27/10/2023

Educação Pública Rompendo a Imposição Estrutural Sistémica da Imobilidade Social

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

Educar implica em mudanças, como advertia Fernando Pessoa em seu poema que faz parte do livro “O Livro do Desassossego” e que dizia “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

E assim tem sido a educação pública, deixado seus alunos as margens de si mesmos, pois faltam-lhes ousadia, vontade de abandonar a roupa velha e sair da zona de conforto, seguindo sempre os caminhos que os levarão para os mesmos lugares que aguardam a frustração e os sonhos não cumpridos.

Aproveitando o personagem Fernando Pessoa, ele mesmo dizia “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, mas entre sonhar e nascer existe aí uma gama de situações que tenderão a matar os sonhos.

Cabe a educação, sendo ela pública ou privada, romper a imposição estrutural sistémica da mobilidade social, isso porque as atuais estruturas sociais, políticas e econômicas limitam ou até mesmo erradicam qualquer mobilidade social que vise o coletivo, isto é, subtrai toda a capacidade da pessoa em se tornar cidadão com capacidade de mudar a atual posição da hierarquia social por meio de melhorias relacionadas as condições de vida e acesso a oportunidades.

O nosso sistema político tem em seus primórdios uma ideia de subjugação, aumentando cada vez mais a dependência de seu povo, nutrindo-se de suas mazelas para que a máquina capitalista funcione, gerando lucros cada vez mais exorbitantes equacionados pela desvalorização do ser humano subtraído de sua dignidade.

Vale ressaltar que esta imposição estrutural sistémica ocorre por meio da desigualdade social, barreiras educacionais, discriminação, acesso limitado a recursos, hereditariedade da pobreza e infraestrutura e localização.

A desigualdade social em nosso país é gritante, pois a renda encontra-se concentrada nas mãos de uma minoria e que impõe barreiras para que a classe social mais baixa não possa buscar a sua ascensão, e quando alguns conseguem um pouco mais de recuso, estes olvidam por completo sua consciência de classe deixando em concomitância o seu coletivo.

As barreias educacionais é a forma mais direta que a imposição estrutural sistémica ataca, pois é sabido que uma sociedade educada é uma sociedade com conhecimento e o conhecimento tem em si o jugo da liberdade, assim sendo, abstrai do sistema educacional publico o teor equitativo com o ensino de melhor qualidade relacionado a educação privada, impondo limites as capacidades dos estudantes em adquirir habilidades necessárias para obter com boa remuneração e poder se projetar na carreira.

Vale lembrar que o Brasil é um país que tem muita discriminação, seja com base em raça, gênero, orientação sexual, idade, com o pobre e muitas outras que incapacitam que um indivíduo talentoso e capaz realize o seu sonho.

Interessante perceber também que esta imposição estrutural sistémica ocorre também limitando o acesso aos recursos, pois quando um indivíduo não tem acesso a recursos essenciais como saúde, moradia, segurança, oportunidade de emprego, sua capacidade de se tornar um agente protagônico cognoscente é simplesmente abstraída de sua essência, deixando-o docilizado e subalterno.

A hereditariedade da pobreza é algo que perdura desde o Brasil colônia, ou seja, filho de pobre tem que continuar pobre e isso implica em uma criação de casta, em um apartheid, isto é, para muitos é inadmissível e como foi em política anterior, um filho de pedreiro poder fazer medicina ou até mesmo fazer uma viagem internacional.

Outra característica para que imposição estrutural sistémica aja é por meio da infraestrutura e localização já que a falta de investimento em áreas tanto urbanas quanto rurais desfavorecidas, limita exponencialmente as oportunidades disponíveis para que pessoas vivam nestes lugares.

Superar a imposição estrutural sistémica da imobilidade social requer uma educação de qualidade e uma rebeldia por parte dos professores em não se limitar ao engessamento de seus alunos e tampouco a sua esterilidade cognitiva, pois o discernimento adquirido por um conhecimento questionador será a chave para o seu rompimento e consequentemente para uma sociedade equitativa, justa e mais humana.

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