03/12/2014

Desafios da gestão acadêmica de cursos de graduação na contemporaneidade

Lícia Vasconcelos Carvalho da Silva

1. Introdução

Diante do contexto atual da Educação 3.0, do perfil imediatista e superficial do estudante contemporâneo, dos avanços tecnológicos e da competitividade no cenário educacional, a gestão acadêmica de cursos de graduação é desafiada a superar dificuldades relativas a alguns importantes aspectos, como: a adoção de estratégias metodológicas eficientes que envolvam o estudante contemporâneo no caminho da produção do conhecimento de forma proativa; o desafio para a formação integral para atender às necessidades do mercado de trabalho; a necessidade de destacar o curso no cenário educacional e manter o público de estudantes diante da concorrência de outras instituições, bem como de manter a viabilidade financeira do curso, entre outros.

Somados a essas dificuldades, estão o elevado percentual de professores horistas presentes especialmente nas Instituições Privadas que, comumente, apresentam pequena disponibilidade para envolver-se com o Projeto Pedagógico dos cursos, e a sobrecarga de atividades gerenciais e operacionais a qual o coordenador é submetido.

Nesse contexto, habilidades como a comunicação eficiente, criatividade, liderança e adaptabilidade parecem ser estratégicas no enfrentamento a esses desafios. Nesse sentido, esse artigo objetiva estabelecer relações entre as competências pessoais necessárias ao coordenador de curso e a adoção de estratégias para o enfrentamento dessas dificuldades.

 

2. Mudanças no paradigma educacional e desafios para atualização dos Projetos Pedagógicos dos Cursos

Conforme dados da UNESCO, o contexto atual da Educação Superior prioriza a formação integral do indivíduo em seus aspectos cognitivos (conhecimento), de habilidades e de atitudes para o pleno exercício profissional atendendo às exigências do mercado relativas ao trabalho em equipe, à educação permanente, às habilidades para resolução de conflitos etc. Trata-se de desafios na formação profissional que devem ser trabalhados nos Projetos Pedagógicos pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) dos cursos.

Somado a isso, as IES já estão recebendo estudantes agarrados à tecnologia, dependentes dos dispositivos móveis e interessados em fazer apenas o que lhes traz prazer, o que lhes parece ter sentido. Essa aprendizagem significativa também representa um desafio à gestão acadêmica do curso, que precisa mediar mudanças nas práticas pedagógicas para atender à necessidade da formação integral para o mundo do trabalho, fundamentada numa aprendizagem transformadora de realidade e motivadora para os estudantes.

Ocorre que todas essas mudanças no paradigma educacional implicam na adoção de práticas pedagógicas e estratégias avaliativas mais eficientes, que estão diretamente relacionadas ao entendimento do papel do professor na atualidade. Nesse contexto, ainda se observa resistência de muitos docentes para atualização das suas práticas. Parte dessa resistência parece relacionar-se ao desconhecimento de metodologias inovadoras, centradas no estudante, que atendam ao perfil digital e imediatista dos alunos contemporâneos; e parte dela parece se justificar pela dificuldade em entender o professor como mediador e integrador de conhecimento, e não mais de como detentor e centralizador do conhecimento.

Diante disso, o coordenador de curso precisa exercer suas habilidades de comunicação e liderança persuasiva para conquistar o apoio de sua equipe de docentes, começando pelos membros do NDE, bem como buscar estratégias junto à IES de capacitação dos professores para o uso de metodologias inovadoras, especialmente relativas ao uso de tecnologias de informação e comunicação na educação.

 

3. Desafios da concorrência entre as Instituições de Ensino Superior

A realidade de várias instituições de ensino oferecendo o mesmo curso de graduação em regiões geograficamente próximas também desafia o coordenador de curso a conquistar e a manter os seus estudantes vinculados.

