Distância do Ensino e Ensino a Distância: Um Mercado Promissor
Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br
O mercado da educação é sem dúvida alguma, um dos mais rentáveis para os capitalistas. Muitas instituições percebendo isso, resolveram simplesmente criar cursos a distância. O que era para ser uma oportunidade para muitos devido a dificuldade como fator tempo e também deslocamento para uma instituição presencial, poderá ser um pesadelo e um investimento sem retorno esperado, se a instituição não trabalhar este “cliente” de forma a desenvolver sua criticidade e protagonismo.
Não é uma modalidade recente, pelo contrário, data-se do século XIX e exigia uma certa autonomia do estudante, e sobre autonomia, temos como teórico Jean Peaget com o construtivismo, que é um método que implica em um saber não concluído, pois o mesmo está em incessante construção e criação, e nessa incessante construção, o professor passa a ser visto como um facilitador apenas, recebendo um papel secundário.
Para Teixeira (2010) não existe um único modelo de educação, e a escola não é o único espaço para que isso ocorra. O autor ainda reforça que no século XIX nos Estados Unidos aconteceram as primeiras experiências de educação a distância com cursos livres por correspondência.
Para o autor, a consolidação da "Educação a Distância ocorreu em 1969 com a criação da Universidade Aberta – Open University, na Inglaterra" e a instituição fez-se valer de material impresso, televisivo dentre outros recursos que a mídia permitisse.
Teixeira (2010) é enfático ao ressaltar que a Educação a Distância é um desdobramento da Pedagogia Tecnicista mediante a um caráter técnico, descontextualizado e tendo como modelo, um estilo fordista/taylorista, que para Arruda (1997) trata-se de uma massificação, ou seja, educar para o trabalho.
Nele não se ensina a pensar, a ter curiosidade e de acordo com Morin (2002), as interrogações constituem o oxigênio para proposta de conhecimento.
Niskier (2004) salienta que, com o Ensino a Distância o professor adquire um papel de tutor, orientador ou facilitador. Para ele, essa modalidade é como um grande horizonte para o ensino, todavia, com a pedagogia tecnicista, Saviani (2001, p. 15) ressalta que ela contribuiu para "aumentar o caos no campo educativo, gerando tal nível de descontinuidade, de heterogeneidade e de fragmentação, que inviabiliza o trabalho pedagógico", causando uma neutralidade científica tendo uma organização de forma parcelada ou racional.
Saviane (2001) esclarece ainda, que este processo tecnicista teve o intuito de minimizar as interferências subjetivas de forma a não por em risco a eficiência dessa pedagogia. Para isso se efetivar, fazia-se valer então de um processo fordista na educação, com um comportamento respondente controlado por um estímulo precedente e implicando em um reflexo, ou comportamento involuntário, e também em um comportamento operante, com um foco nos estímulos que seguem uma resposta.
Pode-se perceber que para uma pedagogia tecnicista o homem é produto do meio e se valoriza mais a tecnologia que o professor. Este profissional é visto apenas em segundo plano, seja como um tutor ou mediador e, em relação a transmissão de informação, essa não poderá fugir a respostas objetivas .
Cabe perceber através de Morin (2002) que o conhecimento gerado pelas informações ou dados isolados não é o suficiente para um protagonismo, dito isso, necessitamos situar tais informações em seu contexto, para que assim, o conhecimento adquira um sentido, caso contrário, fomentaremos uma subcultura que alimentará os bolsos de capitalistas oportunistas nesta seara fértil, causada pelo déficit educacional e cultural que fazem parte de nossa amarga realidade.
Muitos defendem o Ensino a Distância como democratização do ensino, mas Baudelot (1991) faz uma ressalva de que a democratização consiste em melhorar notavelmente a educação/ensino recebida pelos menos favorecidos, e não simplesmente acrescentar o número de pessoas não contempladas, aumentando consequentemente a massa de manobra composta por pessoas cada vez mais alienada e analfabetas funcionais com um diploma na mão.
Um problema exposto em um ensino a distância está relacionado ao afastamento social entre aluno x aluno, aluno x professor e professor x professor. Para Lakatos (1999) precisamos deste contato social, desta interação que implicará na ação social, pois já era dito por Durkheim, o criador da Sociologia da Educação que o “Homo Sapiens, é sempre e na mesma medida, homo socius”.
Há de se levar em consideração que as vantagens em um curso a distância devem ser consideradas, são elas flexibilização de horários, preços acessíveis, comodidades, além da ausência quanto a necessidade em se deslocar para uma instituição presencial.
Em contrapartida, os financiamentos realizados pelo governo Federal por meio de empréstimo ou concessão, tem ajudado muitos a se manterem em uma instituição presencial, encontrando-se vantagens como interação com colegas e professores; participação mais ativa nas disciplinas lecionadas, fazendo com que o aluno seja mais protagonista de seu aprendizado; permuta de informações com colegas; possibilidade de se ter uma network mais eficiente; além da aprendizado e respeito por opiniões divergentes do aluno.
O intuito aqui não é discriminar o Ensino a Distância e tampouco dar créditos a um ensino presencial. O fato está na banalização do ensino em massa, sem priorizar a qualidade, continuaremos formando uma massa de manobra, facilmente manipulada pela elite opressora, isso porque, esta pedagogia tecnicista, encontra-se fundamentada em um pilar behavorismo (conduta, comportamento) sem trabalhar a subjetividade e individualidade do aluno, ou seja, é algo meio pavloviano.
Nós cidadãos, temos que ser críticos, independente a instituição ser presencial ou a distância, pois a educação superior deve fomentar “a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo” (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, art. 43, I) o que é reforçado por Demo (2000) quando aduz que devemos repelir a reprodução e fugir as propostas instrucionistas, nas quais cabe ao professor dar aula e ao aluno apenas escutar, tomar nota e fazer prova. Para o autor, este instrucionismo fará do aluno um condenado a domesticação subalterna.
Pode-se perceber que todo este instrucionismo, nos leva ao conceito tão repelido por Freire (1996) que é denominado como ensino bancário, ensino que destrói a criatividade tanto do aluno quanto do educador.
Para o autor, não há ensino sem pesquisa, pois na pesquisa se constata, intervém e se educa. Cabe observar de acordo com Freire (1999, p. 21) que a presença do educador diante do aluno se faz de suma importância, justamente por causa do diálogo, isso para ele é “indispensável ao ato cognoscente”, e afinal de contas, somos todos seres pensantes e deveremos ser também atuantes.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de A. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2000
ARRUDA, Maria Lúcia de,. História da Educação. São Paulo: Moderna. 1997
BAUDELOT, Cristian. “A sociologia da educação: para quê?”. In: Teoria & Educação, nº. 3, Porto Alegre, 1991.
DEMO, Pedro. Saber Pensar. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000 – (Guia da Escola Cidadã; v. 6)
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral 7 ed. São Paulo, Atlas, 1999
MORIN, Edgar, José Eustáquio. Pedagogia Dialógica.. 5 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.
NISKIER, Arnaldo. Paradigmas da educação a distância. Revista Ensaio, Fundação Cesgranrio, v. 12, n. 44, jul./set. 2004.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. São Paulo: autores associados, 20001.
TEIXEIRA, Adla Betsaida Martins organizadora. Temas atuais em Didática. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. São Paulo: autores associados, 20001.