22/05/2017

Desejo não é direito: um desafio ético para uma boa convivência!

Nilton Bruno Tomelin

A análise dos tempos contemporâneos exige uma múltipla forma de discussão sobre o comportamento humano para se poder abstrair algumas constatações. Mário Sérgio Cortella sugere uma discussão em torno da concepção de que desejo não é direito. Sua preocupação inicial é relacionada ao comportamento infantil, mas é facilmente aplicável à todos os humanos. Não é de se estranhar também a concepção de que esta confusão na infância produz adultos convencidos de que o desejável assume um caráter de direito, produzindo por vezes, violência, intolerância e morte.

O entendimento de que o desejo é direito sugere que uma vez desejado algo, é permitido fazer qualquer coisa para conseguir o que supostamente deve ser seu. Os limites nestes casos são os instrumentos que conferem civilidade e habilitam o sujeito ao convívio comunitário. O controle do desejo e o respeito ao desejo e ao direito do outro estabelecem uma relação ética entre os sujeitos, instituindo laços de socialização e afetividade.

A ausência destes laços gera profundos problemas em diferentes áreas da existência humana. No campo político, por exemplo, o desrespeito à ética nas relações, sustentada pela supremacia do desejo em relação ao direito, estabelece a chantagem como instrumento para exigir que algo lhe seja dado. Notadamente esta chantagem manifesta-se ainda mais ameaçadora quando convertida em corrupção, subvertendo direitos coletivos em nome de desejos pessoais.

No contexto escolar há uma forte intervenção da supremacia do desejo, frente ao direito. O descontentamento diante de um ambiente de aprendizagem inadequado e de qualidade inferior deve ser combatido, denunciado e ser objeto de constante crítica para que o direito de aprendizagem seja garantido à todos. Entretanto, o ímpeto de impor um desejo individual sobre o coletivo, geralmente característico de crianças mal educadas (por que possuem pais que não sabem educar) os transforma em sujeitos incapazes de conviver em grupo, tampouco habilitados e emitir opiniões ou críticas.

Em verdade, é possível dizer sem receio de errar que o despreparo de quem educa gera sujeitos incapazes de compreender seu protagonismo como sujeitos de desejos e direitos convivendo com outros igualmente dotados de direitos e desejos. A concepção de que somos diferentes enquanto sujeitos mas iguais como cidadãos é o que sustenta nossa capacidade de “viver e deixar viver”. O controle baseado em limites, não é sinal de autoritarismo repressivo, mas de um nível de civilidade necessário à quem pretende ver seus direitos respeitados e seus desejo considerados.

Por outro lado, é fundamental na educação (formação) de crianças e adolescentes incutir-lhes o dever de manifestar seus desejos, aflorar suas emoções e saber conviver as dos demais. O fato de não existir vida humana isolada, impõe que se aprenda desde cedo que o direito de um convive como o direito do outro, ao contrário do que muitos acreditam quando afirmam que o direito de um termina onde começa o do outro.

Pequenos detalhes, que se revelam receitas de bem viver, podem contribuir na formação de pessoas melhores, avessas à violência e às violações e prontas para serem afetadas pelo afeto. Afeto que não é sempre uma sinalização positiva, mas uma imposição amorosa de limites, virtude de quem materializa seu amor em forma de exemplo e educação para o convívio pacífico, justo e ético.

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