26/12/2013

Como Fazer uma Boa Dissertação

RESUMO: Neste breve ensaio, pretendo mostrar como funciona o texto dissertativo, sua finalidade, seu uso, suas partes e, que, atualmente, não temos mais uma Língua chamada de Língua Portuguesa, mas sim, uma Língua conhecida e reconhecida genuinamente como Língua Brasileira.  

 

PALAVRAS-CHAVES: Dissertação. Língua Portuguesa. Língua Brasileira.

 

ABSTRACT: In this brief essay, I intend to show how the dissertative text, it’s your finality, it’s your use, it’s your parts, and, that, actually, don’t have more a language called Portuguese, but rather, a known language cognized and recognized how genuinely how Brazilian Language.

 

KEYWORDS: Dissertation. Portuguese Language. Brazilian Language.

 

1 INTRODUÇÃO

                  Dissertar quer dizer persuadir, convencer o outro de que o meu ponto de vista, a minha opinião é a melhor.

Convencer o leitor de que Eu estou certo.

Numa Dissertação, temos que ter, obrigatoriamente, pelo menos três partes ou parágrafos que são os seguintes:

1. Introdução ou Apresentação;

2. Desenvolvimento ou Argumentação de Apoio:

3. Conclusão.

Assim, trataremos, separadamente, abaixo das três partes de uma Dissertação acima elencadas.

2 SOBRE AS TRÊS PARTES DE UMA DISSERTAÇÃO

De acordo com o que afirmamos anteriormente, são as seguintes partes ou parágrafos que estruturam uma Dissertação:

  1. Introdução ou Apresentação: nesta parte ou parágrafo, apresentamos o assunto ao nosso leitor ou ouvinte. Deve ser o menor da Dissertação. Inclusive, asseguramos que essa parte é o espelho do texto dissertativo, por isso, ela deve ser muito bem escrita (claro que esse fato se aplica também as outras duas partes de uma Dissertação), pois, é o “rosto” do texto argumentativo, ou seja, se a Introdução ou Apresentação não ficar muito bem escrito, coerente e coeso, provavelmente, o leitor não se interessará pelas demais partes da Dissertação, correndo o risco de o leitor não ler o texto todo, abandonando, dessa maneira, a leitura do texto já no início.
  2. Desenvolvimento ou Argumentação de Apoio: é o lugar onde expomos o assunto, os motivos, as causas e as consequências e por que nos propusemos a escrever sobre o assunto em questão. Deve ser o maior parágrafo ou parte da Dissertação.

Por isso, nesse parágrafo ou parte devemos demonstrar ao leitor os argumentados arrolados, evidenciando os prós e contras desses argumentos. Também, nessa parte, é muito importante a seleção lexical, isto é, o que queremos dizer quando selecionamos do léxico uma palavra e não outra e ainda ao escolher essa palavra, devemos saber o que queremos dizer e até o que queremos não dizer com essa palavra, a saber, a questão dos ditos e não-ditos e ainda qual a força ilocucionária oriunda do uso que esse vocabulário adquire ou adquirirá na língua  ou qual é o efeito de sentido pretendido ou almejado quando optamos por uma palavra e não outra, ou melhor, qual é a carga semântica dessa palavra? Positiva ou Negativa?

Para exemplificar o que foi dito acima, no Brasileiro, não dizemos: “dai-me um copo de café”, dizemos: me dá um copo de café e ainda ao invés de dizer: “as casas amarelas”, dizemos: “as casa amarela”, pluralizando apenas o determinante, porque, qualquer falante/ouvinte da Língua Brasileira saberá que se trata de mais de uma casa cuja cor não é vermelha, verde ou azul, mas sim: amarela.

Além disso, outro detalhe de suma relevância que não poderíamos deixar de elencar, pluralizando o determinante, parece não ser necessário pluralizar na fala os demais sintagmas nominais ou adjetivais.

Outro exemplo a ser demonstrado é a força ilocucionária que os advérbios e adjetivos adquirem na Língua Brasileira, se digo ou escrevo: “mulher bonita” assinala para uma determinada carga semântica, já “mulher linda”, evidentemente, tem outra força ilocucionária ou carga semântica, além disso, em “garoto inteligente” e “garoto muito inteligente” há efeitos de sentidos outros que o falante do brasileiro imprime à escrita ou à fala, mas também, considerando: “homem novo”, “novo homem”, “mulher pobre”, “pobre mulher”, percebemos ainda que há diferenças de sentidos significavas no que tange à anteposição ou posposição dos adjetivos frente aos substantivos.