Entendemos que esse desafio precisa ser enfrentado por uma equipe integrada que envolva, além da coordenação do curso, outros vários setores da IES, como o de Comunicação e Marketing, que deve investir em ações para divulgar o perfil e o diferencial positivo do curso e, portanto, precisa estar bem próximo às coordenações de curso; a Secretaria Acadêmica, que pode fornecer dados sobre o desempenho acadêmico dos ingressantes, evidenciando aqueles com potencial para evasão; o setor financeiro, que deve cada vez mais aprimorar os sistemas de financiamento do curso; além da própria Diretoria da IES, que precisa investir na profissionalização da gestão, inclusive por meio da oferta de capacitação em gestão mercadológica para os coordenadores de curso.

Todo esse esforço alcança maior sucesso se os envolvidos no processo se identificam com a proposta do curso e estão motivados a ressaltar seus pontos fortes entre a comunidade acadêmica (professores e alunos) e de funcionários, bem como ao público externo. Nesse sentido, as habilidades de liderança, criatividade e gestão de equipes que o coordenador de curso apresenta são determinantes para o êxito.

 

4. Desafios relativos à avaliação externa e interna dos cursos de graduação

A avaliação dos cursos é um processo muitas vezes sofrido, porém necessário. Do ponto de vista externo, o curso é avaliado pelo Ministério da Educação (MEC) especialmente por meio dos parâmetros relativos ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que contempla, além de uma avaliação das condições de infra-estrutura, corpo docente e perfil social do aluno etc, a avaliação do desempenho cognitivo dos estudantes por meio de uma prova extensa e caracterizada pela integração de conteúdos.

Alguns relatos de estudantes que se submetem ao Enade evidenciam a falta de familiaridade deles com o formato das questões e com a extensão da prova. Nesse sentido, o coordenador de curso precisa acompanhar as ferramentas de avaliação utilizadas pelos docentes em suas atividades de sala de aula e desenvolver estratégias para minimizar os danos provocados pela dificuldade de interpretação de textos que os estudantes costumam apresentar. Paralelamente, as fragilidades gerais apontadas pelo questionário do aluno devem ser consideradas para a adoção de medidas corretivas.

No âmbito interno, o curso deve ser avaliado, dentre outros meios, pela Comissão Própria de Avaliação (CPA). Entende-se que a CPA e as coordenações de curso precisam manter relação estreita para que os dados evidenciados no processo avaliativo sejam trabalhados pelos cursos a fim de promover melhorias e reforçar os aspectos exitosos. Em paralelo, também é interessante a adoção de instrumentos de avaliação do desempenho individual e coletivo dos alunos. Os resultados podem ser parâmetro do desempenho médio do curso e podem gerar um histórico de evolução do aprendizado das turmas, bem como apontar os conteúdos melhor apreendidos e os que precisam de maior investimento. Essas outras estratégias avaliativas precisam ser planejadas pelo NDE do curso e sensibilizadas junto ao corpo docente e discente e representam, sem dúvida, instrumentos de melhorias para o curso.

5. Considerações finais

No contexto atual da educação superior, o coordenador de curso é provocado a superar diversos desafios relativos aos aspectos acadêmicos e mercadológicos. Suas habilidades pessoais e gerenciais são decisivas para o sucesso da sua gestão, dentre elas, a criatividade e a habilidade de liderar equipes de alto rendimento.

Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de capacitação desse profissional nas suas diversas áreas de atuação, como em gestão de pessoas, gestão mercadológica, uso de Tecnologia na Educação e outras. Além disso, o coordenador de curso precisa ter apoio do NDE e dos diversos setores da IES, como financeiro, marketing, CPA e Secretaria Acadêmica no exercício de uma gestão colaborativa. Disso depende o êxito do curso em cada momento do seu ciclo de vida.

 

6. Bibliografia

Desafios e perspectivas da educação superior brasileira para a próxima década /organizado por Paulo Speller, Fabiane Robl e Stela Maria Meneghel. Brasília: UNESCO, CNE, MEC, 2012. 164 p.

Gabriel Mário Rodrigues. Funções do Coordenador de Curso: Como “construir” o coordenador ideal. Brasília: Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. Disponível em: http://www.abmes.org.br/public/arquivos/publicacoes/ABMESCaderno8.pdf

O novo papel dos coordenadores de cursos. Disponível em: http://www.aprendervirtual.com.br/noticiaInterna.php?ID=57&IDx=43

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