Educação, Rebeldia e Desobediência Civil
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
É comum ouvirmos as pessoas julgarem os outros de rebeldes por não concordarem com uma situação em geral, e normalmente estes rebeldes são vistos também como esquerdistas que vivem torcendo contra o sistema.
Precisamos perceber que a rebeldia pode ser vista por muitos como falta de educação e desrespeito ao próximo, e neste contexto, a mesma relaciona-se como um ato de rebelar-se, de não conformidade ou uma reação a uma situação qualquer.
É um ato de repúdio a uma situação constrangedora e esmagadora, ou até mesmo contra uma lei injusta, e quanto a isso, temos nas falas de James Farner Jr., citado em meu livro Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019.
A citação do personagem do filme o grande debate fala sobre desobediência civil, e o mesmo faz uso das falas de Santo Agostinho ao afirmar que uma lei injusta não é uma lei para todos.
James Farner Jr. ressalta que ele tem o direito, até mesmo o dever de resistir com a violência ou a desobediência civil e que deve-se orar para que a sua escolha seja a segunda.
Dito isso, pode-se perceber que a desobediência civil é uma forma branda de protestar contra as injustiças e contra um governo que encontra-se afogado na própria arrogância, fomentando assim a intolerância de qualquer natureza, principalmente ideológica.
A rebeldia pode ser vista pelo prisma da ontologia, pois ela nos faz compreender o nosso lugar no mundo, e as vezes este mundo não é justo, e precisamos mudá-lo para que todos tenham a mesma oportunidade.
Foi pela rebeldia não violenta que Lutero lutou pela extinção das indulgências e condenou o luxo desfrutado pelo papa em Roma.
Foi pela desobediência civil e rebeldia não violenta que Gandhi unificou os povos hindus e mulçumanos para conquistarem a independência da Índia sem abrir mão da paz.
Enfim, a rebeldia é uma forma de sair da inércia da subjugação, exploração e injustiça e fazer a diferença.
Dito isso, pode-se perceber que a educação fomenta a rebeldia ou desobediência civil, pois ela nos leva a mudança de atitude e segundo Aranha em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela Moderna em 1996, a mudança implica em ter coragem para enfrentar as formas estagnadas de poder que mantém o status quo, e temos nesta educação, uma forma de fazer tais mudanças acontecerem, entretanto, elas acontecem como um ato de rebeldia, pois o conhecimento tem o poder de nos incomodar com a atual conjuntura.
Para Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983, o processo educativo auxilia o educando a tomar consciência de seus interesses e dispô-lo a lutar em defesa dos mesmos, e isso é cidadania crítica. O autor continua ressaltando que esta mudança faz o educando deixar de ser do homem-objeto para ser homem-sujeito, o que pode ser considerado um ato de rebeldia.
Freire em seu livro Educação e Mudança, publicado pela Paz e Terra em 1979, esclarece que a transformação da realidade é oriunda de uma consciência crítica, o que ocorre a medida em que respondemos aos desafios encontrados na sociedades, temporizando os espaços e fazendo história pela nossa própria atividade criadora.
A não conformidade com a situação atual por meio da educação desenvolve uma consciência crítica que segundo Freire supracitado acima, o indivíduo que desenvolve esta consciência não se satisfaz com as aparências, percebe a mutação da realidade, trabalha com princípios autênticos de causalidade, não se prende a preconceitos, repele posições quietista já que a sua quietute implica na sua inquietude. Este cidadão é indagador, investigador e crítico e nutrindo-se do diálogo.
Quer mais rebeldia que uma pessoa educada? Por isso o sistema não investe na educação, pois sabe que as pessoas não se deixarão ser manipuladas e serão desobedientes civis.