Educando para a Excelente Arte de Tomar Decisões
EDUCANDO PARA A EXCELENTE ARTE DE TOMAR DECISÕES
EDIONE TEIXEIRA DE CARVALHO[1]
INTRODUÇÃO
Uma educação que vai além do exercício de transmitir conteúdos, contribuindo para o processo de formação e transformação dos educandos, afim de que a estes seja possibilitada a autonomia e a competência de tomar decisões eficientes em seu cotidiano, é um grande desafio para a realidade educacional brasileira.
A importância de desenvolver as habilidades do pensar e decidir é reconhecida pelos educadores e pensadores da educação. Todos concordam que o decidir é uma maneira de pensar, de aprender e de investigar o mundo e suas possíveis oportunidades. Todavia, é preciso rever e admitir que a forma como o processo ensino aprendizagem tem sido aplicada, muitas vezes, constitui-se em uma forma de obstruir a mentalidade do educando, privando-o da liberdade do pensar criticamente e de decidir com autonomia e eficiência.
Assim, esta reflexão é pertinente no sentido de provocar uma discussão e refletir sobre a práxis pedagógica vigente no país, buscando alternativas didático-pedagógicas afim de desobstruir e desentravar sentimentos e valores construídos e estabelecidos na visão de mundo destes educandos.
O objetivo deste trabalho é discutir a prática pedagógica como uma forma de contribuição e superação para a busca da excelente arte de tomar decisões.
COMPREENDO O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Esta discussão é fundamentada pelo conhecimento e pela ideia de resiliência no processo educativo brasileiro, ou seja, é preciso compreender a educação a partir das seguintes diretrizes:
PRIMEIRA: É preciso crer que as deficiências do atual sistema educacional brasileiro podem ser superadas, e que os inúmeros problemas que ora são vivenciados por discentes e docentes não são inexoráveis.
A este respeito é interessante viajar pela história e relembrar que em 1.954 alguns artigos escritos por médicos afirmavam que a estrutura física do ser humano não permitiria que o homem corresse uma milha em 4 minutos, que isso era algo impossível pelo fato do corpo humano não resistir a tanto esforço físico. Hoje, segundo Mariette Le Roux (2012), se sabe que o velocista jamaicano Usain Bolt possui o recorde do hectômetro com 9,58 segundos e que o recorde atual de uma milha é de 3 minutos, 43 segundos e 13 centésimos de tempo. Ora, se algo que era considerado genético foi superado, também pode se pensar na superação de algo ideológico e funcional.
É preciso superar a ideia de uma educação conservadora, a qual muitos pais, alunos e até professores entendem que a aprendizagem é mais eficaz quando na escola se aplica a pura transferência das principais informações dos conhecimentos tidos como verdadeiros. Esta atitude atrofia o pensamento e impede o aluno de alcançar a autonomia do pensamento que liberta e que conduz à habilidade de tomar suas próprias decisões.
SEGUNDA: O professor precisa ver sentido naquilo que ensina para que seu aluno consiga perceber sentido naquilo que ele pode aprender (GADOTTI, 2003).
Neste sentido é interessante pensar os conteúdos como fundamentais para dar significância ao processo de formação do aluno, e que este use de seus conhecimentos adquiridos como fundamentos relevantes e decisivos em seu processo de tomada de decisões. Além disso, deve-se pensar também na prática pedagógica como forma emancipatória e significativa para o aluno. Entender que ensinar não é informar ou simplesmente repassar conteúdos.
Desta forma, se reporta às ideias de Paulo Freire que dizia que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 2010, p.47). A prática pedagógica deve deixar espaço para o aluno construir seu próprio conhecimento, sem se preocupar em repassar conceitos prontos, o que frequentemente ocorre na prática tradicional. Além disso, é preciso provocar o aluno. Freire afirma ainda que “sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino” (p. 85).
TERCEIRA: É fundamental compreender a motivação como via necessária para se chegar à excelente arte de tomar decisões eficazes e propositivas. Neste contexto a resiliência é fundamental para se alcançar este grau de motivação, visto que no Brasil a educação não é prioridade na escala política nacional. Assim sendo, o compromisso e a atitude do professor são fundamentais e extremamente decisivos para os êxitos a serem alcançados.
Deve se compreender, nesta perspectiva, que o papel de educador é extremamente fundamental no processo formativo do aluno, pois o professor, na maioria das vezes, se torna um espelho, um exemplo a ser seguido. Assim, certamente o relacionamento entre alunos e professores contribui para um bem-estar dentro da sala de aula e "o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder aos outros" (Freire, 2010, p.59).
CONCLUSÃO
A partir destas diretrizes, se entende que tomar decisões nem sempre é fácil. Haverá sempre aqueles momentos em que essa tomada de decisão poderá ser definitiva e marcante, tanto positiva como negativamente na vida do aluno, e até mesmo do professor. Portanto, é neste sentido que a educação precisa rever sua postura e seu papel. A busca do pensamento crítico e autônomo, e da emancipação pessoal do aluno perpassa pela escola. Portanto esta é fundamental para contribuir para essa formação que emancipa e direciona a cominhos de êxitos ou fracassos.
Educar deve ser muito mais que “dar aulas”. É preciso compreender que o papel do professor é como o do semeador, neste caso as sementes seriam sonhos e ideias. Semear a possibilidade de reescrever uma história já definida pelas dificuldades e entraves, por uma história de possibilidades e superação. O educador deve provocar e desenterrar sonhos em seus alunos, assim eles estarão aptos a tomarem decisões, mesmo em contextos de dificuldades e impossibilidades visíveis, porém transponíveis. É interessante que tanto o professor quanto o aluno entendam que é possível semear a semente em solo árido, mas com as devidas preocupações e intervenções, este solo produzir em abundância.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 41 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
GADOTTI, Moacir. A boniteza de um sonho: aprender e ensinar com sentido. Novo Hamburgo: Feevale, 2003. 80p.
LE ROUX, Mariette. Cientistas questionam se os recordes esportivos já atingiram os limites humanos. Disponível em: http://br.esporteinterativo.yahoo.com/noticias/cientistas-questionam-se-recordes-esportivos-atingiram-limite-humano-135547249--spt.html. Acessado em 13/04/2012.
[1] Professora do INSTITUTO FEDERAL DE MATO GROSSO – Dra. em Ciências Pedagógicas pela Universidad Central Marta Abreu Las Villas – Cuba.