29/03/2018

Da ingenuidade à criticidade

Nilton Bruno Tomelin

Uma das funções da escola, talvez a maior, é fazer com que crianças e adolescentes abandonem a consciência ingênua da realidade e construam uma compreensão crítica do contexto em que vivem e de si próprios. Esta ruptura exige a disponibilidade da escola (professores, gestores) em abandonar a zona de conforto da educação bancária para uma realidade libertadora de uma educação problematizadora.

A ingenuidade a ser ultrapassada é identificada pela postura fatalista e conformista de que tudo está assim, por que sempre foi assim e não há razão para ser diferente. Ela é sustentada pela falsa concepção de que alguns poucos são os capazes pelo pensar enquanto uma grande massa serve apenas para cumprir tarefas “menores”. Professores depositam conhecimento e recolhem respostas pré-planejadas. A escola torna-se um banco!

A consolidação da ingenuidade como característica da massa estudantil se dá pela lógica da formação exclusiva ou parcialmente técnica. Pregada como sendo a escola ideal serve essencialmente para difundir a ideia de que os filhos dos trabalhadores devem ser formados para renovar o público meramente trabalhador.

Outra forma de formar uma geração ingênua é proposição da chamada “escola sem partido”, que em verdade prega a postura ideológica conservadora, contrária a discussão de temas pelo viés crítico e reflexivo. Trata-se de uma forma eficiente de impedir crianças e adolescente de pensar e exercitar a reflexão como instrumento de transformação da sua realidade e de si mesmo.

A construção crítica do sujeito compreende a necessidade de inserir no mesmo sujeito a formação do trabalhador e do cidadão. Um sujeito capaz de se sustentar financeiramente e de promover transformações na sociedade em que vive, capaz de imprimir no contexto de sua existência, marcas que garantam que sua participação na história.

Ao mesmo tempo, a consolidação do sujeito crítico se dá pela possibilidade da escola promover amplos debates ideológicos para que cada criança e adolescente seja capaz de fazer suas escolhas. A crítica aqui, não é um posicionamento pessoal frente a uma opinião, mas a adoção de uma postura ativa frente a realidade. Ser ativo, significa ser capaz de identificar, descrever e resolver uma situação problema.

Ser menos ingênuo e mais crítico é pois, um exercício de construção único de sua própria biografia. É saber que estar no mundo não significa uma fatalidade, mas uma oportunidade única de fazer com que o futuro não seja uma mera repetição do passado. Ser menos ingênuo é por assim dizer, ser mais gente!

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×