Como Reconhecer o Estruturalismo?
O artigo de Deleuze, “Em que se pode reconhecer o estruturalismo”? Aborda os modos pelos quais se constituem um esquema estrutural de base epistemológica, sustenta o seu plano argumentativo pelo víeis de vários teóricos que delineiam seus critérios, para um suposto reconhecimento do cenário estruturalista. Desse modo, Deleuze mapeia o estruturalismo levando em consideração vários critérios, entre eles; o simbólico, o local ou de posição, o diferencial e o singular, o diferenciador e a diferenciação, o serial e a casa vazia.
O primeiro critério do estruturalismo mencionado por Deleuze é o reconhecimento de uma terceira ordem, a do simbólico. É a recusa de confundir o simbólico com o imaginário, bem como com o real.
O segundo critério está relacionado com o local ou de posição, num espaço meramente estrutural, são primeiros relativamente às coisas e aos seres reais que vêm ocupá-los. Os seus relacionamentos e comportamentos com o seu local de ocupação.
O terceiro critério a diferenciação e o singular explica que, os elementos se determinam mutuamente nas diferenças é esse processo, de uma consignação recíproca no interior da relação, que permite dividir as singularidades correspondentes aos valores das relações diferenciais.
A diferenciação constitui o quarto critério. A estrutura é diferencial em si mesma, mas também diferencial nos seus efeitos. Dessa forma Deleuze faz um questionamento. “O que é que coexiste na estrutura”? ( Deleuze, 2006, p.231).Todos os elementos, as relações e valores de relações, todas as singularidades próprias ao domínio considerado. (Deleuze, 2006, p.231). O que se renova nessa fase são as relações e repartições de singularidades.No entanto outras se atualizam alhures ou em outras estações.
O quinto critério alçado por Deleuze é o serial. “A organização das séries constitutivas de uma estrutura supõe uma verdadeira encenação, e exige, em cada caso, avaliações e interpretações precisas. Não há, absolutamente, regra geral. ( Deleuze,2006,p.235)
Nesse sentido, a determinação de uma estrutura se faz pela constituição de uma segunda série que mantém relações complexas com a primeira. Essa funcionalidade é exemplarmente mostrado por LACAN (1988), em um de seus seminários mais célebres, A Carta Roubada, em que faz uso do romance de Edgar Alan Poe. A elaboração lacaniana nos mostra, nesse seminário, como a “estrutura” põe em cena duas séries cujos lugares são ocupados por sujeitos variáveis. DELEUZE (2006, p.236)
O sexto critério é denominado a casa vazia. Esta casa vazia pode ser representada pelo lugar da Carta Roubada nas séries referidas acima. É a carta que provoca o movimento das duas séries que compõem uma estrutura. DELEUZE (2006)
Um objeto cuja natureza consiste em estar sempre deslocado em relação a si mesmo e que tem a propriedade de nunca estar onde é procurado. Os jogos têm necessidade de uma casa vazia, sem o que nada avançaria nem funcionaria. Enfim, esse lugar, essa casa vazia, está diretamente vinculada ao que Lacan chama de significante falo, o falo simbólico que determina o lugar relativo dos elementos e o valor variável das relações. DELEUZE (2006)
O último critério é referente ao sujeito e a sua prática. O sujeito é aqui, precisamente, a instância que segue o lugar vazio, ou, como diz Lacan, ele é menos sujeito que assujeitado - assujeitado à casa vazia, assujeitado ao falo e aos seus deslocamentos. O Estruturalismo não é, nessa concepção, um pensamento que suprime o sujeito, mas um pensamento que o esmigalha e o distribui sistematicamente, que contesta a identidade do sujeito, que o dissipa e o faz passar de um lugar a outro, sujeito sempre nômade, fato de individuações, mas impessoais, ou de singularidades, mas pré-individuais. Esse sujeito que acompanha a casa vazia sem ocupá-la nem abandoná-la, este ponto de mutação, define precisamente uma práxis ou, antes, o próprio lugar em que deve instalar-se a práxis. Porque o Estruturalismo não é somente inseparável das obras que cria, mas também de uma prática relativamente aos produtos que interpreta. Seja esta prática terapêutica ou política, ela designa um ponto de revolução permanente, ou de transferência constante.
Diante dos expostos a cerca dos critérios para reconhecer o estruturalismo Deleuze conclui implicitamente que não existe estruturas sem serie, sem relação de termos e cada serie, sem pontos singulares, mas sobre tudo, não há estrutura sem casa vazia, que faz tudo funcionar. Então, a metodologia do autor na construção do seu texto é sustentada por citações de vários teóricos como: Saussure, Bachelard, Michel Foucault, Louis Althusser e Jacques Lacan, Lévi – Strauss, Ricoeur. Weierstrass, Russell, Serge, Leclaire. Estes deram suporte para que Deleuze explicasse cada serie estruturalista. O reconhecimento da estrutura está na própria sistematização das series heterogênea, as singularidades se encontram com as diferenças.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. “Em que se pode reconhecer o Estruturalismo”, in A ilha deserta e outros textos. São Paulo,2. Reimp.: Iluminuras,2006.
FREUD, Sigmund.(1895) “Projeto para uma psicologia científica”, in Vol.I Obras Completas. Rio de Janeiro: Editora Imago Ltda. 1972.
POR. WELLINGTON NEVES VIEIRA
Professor Titular da Faculdade Sete de Setembro-FASETE e do Centro Universitário do São Francisco -CESVASF nas disciplinas de teoria literária e literatura Afro-Brasileira.