Educação Pública e o Manifesto dos Jovens
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br
A mídia está omitindo o manifesto de jovens estudantes secundaristas e também universitários quanto as ocupações das escolas sob a bandeira da educação e sem manipulação política de oportunistas aproveitadores.
Essa mesma mídia está também ocultando o brilhante discurso de uma jovem de apenas 16 anos, chamada Ana Júlia, que discursou com propriedade e paixão na Câmara do Paraná, fazendo o pronunciamento em defesa da legitimidade das ocupações das mais de quatrocentas escolas ocupadas em todo Brasil, como forma de protesto por uma educação pública de qualidade.
Os motivos das ocupações são: descaso do sistema em colocar turmas com mais de 50 alunos sem material didático e sem ventilação, sem merenda escolar, sem porteiros; salários dos professores sem aumento desde 2014 e com planos de assim ficar até 2018; pela imposição arbitrária do PEC 241/2016 sem ouvir e/ou discutir com as partes envolvidas neste processo; violência sendo a companheira destes jovens que lutam pelo ideal de uma educação de qualidade, violência essa exercida pelo excesso de força de uma polícia militar covarde e truculenta, que trata o futuro de uma nação como verdadeiros marginais.
Cabe ressaltar que as ocupações são feitas por jovens estudantes de forma pacífica e ordenada, por cidadãos que aprenderam a ser críticos e buscam a sua transformação social.
Apesar de nossa educação pública ser alienadora, cabe a nós educadores, darmos o melhor para que outros adolescentes possam lutar ainda mais por seus direitos e por seus ideais, e que mesmo com esta sofrível educação, consigamos auxiliar outros educandos como Ana Júlia e estes façam florescer sua criticidade e serem exemplos vivos de uma juventude pensante, que não se calará perante a opressão do sistema maculado pela corrupção e com as mãos sujas de sangue pela omissão, isso porque omissão é crime e como dizia Chico Xavier, "a omissão de quem pode e não auxilia o povo, é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade inteira", ou seja, o político que se omite por interesse próprio, suja seu caráter e deixa de ser digno de representar o seu povo.
Ana Júlia representa hoje a voz dessa juventude dada por muitos como alienada e inerte. Quem diria que mesmo no meio de uma seara pensada outrora como perdida, encontraríamos flores a levar sua beleza e seu perfume aos campos e contar com as abelhas a polinizarem, para que outras flores como esta possam surgir.
Como dizia Geraldo Vandré em sua música pra não dizer que não falei das flores, citava as flores vencendo o canhão, e temos nela o nosso mais forte refrão para esta juventude de movimento apartidário que levanta a bandeira da educação.
A jovem Ana Júlia, levanta uma questão a muito tempo hasteada por nós educadores, e essa questão, é justamente saber que futuro terá o Brasil mediante a uma geração sem senso crítico?
Voltamos a trabalhar sob o prisma da pedagogia dos dominantes, muito ressaltada por Freire quando esclarece que é prática da dominação e isso tudo que o Sistema está fazendo é dominar toda uma geração de jovens, ceifando sua criticidade e transformando-a em verdadeiros idiotas a acatar as arbitrariedades deste sistema que hoje, mais que nunca, representa o câncer da sociedade.
Delors em seu livro Educação um tesouro a descobrir, publicado pela editora Cortez em 2001, é enfático ao dizer que a educação deve ser vista como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social, o que infelizmente no meio de milhares de alunos, pouquíssimos tem desenvolvido este trunfo.
Pode-se perceber de acordo com Freire em seu livro Educação como prática libertadora, publicado pela editora Paz e Terra em 1980, que nosso atual sistema tem representado a exploração, a miséria, a violência e a injustiça, e cabe a nós educadores, desenvolvermos em nossos jovens o tão almejado senso crítico, para que estes possam aspirar por liberdade, justiça e transformação social.
Nosso Estado nunca foi um bom representante de seu povo, isso já nos mostra a história, um governo eleito por muitos para governar para poucos, mas nessa atual conjuntura os desmandos e omissões deste mesmo governo estão gritantes e levando uma nação a mais pura e verdadeira miséria que fazem a juventude envilecer, pois já dizia Rousseau, este filósofo do iluminismo que a miséria é a mãe dos grandes crimes e são os soberanos que fazem os miseráveis, e este sistema está criando um país de miseráveis
Demo em seu livro Saber pensar, publicado pela editora Cortez em 2000 esclarece que saber pensar não é apenas pensar, mas saber intervir e a verdadeira miséria está na ignorância e na privação de construir as próprias oportunidades, e esta elite representa por este governo usurpador implora para deixar o povo na mais profunda ignorância, pois esta pequena parcela da sociedade a qual tem um Estado a governar por ela, teme com a igualdade social e sente horror com a palavra isonomia
Nosso Estado, está fazendo voltar a lei da mordaça, aplicando a pedagogia cínica ressaltada por Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela editora Autêntica 2007 que é a pedagogia consciente a qual há uma manipulação, mentira ou passatempo fútil e destruidora da criticidade, pois a mesma se preocupa em com ensinamentos estéreis sem aplicação para a vida do educando.
Nosso sistema educacional está reforçando a segregação da educação, sendo que uma minoria representa a elite e a massa é representada pelas escolas públicas que estão transformando seus educandos em pessoas racistas, homofóbicas e totalmente sem senso crítico.
As ocupações das escolas representam o que a educação deveria exigir de nossos educandos, a prática da liberdade e da justiça social, uma educação que faça os jovens terem discernimento e não se deixarem manipular pela mídia que é o braço forte deste sistema a ceifar nossos jovens e os deixarem ao simples acaso.