27/04/2016

Escola em Tempo Integral: Inversão de Valores

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

            No meu livro Escola não é Depósito de Crianças publicado pela Editora WAK no ano de 2012 trabalho conceitos de família e escola além de outros que para este texto não apresentam a mesma relevância que os dois primeiros. O fato aqui é percebermos que está ocorrendo uma inversão de valores, pois tem sido deixado para a escola a função de educar os infantes, ato que deveria ocorrer primeiramente no seio familiar, visto que será no seu leito que ocorrerá o primeiro processo de socialização, construção de caráter e educação não formal, o que implica em dizer que educação realmente vem de casa.

            Será nela que a criança encontrará o amparo e a formação moral, intelectual e de caráter, encontrará a afetividade e as bases para uma formação de caráter, independente o tipo da família, seja ela nuclear, extensa ou composta.

            Na família se encontrará afeto, aceitação pessoal, satisfação e sentimento de utilidade, estabilidade socialização, autoridade e sentimento do que é correto, mas essas atribuições que devem ser encontradas na família foram deixadas as margens e a mesma se omitiu, empurrando para a escola não apenas o processo de ensino/aprendizagem, mas o da educação que deveria ser oferecido pelos familiares, com isso, o educando não vê a autoridade nos educadores, e passam a ver apenas um estranho a se meter no seu modo de viver anarquicamente.

            Estes problemas tem sido agravados com os ideais deturpados do que deveria ser uma escola em tempo integral.

            A escola em tempo integral deveria contemplar todo o meio social, emocional, psicológico, físico, afetivo e cognitivo de nossos educandos, mas ela não tem passado de um espaço ao qual as crianças ficam a esmo trabalhando uma esterilização nessas crianças e consequentemente, aumentando exponencialmente a massa de manobra.

            A idéia de escola em tempo integral virou uma creche coletiva, ou seja, um espaço para as crianças ficarem o dia todo para algumas mães poderem ficar na sua ociosidade, e deixarem por conta do Estado, a educação que deveria ser de sua responsabilidade.

            É comum ouvirmos pais comentando “não sei mais o que fazer com meu filho”, “não me liguem para reclamar, se virem” dentre outras falas que ressaltam a omissão de quem deveria primeiramente educar, assim como é comum também vermos pseudo-educadores camuflarem os problemas não levando para outras instâncias para uma possível solução ou cobrança da parte de quem deveria tomar atitude, visto que estes pseudo-educadores encontrar-se-iam amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no artigo 4º que diz ser “a responsabilidade em cuidar e educar os filhos é da família”.

            Dando continuidade ao ECA, deflui-se no Artigo 129, Inciso V que “os pais, além da matrícula, têm o dever de acompanhar a frequência e o aproveitamento escolar do filho [...] garantir a permanência, bem como no de observar e participar da evolução escolar da criança ou adolescente, avaliando seus progressos individuais e estimulando-os para que o estudo seja-lhes rendoso”, todavia, poucos pais ou responsáveis preocupam-se com isso.

            E o que era para ser uma escola em tempo integral passa a ser uma creche comunitária de caráter assistencialista, ou seja, deixando de lado as funções da escola em tempo integral que é o desenvolvimento da criança como ser integral, contemplando o desenvolvimento cognitivo, emocional, psicológico, físico, afetivo e todo o seu meio social.

            Seja Escola em Tempo Integra ou Creche Coletiva, cabe perceber que ambas não deve eximir nunca a família de suas funções e obrigações, pois uma escola nunca suprirá uma carência deixada pela ausência de uma família.

            Fazendo uma analogia de nossa educação pública em cacos no chão, hoje construímos castelos de areia em beira de praia com mar de ressaca.

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