicos com apenas 38,5% das famílias com costume de prática regular de exercícios físicos. Quanto ao histórico familiar, 65,3% são filhos de pelo menos um dos pais obesos e 76,9% com casos de doenças crônico-degenerativas na família.
Quadro 1. Resultado dos questionários
Perguntas |
SIM |
NÃO |
1 - Você participa das aulas de educação física nas escolas? |
18 |
8 |
2 - Você pratica algum tipo de esporte ou exercício físico no seu tempo livre? |
16 |
10 |
3 - Na sua família tem o costume de praticar algum esporte ou exercício físico? |
10 |
16 |
4 - Seus pais têm sobrepeso ou obesidade? |
17 |
9 |
5 - Em seu histórico familiar alguém possui: diabetes, hipertensão, doenças cardíacas ou algo do tipo? |
20 |
6 |
CONCLUSÃO
Os índices de obesidade entre os estudantes encontrados no presente estudo estavam abaixo da média nacional, porém, a maioria apresentou histórico familiar de obesidade e doenças crônico-degenerativas. Nesse contexto, é fundamental a avaliação física realizada pelo professor de Educação Física para mapear o estado nutricional, os índices de obesidade e os riscos cardiovasculares e metabólicos de seus alunos.
REFERÊNCIAS
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Quinnell TG, Pilsworth S, Shneerson JM, et al: Prolonged Invasive Ventilation Following Acute Ventilatory Failure in COPD: Weaning Results, Survival, and the Role of Noninvasive Ventilation. Chest 2006; 129:133-139
Zanon F, Caovilla JJ, Michel RS, et al: Sepse na Unidade de Terapia Intensiva: Etiologias, Fatores Prognósticos e Mortalidade. Ver Bras Ter Intensiva 2008; 20:128-134