01/06/2016

Cultura Falocêntrica

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

 

            Percebemos mudanças ocorridas na sociedade desde nossos primórdios, mas nos últimos 30 anos, saímos de um modelo patriarcal cujo pai era o provedor e aliás, este até podia fazer uso da violência contra seus filhos e esposas, e passamos para uma “sociedade mais igualitária”, só que na verdade isso não ocorre, e impera um falocentrismo na cultura brasileira.

            No Brasil, temos um caso de estupro a cada 11 minutos e isso representa a cultura falocêntrica falando alto, roubando a vida de milhões de mulheres e a impunidade passa a ter a vez.

            O triste dos números expostos acima é que nem todo estupro é seguido de denúncia e de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 67% dos casos de violência entre as mulheres são cometidos por parentes próximos ou conhecidos das famílias; 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes e apenas 10% dos estupros são notificados.

            Estas estatísticas mostram que as mulheres são violentadas por quem deveria protegê-las, cujo o corpo deveria ser o seu templo, mas deixa de lhe pertencer, pertencendo ao outro que faz o que for necessário para satisfazer sua bestialidade, visto que são verdadeiras bestas a conviver na sociedade.

            Esposas violentadas por maridos que não sabem se conter e acham que é obrigação da mesma se anular como mulher para satisfazê-los, isso nos faz perceber que muitos estupros também acontecem nos próprios lares, mas tudo por causa de uma cultura machista em que o homem pode tudo e a mulher cabe apenas obedecer e se suprimir.

            Cabe as escolas, inserir uma cultura de respeito mútuo entre os sexos opostos e trabalhar a igualdade entre eles, mostrando que somos seres complementares e que necessitamos um do outro para nosso crescimento harmônico, cujo respeito pela mulher se faça necessário não por ser “sexo frágil”, mas por serem pessoas como os homens que se denominam alfas.

            A Lei Maria da Penha é um mecanismo tímido para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, mas bom seria se nossa sociedade não precisasse de leis como esta, de delegacias da mulher ou qualquer outra distinção que a ampare, assim, saberíamos o quanto estamos evoluídos, mas infelizmente, temos que encontrar meios de “erradicar” de vez a violência contra as mulheres.

            Parece que vivemos em uma Grécia antiga em que o cidadão era apenas o homem livre, os escravos, os jovens, os velhos e as mulheres não podiam exercer a cidadania. A mulher a milhares de anos foi ignorada, ultrajada, violentada e hoje cabe um basta.

            A lei tem que ser mais rígida e se fazer valer com seus rigores para todos que a descumpre.

            Nós professores, precisamos trabalhar em nossos alunos o respeito mútuo e a se colocarem no lugar do outro. Precisamos desenvolver neles, o discutir e o debater de forma educada, trocando idéias e trabalhando com o educando temas no dia a dia de forma que o mesmo se adere e aprenda.

            Temos na educação de qualidade uma forma de erradicarmos muitos problemas sociais, e precisamos focar nesta mesma educação para que não apareçam mais notícias de violência contra a mulher, de estupros, estupros coletivos e/ou comentários sexistas que fomentem qualquer tipo de violência contra a mulher.

            Apesar das mazelas causadas por políticos sujos que representam o câncer da sociedade, precisamos acreditar que a impunidade deixará de existir para todos. É inconcebível um deputado do Partido Progressista falar em bom tom que só “não estupraria” a colega do PT-RS ex-ministra de Direitos Humanos porque ela “não merecia”. Observe a cultura do estupro sendo banalizada inclusive por quem deveria banir e servir de bom exemplo. Cabe uma pergunta nesta situação: “o estupro é um merecimento?”

            Muitos especialistas convergem com o pensamento de uma banalização quanto a este crime hediondo, e contra banalização, usa-se a educação. Precisamos mostrar a estes violadores de corpos que tal prática é repugnante e que este ato destrói vidas e famílias. Precisamos inserir em todas as pessoas uma cultura de respeito com o próximo, de respeito ao corpo alheio.

            Até mesmo em lugares em que se deveriam combater tal prática hedionda o ato acontece, tenha como exemplo as universidades. De acordo com o jornal El País os estupros ocorridos nas universidades brasileiras, diversos deles são abafados e não chegam ao conhecimento público. Estuprar é uma coisa normal que apenas demonstra uma cultura baixa de um povo de educação sofrível.

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