07/05/2015

De Educação Integral a Depósito de Estudantes?

            De acordo com o novo PNE – Plano Nacional de Educação, até 2020 metade de nossas escolas deverá estar funcionando no horário integral, mas o que isso representaria para nossos alunos e o que acarretaria ao processo ensino/aprendizagem e a cidadania protagônica? Essa ideia não é nova em nosso país.

            Percebe-se com isso a paideia tão esperada pelos gregos antigos e que hoje não passa de utopia para nossa realidade, visto que a Escola Integral em grande maioria virou uma escola com tempo integral no sentido de tempo preenchido de forma estéril, pela mesma não ter uma infraestrutura que consolide sobre bases firmes e sólidas o que é esperada na Escola em Tempo Integral, sem contar que a diferença de muitos reforçam o que é percebido a olhos nus, ou seja, que isso tem sido apenas mais uma forma de se conseguir votos, desviar verbas e iludir a massa.

            Já tivemos educadores com pensamentos assim, pensamentos de uma escola que faria a diferença para seus educandos que trabalharia o ser como um todo, um ser integral, contemplando e auxiliando no desenvolvimento de todas as habilidades que forem capazes.

            Tivemos Darci Ribeiro e Anísio Teixeira que foram referências, sendo este último na Escola Nova. Eles são ícones da educação que sonhou com uma geração menos manipulada e menos marginalizada.

            Darci Ribeiro criou, planejou e geriu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), conhecido por muitos no Estado do Rio de Janeiro como Brizolões, devido ao governo Leonel Brizola de quem ele era vice. Os CIEPs resultaram de um projeto ousado, visionário e revolucionário no Brasil, dando atenção total as crianças e tirando-as dos riscos sociais, oferecendo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal, o que seria uma forma de concretizar o projeto idealizado por Anísio Teixeira.

            A escola em tempo integral hoje, vislumbra uma educação que contemple todo o meio social, emocional, psicológico, físico, afetivo  e cognitivo de nossos educandos, por meio de uma rotina planejada de forma dinâmica e interativa contemplando lazer, descanso, socialização, atividades lúdicas, responsabilidade, respeito, compromisso e autonomia, visando o mais puro objetivo da educação que é alcançar a pessoa naquilo que lhe é mais específico como intelectualidade, efetividade, hábitos fazendo com que os educandos saiam da inércia e sejam verdadeiros protagonistas, transformando a paideia ideia levantada pelos Gregos antigos, como algo aplicável em formar o cidadão perfeito.

            A escola integral busca essa quase perfeição para nossos educandos com atividades que ocupem o tempo das crianças com oficinas criativas como teatro, artes plásticas, música, expressão corporal, ludicidade e socialização, brinquedoteca, atividades dirigidas, jogos, brincadeiras, informática com  jogos didáticos e auxilio para realização de trabalhos. Nessas atividades devem ser trabalhadas na biblioteca a hora do conto, leitura de livros, dedoche, fantoche, vídeos, tudo que fomentará a imaginação das crianças.

            A preocupação e higiene com o corpo será utilizado para que as crianças aprendam a se cuidar, utilizando a higiene, o descanso e a alimentação saudável.

            Uma Educação integral visará também o acompanhamento nas atividades para casa com um estudo supervisionado procurando sanar dificuldades não sanadas em sala de aula.

            Outras atividades auxiliarão a educação voltada pela transformação do ser como cidadão crítico e protagonista, como atividades extra classes ligadas a línguas, esportes, música, artes marciais, hora, culinária e passeio para que os educandos possam vivenciar o que tem sido passado pelos educadores e/ou vislumbrar novas realidades.

            Como comentado acima, essa ideia de uma educação integral que converge com a Paideia, tem grandes vantagens como uma melhora quanto ao rendimento do educando, auxilia o aluno no aproveitamento do tempo ocioso, tempo este que poderia estar sendo aproveitado por algum oportunista malfeitor; Este aproveitamento do tempo,  afasta de certa forma o jovem do risco social como drogas dentre outras criminalidades, sem contar que é uma forma também da criança ficar bem nutrida, pois a alimentação é acompanhada por profissionais que selecionam a melhor alimentação respeitando a fase de casa educando.

            O tempo integral vem também suprir as carências de lazer, cultura e inclusão digital.

            Pode-se perceber que não basta aumentar o tempo de permanência do aluno nas escolas, mas sim, aproveitar ao máximo este fator tempo para que o educando possa se transformar e sair de mero expectador para protagonista.

            A educação é um processo de construção do indivíduo e não veio com o intuito de resolver todos os males, mas talvez, minimizá-los, mas para isso, jamais poderá ser esquecido a variável mais importante que é a família, pois essa não pode deixar suas crianças a revelia, largada a sorte. Uma escola integral não exime os pais de suas responsabilidades como pais, pois sabe-se que a família é a base para toda formação e caráter do indivíduo, pois será em seu leito que ocorrerá o primeiro processo de socialização sem perder o elo entre o afetivo e o cognitivo, transmitindo valores e formando homens de bem.

            Como ressaltado no livro Escola não é Depósito de Crianças, publicado pela editora WAK, percebe-se que quando a família se interessa pela escola, a criança se interessa mais pelos estudos. E melhora o relacionamento da família com a criança e vice-versa, o que é reforçado pelo SAEB/99 – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica quando ressalta que escolas que contam com a parceria dos pais, onde há troca de informações com o diretor e os professores, os alunos aprendem melhor.

            Sêneca (4 a. C.) já afirmava que não se deve ensinar para escola, mas para a vida e a Escola Integral busca preparar o educando para a vida, fazendo com que estes desenvolvam sua autonomia, saindo do estado letárgico e exigindo uma equidade por meio de uma democratização do conhecimento.

            É importante ressaltar que o fato da Escola ser tempo integral não eximirá em momento algum a responsabilidade da família perante seus filhos, pois de acordo com o Artigo 129, inciso V – ECA, cabem aos pais...

“além da matrícula, têm o dever de acompanhar a freqüência e o aproveitamento escolar do filho.

O mero colocar na escola não elide a obrigação dos pais, reclamando a lei atuação no sentido de garantir a permanência, bem como no de observar e participar da evolução escolar da criança ou adolescente, avaliando seus progressos individuais e estimulando-os para que o estudo seja-lhes rendoso.

O descumprimento indesculpável dos deveres relacionados à educação dos filhos faz incidir as medidas previstas no artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo a mais grave a destituição do pátrio poder.”

 

            Ou seja, com ou sem Escola integral, os pais continuarão sendo os responsáveis pela principal educação de seus filhos e estes não poderão fazer da escola um mero depositário.

            Hoje, se visitarmos algumas escolas, veremos professores despreparados, preenchendo o tempo de seus alunos com atividades estéreis e totalmente amparados por um sistema corruptor e por uma família omissa que encarregou a escola a função de educar seus filhos, formando caráter e passando valores que se quer são alcançáveis pelos próprios pais.

            Como o PNE ressalta que o prazo é até 2020, logo, teremos então, um bom tempo para acertarmos as arestas e alcançarmos essa educação de forma a sair dessa utopia e das asas da esperança, fazendo-nos mais atuantes e nos tirando dessa inércia e/ou letargia que já se tornou um Dejavu em nossas vidas.

 

Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade (www.wolmer.pro.br)

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