21/07/2016

Contribuições de Basil Bernstein e Stephen Ball para as Pesquisas sobre Políticas Educacionais e Curriculares

Contribuições de Basil Bernstein e Stephen Ball para as Pesquisas sobre Políticas Educacionais e Curriculares

Simone Gonçalves da Silva [1]

Resumo

A presente síntese aborda a discussão suscitada pelos autores Jefferson Mainardes e Silvana Stremel, no artigo: “A Teoria de Basil Bernstein e algumas de suas contribuições para as Pesquisas sobre Políticas Educacionais e Curriculares”, publicado em 2010.

Palavras-Chave: políticas educacionais; currículo; conhecimento.

Sintetizando as contribuições de Basil Bernstein e Stephen Ball para as Pesquisas sobre Políticas Educacionais e Curriculares

            Nessa escrita pretende-se tecer algumas reflexões em torno do artigo de Jefferson Mainardes e Silvana Stremel, intitulado “A Teoria de Basil Bernstein e algumas de suas contribuições para as Pesquisas sobre Políticas Educacionais e Curriculares”.  O referido trabalho tem como central a discussão da importância da teoria de Basil Bernstein para a análise das políticas públicas nos variados contextos, enfatizando as problematizações a partir do conceito de recontextualização do discurso.

            Segundo Mainardes e Stremel  (2010, p,32),

Nosso intento, nesse artigo, é explorar algumas contribuições da teoria de Bernstein para a pesquisa no campo das políticas educacionais e políticas curriculares, em especial as contribuições do conceito de recontextualização do discurso, formulado por Bernstein no contexto da sua teoria do dispositivo pedagógico.

            Nesse sentido, o interesse por este artigo está em poder ampliar a compreensão da contribuição da teoria de Bernstein nas pesquisas de políticas públicas. Assim, possibilitar possíveis relações da teoria de Bernstein para o campo da sociologia em pesquisas sobre politicas educacionais.

            Primeiramente o artigo apresenta o entendimento da Teoria de Bernstein, discutindo alguns conceitos, para introduzir a possibilidade de seu uso na análise das políticas publicas no campo educacional. Conforme destacam Mainardes e Stremel (2010, p.31-32),

Para Al-Ramahi & Davies (2002), os trabalhos de Bernstein oferecem a possibilidade de analisar a formulação de políticas educacionais tanto no nível macro da produção do texto quanto no nível micro (escolas, salas de aula). Ball (1998) argumenta que as ideias de Bernstein contribuem para analisar comparativa e globalmente as complexas relações entre as ideias, sua disseminação e recontextualização. De fato, diversas pesquisas do campo das políticas sobre políticas e reformas educacionais e curriculares têm explorado conceitos da teoria de Bernstein, em especial a teoria do dispositivo pedagógico (Ball, 1998; Nascimento, 1998; Neves et alii, 2000; Al-Ramahi; Davies, 2002; Singh, 2002; Mainardes, 2004; Beck, 2006; Ivinson; Duveen, 2006; Lopes, 2005; Neves; Morais, 2006; Sadovnik, 2006; Calado, 2007; entre outros).

No trecho destacado acima, o autor tece um diálogo com outros autores para elucidar como muitos estudos têm se apropriado dos conceitos da teoria de Bernstein. No caso dos estudos sobre políticas educacionais e curriculares, parte do principio do conceito de recontextualização do discurso e posteriormente as análises são apronfudadas com os demais conceitos. Para uma melhor compreensão sobre conceito de recontextualização, diversas vezes enfatizado no texto, traze-se presente a exposição de Santos (2003) para uma melhor reflexão do exposto por Mainardes e Stremel (2010, p.46) em seu trabalho.

Contudo, na visão de Bernstein, existe apenas um discurso, pois o discurso pedagógico não pode ser identificado com aquilo que ele transmite, como a física, a matemática etc. Afirma ainda que o discurso pedagógico não é um discurso, mas um princípio. Um princípio por meio do qual outros discursos são apropriados e colocados em uma relação especial uns com os outros, com o propósito de uma transmissão e aquisição seletiva. É um princípio para deslocar, relocar e focalizar um discurso, de acordo com seu próprio princípio. Desta forma, o discurso pedagógico se constitui em um princípio de recontextualização, que, seletivamente, se apropria, reloca, refocaliza e relaciona outros discursos, para constituir sua própria ordem.

Pode-se perceber que o principio de recontextualização é um importante elemento da teoria de Bernstein, que está associada aos demais conceitos. Por esse caminho que Mainardes (2010) procura situar os pesquisadores apresentando uma síntese dos principais conceitos da Teoria de Bernstein, tais como: Código, Classificação e Enquadradamento, Pedagogias Visíveis e Invisíveis, Discurso Vertical e Horizontal e Teoria do dispositivo pedagógico.

