26/09/2016

Educação Pública e o Feijão no Algodão

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

 

            Existe uma experiência que algumas escolas aplicam nos primeiros nos primeiros anos da educação infantil que é a de plantar feijão no algodão. O objetivo dessa experiência é mostrar para os alunos todo o processo de germinação da semente, isto é, o princípio do ciclo de vida de uma planta e a necessidade de elementos essenciais para seu crescimento, como água, nutrientes e luz.

            O problema é que a plantinha não poderá ficar sempre no algodão, e assim que ela  estiver crescidinha, será necessário mudá-la de ambiente, isto porque sua reserva nutritiva já terá acabado, e ela encontrará o que é necessário para seu crescimento na terra, logo, se a mesma ficar sempre no algodão, morrerá.

            Fazendo uma analogia com as ações voltadas para a educação pública, estas têm sido como plantar feijão no algodão, e o pior é que este feijão ficará sempre no algodão mesmo sabendo que morrerá.

            Através disso, os políticos estão criando o que nós educadores tanto lutamos para evitar, que são seres néscios e alienados para aumentar ainda a massa de manobra de um governo que age mediante imbecilidades.

            Políticos com sua demagogia embasada pela nuncionpolítica, iludem mais uma vez a massa amorfa e sem discernimento, informando que é necessário uma mudança na educação.

            Mudanças são necessárias para o desenvolvimento de uma nação principalmente se partirmos do pressuposto que toda educação deveria implicar em mudanças e em um devir, justamente porque é um momento em que ela tira o ser da completa ignorância e o faz consciente no mínimo de seus direitos e deveres.

'           Verdadeiras mudanças não são realizadas a base de medidas provisórias e canetadas, mas através de um processo democrático, pois educação visa a democracia e democracia não é imposição como aconteceu com essa reforma

            Uma mudança na educação deve ser oriunda de profissionais atuantes na educação, e não um grupinho elitizado de pseudo-educadores jurássicos que ficam em suas salas sem sequer conhecerem a realidade das escolas.

            Estes, querem apenas números, querem mostrar o feijão crescido mas que em breve morrerá sem nutrientes necessários para seu total crescimento.

            São usurpadores da educação chefiado por corruptores da política acabando de vez com o sonho de muitos em oferecer uma educação pública de qualidade.

            São políticos e/ou empresários torcendo por este golpe, porque na verdade é mais um duro golpe na então sofrível educação brasileira para assim, aumentar o comércio da educação, pois para se conseguir uma qualidade mínima, alguns privilegiados financeiramente terão que transferir seus filhos para escolas privadas.

            Este nefasto ato, reforça o que foi publicado em maio de 2015 pela Revista Gestão Universitária sobre o texto Apagão dos Professores (http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/apagao-de-professores) sobre a baixa procura e evasão de profissionais com licenciatura, pois conta na reforma que as pessoas de “notório saber” poderão lecionar, isso implica que não será mais prioridade os profissionais licenciados.

            Nesta reforma do Ensino Médio, o usurpador mor utilizando de sua demagogia, informa aos menos esclarecidos que infelizmente é a grande maioria do país, de que o seu projeto tem a função de “Ajudar os cidadãos a perseguir seus sonhos”. Perseguir sonhos? Nem todos sonham em ser políticos e enriquecer de forma ilícita como temos visto em nosso país. Nem todos tem o sonho de ser corrupto. Muitos, apesar dos pesares, sonham em ter uma profissão digna e poder dar sustento a seus familiares e uma qualidade de vida melhor.

            Infelizmente, não formaremos seres pensantes e críticos. Estamos formando carregadores de piano. Estamos voltando ao tempo da mão de obra, ou seja, precisamos apenas das mãos das pessoas a digitar o número do candidato na urna eletrônica a perpetuar as ideologias massificadoras e a proliferar o aviltamento e consequentemente a miséria do povo.

            Demo em seu livro Saber Pensar publicado em 2000 pela Editora Cortez, nos informa que a maior miséria é o cidadão não ter condições de prover o seu próprio sustento, logo, o autor ressalta que a ignorância é o cerne da pobreza, pois Demos esclarece que pobreza é estar privado de construir suas próprias oportunidades.

            Souza adverte em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado em 2007 pela Editora Autêntica, que a miséria é a mãe dos grandes crimes, e de acordo co Rousseau apud Souza, são os soberanos que fazem os miseráveis, e isso é justamente o que estamos presenciando, pois, lamentavelmente perderemos toda uma geração só para perpetuar essa política vil e corruptora.

            Assim como foi ignorada a constituição, com mais este ato está sendo ignorado também a LDB de 1996 e as Diretrizes Curriculares Nacionais que esclarecem quanto a formação do magistério exigindo complementação pedagógica de mil horas de licenciatura para diplomados que tenham intenção em lecionar, e com essa reforma, qualquer um que tenha “notório saber” estará apto a lecionar ou fingir que leciona, já que dará no mesmo, ideias que divergem completamente dos dizeres de Aranha no seu livro Filosofia da Educação publicado em 1996 pela Editora Moderna. A autora destaca três aspectos importantes na formação de um profissional da educação que são qualificação na qual o educador deverá adquirir os conhecimentos científicos indispensáveis para o ensino de um conteúdo específico; formação pedagógica que implicará na atividade de ensinar superando os níveis de senso comum, tornando-se uma atividade sistematizada e uma formação ética e política no qual o educador deverá educar a partir de valores visando sempre um mundo melhor.

            Com essa medida provisória, apenas as disciplinas de português e matemática farão parte dos componentes curriculares obrigatórios no ensino médio, vale lembrar que este mesmo ensino consta de 13 disciplinas obrigatórias para os seus três anos.

            Com este ato ditador, a definição de democracia passa a ser outra, não existe mais a coletividade e sim “canetagem” para impor uma vontade esmagadora a uma classe miserável, o que nos faz perceber que nossos feijões estão com os dias contados.

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