12/11/2025

COP-30 e o Brasil na Vanguarda da Bioeconomia: Do Etanol Paulista à Eletromobilidade Sustentável.

Por - Ivan Carlos Zampin: Professor Doutor, Pesquisador, Pedagogo, Graduado em Educação Especial, Docente no Ensino Superior e na Educação Básica, Gestor Escolar e Especialista em Gestão Pública.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2342324641763252

 

1. Introdução: O Momento da COP-30 e a Posição Estratégica do Brasil

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP-30, sendo realizada em Belém, representa um marco crítico para o balanço global do Acordo de Paris. Este evento coloca o Brasil no centro das discussões mundiais sobre clima, exigindo não apenas a apresentação de metas ambiciosas, mas a demonstração de modelos concretos de descarbonização. Neste contexto, o país possui uma oportunidade ímpar de se consolidar como uma potência energética verde, indo além da sua fundamental missão de proteger seus biomas. A trajetória para um futuro de baixo carbono passa, necessariamente, pela redução drástica das emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes e energia. Felizmente, o país detém um modelo testado e escalonável, ou seja: a produção de etanol de cana-de-açúcar, cujo epicentro tecnológico e produtivo está nas usinas do interior de São Paulo. A expansão e integração deste modelo biocombustível com a nascente indústria de eletromobilidade e a consolidação do biodiesel formam um ecossistema energético único, posicionando o Brasil na vanguarda da bioeconomia global.

2. O Etanol Sucroenergético: A Âncora da Descarbonização do Setor de Transportes

O setor sucroenergético paulista é a prova concreta de que a agroindústria pode ser uma aliada fundamental na descarbonização. Enquanto a queima de gasolina, um combustível fóssil, libera na atmosfera carbono sequestrado há milhões de anos, contribuindo diretamente para o aumento do efeito estufa, o etanol da cana-de-açúcar apresenta um balanço de carbono radicalmente mais favorável. Estudos da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) indicam que o etanol de cana pode reduzir as emissões de GEE em até 90% comparado à gasolina (IRENA, 2022). Durante seu crescimento, a cana-de-açúcar absorve dióxido de carbono da atmosfera, criando um ciclo de carbono muito mais curto e eficiente. A ampliação da produção de cana pelo agronegócio brasileiro, portanto, não é apenas uma atividade econômica, mas uma estratégia de mitigação climática de alto impacto.

Além do combustível líquido, o modelo sucroenergético gera externalidades positivas significativas. A bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha da cana já é uma realidade que alimenta o Sistema Interligado Nacional (SIN), reduzindo a dependência de termelétricas fósseis durante o período de safra. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA, 2023), a geração de bioeletricidade para a rede foi suficiente para abastecer milhões de residências, evitando a emissão de milhões de toneladas de CO2. Essa geração de energia complementar e renovável fortalece a confiabilidade da matriz elétrica brasileira.

3. Benefícios Socioambientais do Ciclo da Cana-de-Açúcar

Os benefícios ambientais do ciclo da cana-de-açúcar vão além da redução de emissões e da geração de energia limpa. A adoção crescente de práticas agrícolas sustentáveis, impulsionadas pelo Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo e pela demanda do mercado, tem transformado o setor. A mecanização da colheita, que eliminou a queima da palha em vastas áreas, melhorou a qualidade do ar e reduziu emissões de metano. Práticas como a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e a aplicação de vinhaça e torta de filtro (subprodutos da produção) como fertilizantes orgânicos contribuem para a preservação e recuperação do solo, aumentando o sequestro de carbono e a biodiversidade (EMBRAPA, 2022).

Paralelamente, os benefícios sociais são palpáveis, embora desafiadores. O complexo sucroenergético gera milhões de empregos diretos e indiretos, movimentando economias locais no interior do país e fomentando o desenvolvimento regional. A transição de uma colheita manual para a mecanizada, apesar de ter gerado um debate sobre a readequação da mão de obra, trouxe ganhos em condições de trabalho, com a redução de atividades extenuantes, e na formalização do emprego. Programas de capacitação e a demanda por operadores de máquinas especializados abrem novas frentes de qualificação profissional.

4. A Revolução da Eletromobilidade e sua Sinergia com os Biocombustíveis

Contudo, a liderança brasileira na bioeconomia não se restringe ao etanol. O cenário está se diversificando rapidamente com o aumento da frota de carros elétricos no Brasil. Este movimento é catalisado pela implantação de fábricas de carros elétricos no país, que atraem investimentos bilionários, transferência de tecnologia e criam uma nova cadeia produtiva de alto valor agregado. A sinergia aqui é poderosa e estratégica, assim, a eletricidade que abastece esses veículos pode ser majoritariamente renovável, proveniente da matriz hidrelétrica, eólica, solar e, crucialmente, da bioeletricidade da cana. Um carro elétrico movido a energia limpa representa a forma mais eficiente de transporte terrestre com zero emissão direta.