 E ainda adotando nesse trabalho a terminologia recomendada por Ferrarezi (2007) e Ferrarezi e Telles (2008), porque, para esses autores a conhecida Língua Portuguesa no Brasil, não pode ser mais chamada de Língua Portuguesa, mas sim, Língua Brasileira, pois, já não há mais razões sólidas, coerentes, coesas, históricas e nem científicas para existir no Brasil a tão famigerada Língua Portuguesa, já que, devido a evolução, as transformações por que passaram a Língua Portuguesa nesse país e ainda por uma questão de identidade, cultura e pragmática, seria um absurdo afirmar que a língua utilizada no Brasil é a Língua Portuguesa, observando a realidade, o uso, as peculiaridades e até mesmo as variações regionais ou locais, percebemos que a língua utilizada no Brasil é realmente a Língua Brasileira.

Assim, para ratificar a assertiva anteriormente feita, basta consultar as obras acima assinaladas.

Além disso, outros cientista-autores coadunam com a teoria (de que no Brasil não se fala e nem se escreve Língua Portuguesa e sim Língua Brasileira com sua escrita, fala e usos próprios, específicos, particulares, identitários e culturais próprios dos brasileiros) defendida por Ferrarezi e Telles (2008), dentre eles: Bagno (2006), Castilho (2003), Luft (2000), Perini (2004), Pinto (1986), Silva (2004); dentre outros.

                  Assim, após os argumentos anteriormente mencionados sobre a segunda parte de uma Dissertação: Desenvolvimento ou Argumentação de Apoio, abaixo, trataremos sobre a última parte de um texto dissertativo:

c) Conclusão: é a última parte ou parágrafo de uma Dissertação, por isso, a Conclusão deve ser menor que o Desenvolvimento, mas, nunca, menor do que a Introdução. É o local onde tecemos as considerações finais de um texto ou o assunto de que estamos tratando.

                  Deve ainda resgatar o que foi dito antes de forma sucinta, ratificando o que fora dito na Introdução e no desenvolvimento, ou seja, retomando de forma clara, precisa, coerente e coesa o que foi asseverado na Introdução e no Desenvolvimento.

                  Sendo assim, depois de tratarmos anteriormente sobre as três partes de uma Dissertação, trataremos “a posteriori” da linguagem que deve ser utilizada exclusivamente num texto dissertativo ou argumentativo.

3 LINGUAGEM UTILIZADA EM UM TEXTO DISSERTATIVO

                  Numa Dissertação, devemos utilizar sempre a chamada “língua padrão ou culta”, nada de “nóis vai”, sempre nós vamos.

Mas também, devemos utilizar os verbos na primeira pessoa do plural sem colocar o Nós. Por exemplo: ao invés de Nós acreditamos, deve ser Acreditamos, Pensamos, Sabemos etc.

Embora, algumas instituições ou autores recomendem o uso da terceira pessoa do singular ou plural, essas instituições ou autores acham que ao utilizarmos a terceira pessoa, o texto ficará mais científico, mais objetivo, mais neutro, no entanto, enganam-se, porque, os autores que mencionaremos abaixo, já provaram que as Ciências Humanas ou Naturais não são tão neutras, tão objetivas assim.

                   Dessa maneira, para ratificar a afirmação feita acima, citaremos os seguintes autores: Kramer (1994) e Lajolo (1996).

 Assim, de acordo com Kramer (1994, p. 20), as Ciências Humanas se instauram no século XVIII, outorgando a si mesmas o status de cientificidade:

Bem, as ciências humanas instauram-se no século XVIII, com pretensão de cientificidade. Buscam ter reconhecida sua legitimidade como ciências – especialmente a partir do século XIX – tentando definir suas leis com base em paradigmas então consagrados nas ciências naturais. Objetividade e neutralidade são almejadas em direção a um conhecimento positivo da realidade humana. O homem torna-se objeto. Os fatos sociais são vistos como coisas.

 

Como vimos, as Ciências Humanas tentam definir seus modelos com base nos paradigmas que permeiam as Ciências Naturais, cujo estatuto se alicerça em duas leis: Objetividade e Neutralidade desejadas, almejadas e direcionadas a um conhecimento positivo da realidade humana.

Sabemos que esta pretensa objetividade e neutralidade são quase impossíveis de serem alcançadas. Quando se trata da realidade humana não há como considerarmos o homem como mero objeto, como uma coisa, ou melhor, não há como considerar os fatos sociais isolados e nem como coisificar a História Humana e a sociedade em que está inserido. É impossível dissociarmos o homem de sua História Social, porque, mesmo os cientistas, apesar de muitas vezes perseguirem objetivos distintos dos perseguidos pelo homem comum; estão também sujeitos a toda sorte de fatores que interferem na existência humana.

Essa assertiva é ratificada por Lajolo (1996, p. 19), quando nos assevera que:

[...] Não parece, em síntese, que os trabalhos se fazem sozinhos que os objetivos são formulados pelos projetos, enfim, que por dentro das luvas, por detrás dos óculos e do outro lado do microscópio não há nervos nem sangue, dúvidas a resolver nem dívidas a pagar? [...]

