Cultura, trabalho e Educação.[1]
Michele Silveira Azevedo[2]
Thais Gonçalves Saggiomo[3]
Elisabete Silveira Ribeiro[4]
Considerações iniciais:
A trajetória humana, sobre o universo, fez surgir uma ampliação dos espaços cognitivos e dos espaços de experiências entre homens/mulheres e o mundo. A capacidade humana de transformar a natureza caracteriza-se como elementos de construção da cultura. Nossas construções históricas delimitam o espaço que queremos construir enquanto seres pensantes e, nesse processo, criam-se relações de poder intrínsecas ao ser humano.
Segundo FREIRE:
O mundo humano, que é histórico, se faz, para o “ser fechado em si” mero suporte. Seu contorno não lhe é problemático, mas estimulante. Sua vida não é um correr riscos uma vez que não os sabe correndo. Estes, porque não são desafios perceptíveis reflexivamente, mas puramente “notados” pelos sinais que apontam, não exigem respostas que impliquem ações decisórias. (FREIRE, 1999, p. 89).
Homens e mulheres por sua condição antecipam, através de projetos, seu futuro. O conhecimento caminha lado a lado nesta trajetória, construindo a possibilidade de evolução, tecnologia, desenvolvimento, porém nossas indagações iniciais continuam sendo as mesmas: - Quem eu sou? Quem tu és? O que é o mundo?
Olhando para nosso passado, conseguimos o inimaginável, em termos de ciência e tecnologia por exemplo. Em contrapartida, criamos uma série de conseqüências a nossa própria espécie e ao mundo que nos cerca. Cabe, então, questionar nossas relações com esse mundo e com as pessoas que dele fazem parte.
O homem, sendo um ser que produz sua existência por meio do trabalho, como uma ação dirigida e intencional, transforma a natureza e a si próprio, criando e recriando sua cultura. As relações estabelecidas nesse processo tornam-se fatores categóricos para a compreensão do momento histórico em que estamos imersos, determinando-se, dessa forma, como característica marcante de nosso tempo a alienação.
Diante disso, ao longo da história da humanidade, coube à Educação o papel de perpetuar a cultura, como um reflexo do momento em que estamos vivendo. A Educação como um ato político representa, em suas estruturas, a sociedade que a projeta, o objetivo de tal Educação é o enquadramento do sujeito aos padrões exigidos pela sociedade.
Como condição necessária à sobrevivência humana, o trabalho ao mesmo tempo em que humaniza, dentro de uma ótica capitalista de usurpação, leva à alienação, tornando-se um fator de grande contribuição para a perpetuação das mazelas presentes em nosso contexto histórico. Para análise de tal questão, retomemos Marx, sobre a questão da divisão do trabalho:
E, finalmente, a divisão do trabalho oferece-nos o primeiro exemplo de como, enquanto os homens se encontram na sociedade natural, ou seja, enquanto existir a cisão entre o interesse particular e o comum, enquanto, por conseguinte, a atividade não é dividida voluntariamente, mas sim naturalmente, a própria ação do homem se torna para este um poder alheio e oposto que o subjuga, em vez de ser ele a dominá-la.
(MARX, 1984, p. 38/39).
O turbilhão de avanços históricos, que compreende a modernidade é de grande significação para a compreensão do homem contemporâneo. Tais fatos levaram a humanidade a grandes feitos, entre eles a descoberta do novo mundo, as inovação na comunicação, a psicanálise, a ciência. Porém, esses avanços dos quais tanto nos orgulhamos, gradativamente, impulsionaram as relações históricas explícitas no trabalho, definidas por Marx como a causa de nossa alienação. Diante de tal fato, torna-se necessário, por meio do despertar da consciência, fazer com que homens e mulheres, tornem-se sujeitos de sua própria história.
Dessa forma pode-se observar que:
Os homens, pelo contrário, ao terem consciência de sua atividade e do mundo em que estão, ao atuarem em função de finalidades que propõem e se propõem, ao terem o ponto de decisão de sua busca em si e em suas relações com o mundo, e com os outros, ao impregnarem o mundo de sua presença criadora através da transformação que realizam nele, na medida em que dele podem separar-se e, separando-se, podem com ele ficar, os homens, ao contrário do animal, não somente vivem, mas existem e sua existência é histórica. (FREIRE, 1999, p. 89).
Por meio da análise das relações de trabalho, podemos observar que, historicamente, o trabalho braçal encontra-se em um status inferior, relegado à classe baixa. Quanto mais nos absorvemos com o trabalho braçal, como condição de realização, e pela necessidade de sobrevivência, mais nos tornamos objetos, ou seja, usando as palavras de Freire, perpetuamos o ser menos. Segundo o autor, a condição humana é a do ser mais, cabe então tentar romper com as amarras da alienação para tornarmo-nos sujeitos de nossa própria história.
Além disso, que a partir da relação educando/educador, emergem-se categorias de fundamental importância para o entendimento do homem que se pretende construir.
Considerações finais:
O homem novo proposto por Paulo Freire (1987) é o homem que por meio da Educação rompe com as amarras da opressão e passa a ser o dono de sua palavra, nesse processo de transformação e ação, pois reflete-se em uma (re)significação do mundo que o circunda, torna-se um ser consciente de si, de sua condição, impondo-lhe a responsabilidade da amorosidade e do cuidado do outro.
BIBLIOGRAFIA
CHAUÍ, Marilena, Filosofia: ensino médio, São Paulo: Ática, 2005.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido, 16º ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
______________, Pedagogia do oprimido, 17ºed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
_____________. Extensão ou Comunicação? 2º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
FROMM, Erich, O Medo à Liberdade, Rio de Janeiro, 13º ed., Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1981.
GADOTTI, Moacir, Paulo Freire: Uma biobibliografia, São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 1996.
MARX, Karl, Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos, in: Os pensadores, 2º ed., São Paulo, Abril Cultural, 1978.
MARX, Karl, A ideologia Alemã 1º capítulo seguido das Teses Sobre Feuerbach, editora Moraes, São Paulo, 1984.
SCOCUGLIA, Celso Afonso, A História das Idéias de Paulo Freire e a atual crise de paradigmas, 2º Ed.,João
[1] O presente texto foi apresentado ao Curso de Formação de Professores de Espanhol como Língua Estrangeira – Na disciplina de Psicologia da Educação, como material didático.
[2] Assessora Pedagógico 5ª Coordenadoria Regional de Educação – RS – Professora de Filosofia, Pedagoga, Especialista em Gestão Escolar, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas.
[3] Doutoranda – FURG Universidade Federal do Rio Grande, Pedagoga, Mestre em educação.
[4] Professora Efetiva – UFT- Universidade Federal do Tonantins, Pedagoga, Mestre em Educação, Doutoranda – URGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.