Para Mainardes e Stremel(2010) Bernstein tem como principal aspecto a ser considerado como sendo um analista critico do currículo, no qual “os estudos de Bernstein colocam em questão o papel da educação na reprodução cultural das relações de classe, evidenciando que a pedagogia, o currículo e a avaliação são formas de controle social. (p.33)”

Conforme já mencionado, o Mainardes e Stremel (2010) destacam a importância do conceito de recontextualização para a análise de políticas educacionais e curriculares, a partir do modelo teórico do dispositivo pedagógico tanto no nível dos micro-processos (linguagem, transmissão e pedagogia) quanto nos macro-processos (códigos culturais e o conteúdo, processos educativos e as relações de poder e as classes sociais) presente nos textos políticos oficiais produzidos e reproduzidos.

            Nesse processo de compreender as contribuições da teoria de Bernstein, Maindardes e Stremel (2010) destacam algumas pesquisas que empregaram esse referencial teórico. A primeira pesquisa é a do próprio autor, no qual Mainardes (2004) investiga a política de organização em ciclos no Brasil, analisando a emergência e o desenvolvimento do discurso dessa política, presente nos diferentes argumentos do campo recontextualizador oficial e do campo recontextualizador pedagógico.

No caso dos estudiosos Al Ramahi e Davies (2002 apud Mainardes 2010) buscaram compreender os micro-processos de escolarização e o tipo de pedagogia proposta para as escolas palestinas no contexto do Projeto de Aprendizagem Integrada (Integrated Learning Project), parte integrante de uma série de reformas introduzidas nas escolas primárias palestinas.

Outro exemplo é do pesquisador Sadovnik (2006 apud Mainardes 2010) apresenta uma análise bastante ampla e aprofundada do Programa No child left behind (NCLB) (Nenhuma criança deixada para trás), formulado pelo governo americano (governo George W. Bush).

E por último a pesquisa do Neves et alii (2000 apud Mainardes 2010), que analisam a valorização dada do discurso regulador geral (o texto oficial produzido pelo Ministério da Educação, que caracteriza um determinado contexto sociopolítico) e os discursos instrucional e regulador específicos em programas de Ciências dos 5º, 6º e 7º anos de escolaridade. (p. 50)

            Em todas as pesquisa percebe-se que a teoria proposta por Bernstein, contribui para análise de políticas educacionais e curriculares, com base no conceito de recontextualização do discurso, pelo constante movimento de articular os níveis macro e micros, também é importante inferir que os demais conceitos não devem ser abandonados. Embora o que mais se destaca é o principio de recontextualização, segundo Lopes (2005 apud Mainardes 2010), Mainardes e Stremel (2010) e também Ball (1998 apud Mainardes 2010, p.51) com base no conceito de recontextualização,

afirma que a maior parte das políticas são constituídas de empréstimos e cópias de pedaços/segmentos de ideias de outros locais, aproveitando-se de abordagens localmente testadas e experimentadas, remendando-as e retrabalhando-as através de complexos processos de influência, de produção de textos, de disseminação e, em última análise, de recriação no contexto da prática. Assim, a pesquisa das políticas educacionais e curriculares demanda um esforço de análise para apreender as influências internacionais por meio de processos de globalização e disseminação de ideias e discursos e os processos de recontextualização do contexto nacional e local.

 

            Por fim, pode-se constatar a importância esclarecedora do artigo como orientadora e metodológica para a compressão e análise das políticas, desde da investigação da constituição até a recontextualização das políticas e programas, atrelada a verificação dos discursos presente nos documentos. Nesse sentido, de apresentar as pesquisas sobre políticas com base na contribuição da teoria de Bernstein, permite um olhar mais prático da teoria. Cabe ressaltar, que o artigo é apenas um recorte, mas que possibilita os pesquisadores de políticas ampliarem a discussão sobre os limites e possibilidades no campo educacional, com base nos conceitos presentes na Teoria de Bernstein.

Referências

SANTOS, Lucíola Licínio de C. P. Bernstein e o campo educacional: relevância, influências e incompreensões. Cadernos de Pesquisa, n. 120, p. 15-49, novembro/2003

MAINARDES, Jefferson; STREMEL. Silvana. A teoria de Basil Bernstein e algumas de suas contribuições para as pesquisas sobre políticas educacionais e curriculares. Teias, Rio de Janeiro, v 11. n.22. p.31-54.2010.

[1] Pedagoga. Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES. E-mail: simonegonsilva@yahoo.com.br

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