04/04/2019

Conceito de liderança resultante de múltiplas abordagens

Jorge Barros
Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

A liderança é um tema clássico nos estudos organizacionais que tem suscitado grande interesse entre teóricos e práticos e deste a altura em que começou a atrair os investigadores tem conhecido uma evolução profunda. Trata-se de uma das mais antigas áreas de investigação em ciências sociais.
Nos dias de hoje dá-se à questão da liderança uma importância que anteriormente não existia, uma vez que estamos perante um mundo global da informação cada vez mais competitivo e onde não basta ser-se bom, é indispensável obterem-se resultados, pelo que se torna necessário ser-se líder.
Atualmente existe uma multiplicidade de definições de liderança, podendo mesmo afirmar-se que a este respeito existem quase tantos conceitos quanto o número de pessoas que aborda esta temática.
O termo «liderança» tem gerado inúmeras discussões em torno da sua definição. As investigações sobre a «liderança» e os «processos de liderança» sucedem-se e são vários os autores que procuram explicar o seu conceito. Deste modo, é possível encontrar na literatura da especialidade inúmeras definições de liderança, fruto das diferentes abordagens e das múltiplas perspetivas tomadas ao longo do século XX e início deste século XXI.
Neste âmbito, tratando-se de um conceito polissémico e atendendo à visão e o que os autores pensam em relação à liderança, iremos abordar o seu conceito como processo de influência, como poder e autoridade, como processo relacional, enquanto condução para o cumprimento de objetivos ou fins, como capacidade para influenciar, como qualidade ou função do líder e como processo de influência mútua e de aprendizagem.
A liderança não é inócua. Ela tem de ter efeito, consequências. A liderança não existe para deixar tudo na mesma. Todavia, a liderança não surge no/do nada e não acontece da mesma forma em distintos contextos organizacionais. Por outro lado, os modos como se tem olhado para a liderança têm sido diferentes, tantas vezes associados a determinadas visões sociais e políticas. Associar liderança ao processo de influência de alguém não constitui novidade. Este processo de influência visa que os liderados sejam persuadidos a atingirem determinados fins, objetivos ou metas individuais, de grupo ou organizacionais. Neste âmbito, poderão também os líderes influenciar o seu pessoal e outros interessados a partilhar a sua visão e a concretizá-la. Todavia, este é um processo linear unidirecional, em que o líder influencia os liderados, seguidores e colaboradores ou trabalhadores.
A liderança como processo de influência pode ainda ser entendida em sentido amplo, já que pode ser exercida tanto por atores com cargos formais na organização como por pessoas que os não têm, mas que tentam influir em algum curso na ação em «linha» com um «norte» comum. Isto é, podendo influenciar de diversas formas, os líderes procuram mudar a decisão dos liderados e o rumo da sua ação, tendo em «mente» o alcançar de determinados objetivos.
Já outra abordagem associa a liderança a poder. Mas poder pode ser entendido de diversas formas ainda que quase sempre a autoridade esteja presente, pelo menos entendida como o direito de decidir, de dirigir ou de orientar na realização de atividades e tarefas tendentes ao cumprimento dos objetivos da organização, ou ainda como a capacidade que tem/têm o(s) indivíduo(s) ou a(s) organização(ões) de se imporem sobre os outros. Já o poder traduz-se na capacidade (in)formal que se tem para mudar os comportamentos ou atitudes dos indivíduos ou dos grupos sociais. Nesta perspetiva, a liderança configura tanto o poder exercido sobre os outros elementos da organização como a própria estrutura da autoridade exercida pelo líder, no sentido de levar os outros a atingirem os objetivos que ele definiu, que de outra forma poderiam não ser alcançados. Assim, a liderança pode ser exercida não só pela posição que o líder ocupa, mas também pelo poder que detém em virtude de o ter conseguido alcançar ou conquistar. Trata-se de uma visão da liderança que, apesar de hoje em dia ainda existir, teve a sua expressão mais significativa no passado e em sociedades pouco democráticas.
Perspetivada de outra forma surge a liderança como processo relacional. A este propósito, a liderança é percecionada como um conjunto de relações que se estabelecem entre as pessoas, relações essas que podem ser estabelecidas entre líder-líderes, líderes-líder, líderes-líderes, líder-liderado, liderado-líder, líder-liderados, liderados-líder, líderes-liderados, liderados-líderes, ou ainda entre líder e/ou líderes e outras pessoas como, por exemplo, outros interessados, colaboradores e seguidores. Estas relações ocorrem visando levar à prática a consecução dos objetivos individuais, de conjunto ou organizacionais que estejam definidos ou que cada um dos intervenientes entretanto defina.
Ainda uma outra concetualização de liderança refere-se ao facto desta ser interpretada como condução para o cumprimento de objetivos e fins. Neste plano, a liderança é interpretada e definida como algo em que o líder procura através dos liderados que sejam atingidos os objetivos, metas ou fins propostos. Este pode ser um processo de persuasão de outras pessoas para, durante algum tempo, porem em segundo plano os seus interesses individuais em prol de um objetivo comum importante para o grupo ou para através da participação das pessoas ou grupos, o líder conseguir que sejam atingidos os objetivos definidos. Trata-se de uma conceção em que o que é pretendido são os fins e não os meios para os alcançar. Por vezes, as pessoas lideradas envolvem-se voluntariamente na realização das tarefas e outras vezes não, pelo que quando necessário o líder socorre-se de determinadas estratégias imaginativas visando como resultado precisamente o cumprimento desses objetivos.
Existem ainda outros conceitos de liderança e que a apontam como capacidade para influenciar. Sendo a liderança um elemento chave para o sucesso de qualquer organização também é determinante a capacidade que o líder demonstra para influenciar e motivar os outros a levarem por diante com êxito as tarefas, atividades e funções que lhe são propostas. Esta capacidade para influenciar e motivar é igualmente determinante para que o líder surja como elemento dinamizador dos outros de forma a se poderem alcançar os resultados individuais, de grupo e organizacionais pretendidos. Portanto, neste domínio, a liderança é concetualizada como a capacidade do indivíduo para influenciar e motivar os outros a trabalharem e a contribuírem para a eficácia e o sucesso das organizações a que pertencem.
A liderança é também uma função, um papel e uma qualidade do líder quando este é responsável por outra pessoa ou por um conjunto de outras pessoas que podem ou não estar associadas de algum modo originando um grupo. Não se tratando de uma profissão ou de um emprego, mas sim de qualidades e atitudes, a liderança faz com que a pessoa se destaque das restantes e seja percecionada por todos como um líder, como aquele que tem qualidades para os «guiar por um determinado caminho».
Por fim, a liderança é igualmente perspetivada como processo de influência mútua e de aprendizagem. Trata-se de um processo que não é unidirecional, dado que tanto líderes como liderados se influenciam mutuamente com o propósito de ambos tirarem partido dessa situação, assim como o grupo ou a organização. Ainda nesta perspetiva uns aprendem com os outros e o líder surge como um dinamizador de equipas. O líder ao precisar dos liderados, ou vice-versa, para atingir os objetivos e metas traçadas, de alguma forma enceta um processo de influência mútua e de aprendizagem.

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