07/06/2016

Docência como um Bico

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

            Como um país que quer desenvolver uma educação de qualidade consegue ter profissionais que usam dela como um bico, um quebra galho?

            Tudo bem que a crise afetou a todos, e que muitos resolveram melhorar o orçamento com umas aulinhas aqui outra ali, mas nada formal, ou seja, em sua própria casa com aulas de reforço, entretanto, a grande maioria chega a competir de igual para igual com profissionais que estudaram para tal e se dedicaram a isso.

            Muitas instituições contratam estes “profissionais do bico” para lecionarem, e descartam quem tanto se preparou para tal.

            Existem muitos casos em que estes profissionais deixam de dar aulas porque ficaram atarefados em seu principal trabalho, isso porque o lecionar é algo secundário, ou, simplesmente usam da tecnologia da informação como uma bengala para suas mal dadas aulas, fazendo uso de apresentações de terceiros encontradas na internet e, estas aulas se resumem em uma simples leitura de slides, considerando dessa forma como aula dada, e isso tudo é porque, este mesmo “professor” não teve tempo de preparar um conteúdo coerente com o que está proposto em seu plano de aula.

            O problema é que enquanto as instituições estiverem sendo coniventes com esta situação, haverá pessoa fazendo da educação um bico. Eles sempre estarão professores e nunca serão professores, o famoso ser e estar.

            Em uma entrevista dada por mim ao Jornal o Dia em Fev/2013 (www,wolmer.pro.br/artigos.htm) foi comentado que o professor é uma profissão movida pela vontade em se fazer mudanças sociais, embora seja uma profissão ignorada pela elite.

            Representamos uma das classes de profissionais completos, pois são centenas de horas de estudo, especializações, reciclagens e aperfeiçoamentos, tudo isso para se oferecer uma educação de qualidade e protagônica, visto que o professor não é apenas o profissional que domina o conteúdo, mas também, desenvolve uma habilidade quanto ao relacionamento com as pessoas, não se resumindo apenas em um transferir conhecimento.

            O professor precisa de uma qualificação que seja justificada quanto a discussão do objeto do contexto. Não é um simples ensinar, é um ensinar contextualizado com a realidade de seu educando.

            Nós professores somos profissionais intelectualizados e também com uma intelligentsia, que compreende as carreiras que produzem saber, ideias, formas e concepções. O professor trabalha a educação como um processo psicológico e sociológico indissolúvel no qual, desenvolve a autonomia do seu aluno e não se limita apenas a um mero processo de ensino.

            O verdadeiro profissional da educação não a vê o ato docente como um bico, ele sabe que toda educação implica em uma ação, e ela não é neutra. Ela tem a função de suscitar e desenvolver no educando estados morais e intelectuais que lhes darão subsídios para o enfrentamento da sua realidade e a sua mudança necessária, fazendo-se valer de sua cidadania e protagonismo.

            Cabe ao professor perceber as nuanças para imprimirem os sentimentos de socialização e harmonia com o meio ao qual se conviverá. 

            Não podemos fomentar a educação como um bico. Temos que vê-la como uma profissão de grande relevância para formação da sociedade, lembrando que todos os profissionais (médicos, juízes, advogados, etc...) passaram por nossas mãos e não seriam o que são, se não tivesse tido um profissional habilitado.

            Não vemos professores fazendo “pequenos bicos” de engenheiros, médicos, enfermeiros, advogados, economistas, etc.. e assim, que não tenhamos estes mesmos profissionais fazendo bicos de professores.

            Como dizia José Ivan Pimenta Teófilo em "as bem aventuranças do Educador", o professor tem consciência do conflito social e tomando partido pelo projeto social dos empobrecidos, pois sabe que estes contribuirão para transformação da sociedade.

            O professor tem habilidades em articular o saber científico com o popular, ajudando as classes a se firmarem suas identidades culturais; dialoga com seus alunos resgatando a comunicação pedagógica criadora do processo educativo desopacizando ideologicamente os conteúdos a serem ministrados, iluminando as práticas com sonho de um futuro mais promissor no qual as pessoas aprenderão através das relações sociais com lições de justiça e solidariedade e com ações que representam sementes de uma nova sociedade.

            Falta tudo isso em um profissional que faz da docência um bico, e talvez seja por este mesmo motivo que as instituições insistem em manter essas pessoas em seu corpo docente, visto que os mesmos, limitam-se os alunos a mediocridade e ao sofrível para que as coisas permaneçam no seu status quo. 

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