17/05/2016

Cultura e Educação

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

Como dito no texto Apartheid da Educação publicado pela Revista Gestão Universitária em 27 de abril de 2016, relato que nossa educação pública tem sido segregadora. Alguns educadores veem essas falas como uma visão pessimista, mas não é nada mais do que pura realidade reforçada nos dias de hoje com a mudança política “forçada” em nosso país.

O intuito aqui não é falar sobre o momento político em que o país está passando, mas nas consequências de certas decisões tomadas por estes políticos “imaculados”.

Há uma máxima na administração que diz: “se dermos autonomia a idiotas, teremos decisões idiotas” e uma das primeiras decisões foi a extinção do ministério da cultura. Obviamente, não cabe aqui duvidar do conhecimento que estes políticos, que representam a velha elite têm. Eles sabem o que é cultura, sabem da sua importância, mas infelizmente, o povo talvez não saiba das consequências dessas decisões.

Uma das funções da educação está na socialização da criança. Lakatos e Marconi (1999) esclarecem que a socialização se faz por participação e por comunicação, sendo que na primeira, as atividades sociais são exercidas por meio das quais o indivíduo adquire e acumula traços culturais, e na segunda que é a comunicação, entende-se aqui a comunicação simbólica, que é através dela que se tem conhecimento das experiências de outras pessoas, podendo este ser aplicado a situações presentes e/ou futuras.

Para os autores, não há indivíduo humano desprovidos de cultura, exceto o recém-nascido e o homo ferus. No primeiro caso, o recém-nascido passará pelo processo de endoculturação e no segundo caso, o homem foi privado do convívio humano.

Esta decisão idiota, no caso, bem pensada, tenderá a refletir o que aconteceu em nossa sangrenta e triste história de ditadura militar. De acordo com Aranha (1996) os 20 anos de ditadura militar, obscureceu, emudeceu e quase aniquilou nossa vida cultural, silenciando os artistas e intimidando educadores e educandos.

Para Rios (1993) a cultura pode ser vista como um mundo transformado pelos homens. Tais ideias convergem com as falas de Morin (2002, p. 52) quando ressalta que o“homem somente se realiza plenamente como ser humano pela cultura e na cultura”.

Para reforçar as falas acima, foi publicado em um artigo na Folha de São Paulo 20 de setembro de 1993, e neste afirmava que o país muda pela sua cultura e não pela sua economia, nem política, nem tecnologia. O artigo é fala relevante e diz o seguinte“a arte tem o poder de transformar, nem que seja primeiro na ficção, na imaginação”.

Hoebel e Frost (2001) esclarecem que cultura não é nada mais que o resultado da invenção social e é transmitida e aprendida, e os Mattelart e Neveu (2004) complementam que os homens de cultura são os verdadeiros apóstolos da igualdade, mas nos dias de hoje, com uma educação pública segregacionista, igualdade passa a ser uma palavra maldita. Eles não querem igualdade, eles querem poder, querem perpetuação. Querem fazer valer as ideias de Maquiavel (1999) e transformar essa massa de manobra em povo dócil e aterrorizado de forma não ser capaz de encontrar forças e tampouco motivação para transformar e conquistar o mundo, isso porque a cultura tem o poder de motivar e transformar.

Morin (2002) é enfático ao informar que se o homem não dispusesse de cultura, este seria um primata do mais baixo nível. E que nos faz perceber que a repercussão desta decisão tenderá a transformar o povo que clama por cultura seja ela representada em todas suas formas, em verdadeiras bestas a acatarem o que estes corruptores impõem ao sistema. Tal fala é reforçada por Chinoy (2006, p. 58) ao ser enfática quando aduz que “o homem é o único animal que possui cultura”.

Para Wallone para Vygotsky apud Fontes (2005) são a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para sua evolução, ou seja, não teremos uma educação de qualidade sem o apoio da cultura, isso porque educação é transmissão de cultura.

É salientado por Chinoy (2006) que cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, costume, dentre outras aptidões adquiridas pelo homem, mas ela insere neste complexo duas outras palavras que são os pontos chave, são elas a Moral e Lei que infelizmente não encontram-se inseridas nas condutas de nossos corruptos e corruptores representantes.

Talvez com esta atitude em acabar com o Ministério da Cultura, pensou-se a longo prazo em criar indivíduos ainda mais alienados sem conceitos de moral e lei para avaliar se os ministérios criados foram compostos por políticos cuja idoneidade moral é imaculada a ponto de se fazer valer a honra, respeitabilidade, dignidade e bons costumes.

Com a atual política, tinha gente que achava que a situação do Brasil não poderia piorar, mas analisem, com a exclusão do Ministério de Cultura a tendência é haver um desmoronamento no processo educativo e no crescimento do paísperpetuando ainda mais a podre e corruptora elite no poder.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.  Filosofia da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1996.

CHINOY, Ely. Sociedade: Uma introdução à sociologia São Paulo: Cultrix 2006

FONTES, Rejane de S. A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no hospital. Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago 2005, No 29

HOEBEL, E. Adamson& FROST, Everett L.   Antropologia Cultural e Social. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. Cultrix, São Paulo. 5 ed. 2001. p. 1-56.

LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral 7 ed. São Paulo, Atlas,  1999

MATTELART, André & NEVEU, Érik.   Introdução aos Estudos Culturais. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

MORIN, Edgar, José Eustáquio.  Pedagogia Dialógica.. 5 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

RIOS, Terezinha Azerêdo.  Ética e Competência. São Paulo: Cortez; 1993.

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