É crucial, no entanto, entender que a eletromobilidade não substitui, mas complementa os biocombustíveis no contexto brasileiro. Os carros híbridos flex, que podem operar com eletricidade e/ou etanol, representam a tecnologia mais promissora para a realidade nacional. Eles oferecem a eficiência elétrica para deslocamentos urbanos e a flexibilidade e a densidade energética do etanol para viagens longas, garantindo uma mobilidade 100% renovável. A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP, 2023) tem acompanhado esse movimento, regulamentando a infraestrutura de recarga. A combinação de biocombustíveis e eletrificação cria uma matriz de transportes resiliente e profundamente descarbonizada.

5. Biodiesel e a Visão Integrada para a COP-30

Neste panorama energético diversificado, o biodiesel produzido a partir de oleaginosas como soja, mamona, girassol e sebo animal complementa a matriz de biocombustíveis. Mandatório na mistura do diesel fóssil (atualmente em 14%, B14), o biodiesel reduz a importação de derivados de petróleo, economizando divisas, e diminui a poluição atmosférica nas cidades pela redução de material particulado, um grave problema de saúde pública. O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) é um exemplo de política pública bem-sucedida que pode ser destacado na COP-30, mostrando a capacidade do Brasil em fomentar uma cadeia produtiva de energia renovável.

A visão estratégica que o Brasil leva para a COP-30 deve integrar todas essas frentes, ou seja, a solidez do etanol, a complementaridade do biodiesel e a inovação da eletromobilidade. Juntas, elas formam um portfólio energético diversificado, resiliente e adaptado às diferentes necessidades do território nacional. Esta abordagem evita a dependência de uma única tecnologia e maximiza as vantagens comparativas e competitivas do país.

6. Conclusão: Um Modelo Integrado para o Mundo

Em conclusão, o caminho para a COP-30 exige mais do que promessas demanda exemplos de sucesso tangíveis e replicáveis. O Brasil tem nas mãos a oportunidade histórica de apresentar ao mundo um modelo integrado onde o agronegócio sustentável, personificado pela produção de etanol em São Paulo, e a indústria de alta tecnologia, representada pelas fábricas de carros elétricos, convergem para um mesmo objetivo, ou seja, a descarbonização profunda da economia. Este não é um projeto setorial isolado, mas uma visão de nação que articula campo e cidade, indústria tradicional e indústria 4.0 em prol de um desenvolvimento genuinamente sustentável.

A redução da produção de combustíveis fósseis é uma meta global inevitável, e o país pode se posicionar não como um mero espectador, mas como um fornecedor central de soluções energéticas limpas e um laboratório de práticas sustentáveis. O know-how acumulado em décadas de produção de biocombustíveis é um ativo inestimável que pode ser exportado na forma de tecnologia, processos de gestão e políticas públicas para outras nações tropicais. O Brasil tem a chance de liderar um bloco de países produtores de biocombustíveis, criando novos fluxos comerciais baseados na energia verde e estabelecendo padrões globais para a bioeconomia.

A transição energética global já começou nos canaviais paulistas e agora se acelera nas linhas de montagem elétricas. Porém, para consolidar esta liderança, é essencial que políticas de estado transversais e consistentes apoiem esta trajetória. Isso inclui investimentos robustos em infraestrutura de recarga veicular, estímulos fiscais para a pesquisa e desenvolvimento de baterias nacionais, a expansão do RenovaBio para fortalecer a comercialização de créditos de descarbonização, e a promoção agressiva do etanol e dos híbridos flex nos mercados internacionais.

O sucesso deste modelo integrado, no entanto, deve ser mensurado não apenas pela redução de emissões, mas também pela sua capacidade de gerar inclusão social e justiça ambiental. É fundamental que os benefícios econômicos desta transição sejam distribuídos de forma equitativa, chegando às comunidades do interior por meio de educação tecnológica, capacitação profissional e geração de renda. A bioeconomia precisa ser, de fato, uma economia para todos, conectando o produtor rural ao engenheiro de software, o operário da usina ao técnico em mobilidade elétrica.

Cabe ao Brasil, portanto, aproveitar este momento histórico, catalisado pela COP-30 em solo nacional, para assumir definitivamente sua vanguarda na construção de uma economia verde e de baixo carbono. O mundo observará Belém não apenas para ouvir discursos, mas para ver em ação um projeto nacional de desenvolvimento que reconcilia produção com conservação, tecnologia com natureza, e crescimento econômico com bem-estar social. O futuro energético do planeta não será construído apenas com silício e lítio, mas também com a biomassa tropical e o engenho brasileiro, mostrando que a verdadeira sustentabilidade está na capacidade de integrar soluções em uma visão coerente e ousada de futuro.

Referências Bibliográficas

ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. (2023). Resoluções e Boletins. 2023.

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. (2022). Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF). 2023.

IRENA - International Renewable Energy Agency. (2022). Innovation Outlook: Renewable Methanol.

UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar. (2023). Dados e Cotações: Bioeletricidade. 2023.

Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo. (2023). Relatório de Sustentabilidade. 2023.

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