ENADE, uma Caixa de Pandora
É da mitologia grega que Zeus, o deus dos deuses, ficou muito bravo em certo momento, por contrariedades, que mandou Hefesto e Atena, auxiliados por todos os deuses, criarem a bela mulher Pandora ( a que tudo dá e a que tudo tira ), casada com o titã Epimeteu, que em certa ocasião ganhou de Zeus um jarro/ânfora de presente cujo conteúdo se ignorava. O marido recomendou à mulher que nunca abrisse a tampa mas a curiosidade feminina desobedeceu a ordem. Mal sabia ela que dentro do recipiente estavam todos os males que afligiriam a humanidade. Aberta, lá se foram.
É o ENADE de hoje com única diferença: de continuamente, ano após ano, espargir só mal-feitos contra as IES, os alunos submetidos à prova e por extensão à toda a sociedade.
É inexplicável que as autoridades educacionais, debaixo de tantos apelos e reivindicações do setor, absolutamente justificadas, se coloquem com ouvidos de mercador, seja para adaptá-lo com eficácia, substituí-lo com utilidades ou até mesmo extingui-lo. O que seria de mais bom senso em razão da pouca ou nenhuma serventia, pelos dados irrelevantes que oferece à comunidade. Afora o desastre na interpretação de seus resultados sempre atingindo em cheio as escolas, injustamente porque os vieses da irresponsabilidade, da chacota, do descompromisso acentuam a distância entre o sério e a brincadeira. É diversão para INEP nenhum botar defeito tirando proveito para achincalhar instituições que não merecem tal tratamento. Suprima-se a obrigatoriedade de comparecimento ao exame e veremos no que dá.
Sem extremismos e a bem da verdade, há sim discussões, exposições, troca de correspondências e tudo mais que expressam boa comunicação. Há interlocução com as autoridades mas nenhuma receptividade, mesmo que sob apresentação de fatos incontestes da pouca ou nenhuma validade do Exame. O setor prega no deserto, ou melhor, ficam latindo dia e noite mas a caravana passa insensível, gestão após gestão no ministério, todos moucos.
A aplicação do processo no ENADE é muito cruel e perversa porque faz as IES como reféns, deixando-as entre a cruz e a espada, dada a impotência estabelecida nas mantenedoras que devem engolir goela abaixo o resultado tirânico dos números que confluem para a avaliação dos CPC e IGC.
Se não há utilidade direta no resultado do exame, por via de condução da nota/conceito ao histórico do aluno e até mesmo no diploma, que comprometimento tem o aluno-ator no palco da responsabilidade ? É indução à corrupção na peça.
É despesa sem qualquer sentido numa relação custo x benefício. gerando controvérsias quanto aos conteúdos pois não espelham realidade frente às diretrizes curriculares. Estas já tão desatualizadas. Algumas com dez velinhas sopradas sobre o bolo.
Se é para fazer uso do questionário proposto no início da prova, de caráter pessoal aos estudantes, as próprias IES podem perfeitamente aplicá-lo sem custo, bastando o MEC imprimi-lo e oferecer para as escolas.
Prof. Roney Signorini - Assessor e Consultor Educacional - roney.signorini@superig.com.br