Educação Neoliberal, o Câncer da Sociedade
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Para Santos, Dutra Júnior e Silva (2024)[1] os ideais neoliberais ganharam forças a partir da década de 1990, começando com o governo Fernando Collor de Mello e intensificados nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o que reduziu drasticamente o papel do Estado e foi a culminância das privatizações de empresas e/ou serviços, mas o que afetou drasticamente a sociedade foi a visão de uma educação como mercadoria e, com isso, implicou-se no sucateamento da educação pública, facilitando o mercado para o setor privado.
A visão da educação como uma mera mercadoria voltada para o mercado subtrai do processo ensino-aprendizagem a formação humana, cidadã e cultural, trazendo como consequências a exacerbação das exclusões e desigualdades sociais, bem como o próprio sucateamento do ensino público.
A educação como uma mercadoria facilita currículos aligeirados que contemplam uma formação flexível e obtusa, o que, de certa forma, compromete e até mesmo avilta todo o processo educacional.
A educação neoliberal impõe um discurso de meritocracia e individualismo e a população sabe que meritocracia funciona como uma narrativa validada pela teologia do domínio para manter o controle sobre a massa e, em nosso país, a meritocracia remete ao sistema de castas que nada mais é que uma divisão social hierárquica e hereditária que será determinada pela posição social, profissão e até casamento[2] e é exatamente essa lógica que alguns políticos tentam impor em nosso país.
Para Crochick (2021)[3] a educação deveria ter um viés político para analisar as forças sociais existentes de forma a impelir ímpetos fascistas a ponto de banalizar genocídios e até mesmo a justificá-los.
Favero, Consalter e Tonieto (2020) apud Crochick (2021) ressaltam que a avaliação padronizada pelo Estado trata-se, na verdade, de um caráter controlador da educação com fulcro de empobrecer ainda mais a formação dos estudantes oriundos da classe trabalhadora, visto que, nas avaliações externas como Sistema de Seleção Unificada (SiSU), Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), as áreas de ciências humanas têm menos peso.
Para Crochick (2021), trata-se de uma forma de concentração de renda, o que é corroborado em meus livros[4], quando ressalto que não existe neutralidade na educação, pois a própria neutralidade é um ato tendencioso e doutrinário.
A realidade de nossa sociedade, para ser alterada, faz-se mister mudar o sistema educacional e não vê-la mais como uma mercadoria, e sim como uma ação transformadora, mas para isso, é necessário trabalhar em nossos alunos três tipos de consciências, que são: Consciência de Classe, Consciência de Raça e Consciência Política.
Quando trabalharmos conceitos voltados para estas consciências, teremos a realidade brasileira transformada, isso porque a educação parará de gerar massa de manobra e criará cidadãos críticos e conscientes.
Para se ter uma ideia do quanto precisamos destas consciências, em um país continental, temos uma representatividade de 56% de negros, 51,5% de mulheres, todavia, a representatividade no Congresso Nacional é de 26,2% de negros e 17% de mulheres na Câmara dos Deputados e 13% no Senado.
Dos 594 parlamentares no Congresso, 273 são empresários e 160 são fazendeiros, o que representa 72% dos deputados, e temos uma população de maioria negra, mulher e mais de 100 milhões de trabalhadores com carteira assinada, a questão é, onde estão seus representantes no Congresso Nacional?
A falta de consciência política, de raça e de classe permite que essas pessoas que estão no poder, continuem por lá, aumentando as diferenças sociais, o descaso e até mesmo a corrupção.
[1] SANTOS, Wilson da Silva; DUTRA JÚNIOR, Wagnervalter; SILVA, Genilson Ferreira da. Educação e Neoliberalismo no Brasil nos anos de 1990: o desmonte da educação pública. Revista de Estudos em Educação e Diversidade - REED, [S. l.], v. 5, n. 12, p. 1–24, 2024. DOI: 10.22481/reed.v5i12.13716.
Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/reed/article/view/15891. Acesso em: 27 nov. 2025.
[2] TAVARES, Wolmer Ricardo. A Hipocrisia Política por Trás do Fim do Valor do Diploma. Rev. Gestão Universitária. ISBN 1984-3097. Set. 2025. Disponível em: <http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/a-hipocrisia-politica-por-tras-do-fim-do-valor-do-diploma>
[3] CROCHICK, J. L.. Educação, neoliberalismo e/ou sociedade administrada. Educar em Revista, v. 37, p. e80472, 2021.
[4] TAVARES, Wolmer Ricardo. Educação e a não Neutralidade. São Paulo: Ícone Editora. 2024
TAVARES, Wolmer Ricardo. Educação uma Questão de Politizar. São Paulo: Ícone Editora. 2022
TAVARES, Wolmer Ricardo. Educação um Ato Político. São Paulo: Autografia. 2019