 

            Logo, do exposto, inferimos que as Ciências, tanto as da Natureza, quanto as Humanas não são tão neutras, tão objetivas como querem alguns autores ou instituições.

            Assim, após esses breves comentários tecidos sobre a Linguagem utilizada numa Dissertação, no item seguinte, mostraremos um exemplo prático de Dissertação.

4 EXEMPLO PRÁTICO DE DISSERTAÇÃO

Segue adiante um exemplo prático de Dissertação, vamos supor que lhe peçam para escrever sobre a fome, como você deve fazer?

É simples, o primeiro passo, é delimitar o tema, ou seja, reduzir de tamanho, porque, a fome como sabemos existe em quase todo o planeta e então o que fazer?

Eis algumas sugestões: A fome no Brasil, A fome em Rondônia, A fome em Vilhena, etc. A delimitação do assunto vira o título da Dissertação, já que o tema é a fome, portanto, vamos tratar da fome no Brasil, por isso, vejamos:

A fome no Brasil

1º - A fome no Brasil tem assumido proporções assustadoras, infelizmente, muitas crianças ainda morrem por esse motivo em nosso país.

- Diante dessa dura realidade, devemos tomar uma atitude, mas o quê fazer? Como solucionar esse problema que assola uma grande parte da população brasileira?

3º - Acreditamos que a primeira providência a ser tomada é uma atitude séria, que deve ser considerada pelos nossos governantes, não só levar em conta os seus próprios interesses, mas, principalmente, os interesses de milhões de brasileiros que estão morrendo de fome, porque, enquanto se discute no congresso questões sobre os juros, o salário mínimo, documentos da ditadura militar que deverão ser colocados ao conhecimento do público ou não, o problema da fome continua ainda a afetar milhões de brasileiros.

4º - Logo, devemos tomar uma atitude drástica, séria e urgente frente a esse problema, ou seja, ao problema da fome que prejudica milhões de brasileiros e brasileiras em nosso país, ao invés de ficarmos falando, devemos fazer algo e não tentar coisas mirabolantes, miraculosas, fantásticas e utópicas como o programa: “Fome Zero” do governo federal que teve mais propagandas do que resultados.

Conforme vimos, tradicionalmente, dizemos que há três parágrafos numa Dissertação, sendo o primeiro a Introdução ou Apresentação, o segundo o Desenvolvimento ou a Argumentação de Apoio e o Terceiro, a Conclusão.

Embora, neste exemplo de Dissertação, termos quatro parágrafos, assim distribuídos: o primeiro - Introdução ou Apresentação, o segundo e o terceiro formam o Desenvolvimento ou A Argumentação de Apoio e o quarto, a Conclusão, podemos observar através deste texto que a Estrutura da Dissertação não é fixa, e ainda a divisão do texto dissertativo em três parágrafos se justifica, principalmente, para fins didático-pedagógicos, uma vez que no exemplo, acima citado, tivemos quatro parágrafos e isto de forma alguma não invalida o texto dissertativo ou argumentativo, pelo contrário, acreditamos que o enriqueça ainda mais.

Há de se dizer ainda que a Introdução é sempre menor que o Desenvolvimento e que a Conclusão, sendo o Desenvolvimento a maior de todas as partes de um texto argumentativo ou dissertativo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

                  Do que foi asseverado anteriormente, devemos inferir que o texto dissertativo requer um cuidado maior do que as outras modalidades de redação: Narração e Descrição, já que numa Dissertação, diferente de as outras modalidades já elencadas, temos que tentar provarao leitor/leitora de certa língua que os nossos argumentos procedem, são convincentes, têm lógica, fazem sentido e, muitas vezes, esses argumentos devem apresentar também embasamento teórico.

5 REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro: um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

CASTILHO, Ataliba Teixeira de. A Língua falada no ensino de português. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2003.

FERRAREZI, Junior Celso. Ensinar o Brasileiro: respostas a 50 perguntas de professores de língua materna. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

FERRAREZI, Junior Celso; TELES, Iara Maria. Gramática do Brasileiro: uma nova forma de entender a nossa língua. São Paulo: Globo, 2008.

KRAMER, Sônia. (1994). Por entre as pedras: arma e sonho na escola. São Paulo: Ática.

LAJOLO, Marisa. Da ciência à poesia e vice-versa. In: MARTINS, Maria Helena. (Org.). Questões de Linguagem. 5 ed. São Paulo: Contexto, 1996.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 14 ed. São Paulo: Globo, 2000.

PERINI, Mário Alberto. A Língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

PINTO, Edith Pimentel. A Língua escrita no Brasil. São Paulo: Ática, 1986.

SILVA, Virgínia Mattos e Rosa. Ensaios para uma sócio-história do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial,2004.

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MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO[1]

 

[1] Mestre em Lingüística, Professor da Cadeira de Língua Portuguesa do IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Câmpus Ariquemes. Emeio: marinho.filho@ifro.edu.br

 

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