Escola Pau-de-Arara
Toda nação, sociedade, família e pessoas é constantemente chamada a fazer opções. Assim tudo o que temos e o que somos é fruto da decisão tomada num determinado momento por alguém ou grupo. Assim houve países que optaram por ser campeões em ciência, outros em tecnologia, outros em cultura, outros em infra-estrutura, outros em futebol. Conforme a opção planejou-se a inserção do Estado na dinâmica da referida sociedade, das famílias e da vida das pessoas. Os que optaram pela ciência, tecnologia e cultura, construíram escolas, formaram bons professores, apostaram em cérebros. Os que optaram pelo futebol construíram monumentais estádios e tornaram-se exportadores de jogadores de futebol.
O Brasil optou por este caminho! Não que o futebol deva ser culpado por isso, ao contrário, trata-se de um esporte capaz de promover saúde, gerar riqueza e acessível a todos. Os que optaram pela ciência, tecnologia e cultura também possuem grandes estádios e excelentes jogadores. A diferença é que o futebol surgiu como consequência. Países arrasados por guerras e grandes catástrofes, em poucas décadas tornaram-se exportadores de tecnologias e conhecimentos. O Brasil tornou-se exportador de minério e soja e um grande importador de chips,
Um dos motivos disto é que ainda vivemos num país em que apresentamos às nossas crianças, uma “Escola Pau-de-Arara”. Esta expressão é do professor Cristovam Buarque, citada no seminário “Caminhos para a inovação 2013: a ciência no futuro da saúde e dos esportes”. A escola pública brasileira em nível básico, salvo algumas exceções, é um espaço de improvisos, de sobras e experimentos teóricos e políticos inconseqüentes. Assim como o caminhão pau-de-arara, é desconfortável, superlotada, pouco segura e dirigida com pouca habilidade e preocupação em relação aos seus ocupantes.
Feita esta constatação, que não constitui numa grande novidade, caminhemos para a solução, para que deixemos de ser apenas o país do futebol, mas também da ciência, da tecnologia, da cultura e da infra-estrutura. Também não constitui novidade dizer que este caminho passa (ou se inicia) por uma educação de base semelhante a uma moderna composição metroviária, com estações confortáveis, vagões seguros, com horários precisos, itinerários bem planejados e manutenção diária.
Mas que escola é essa? Que soluções é possível apresentar? Não são necessariamente novidades do ponto de vista teórico, mas algo ainda quase inatingível à nossa realidade. A primeira delas, como grande fundamento é a gestão profissional e democrática. O gestor de escola necessita ser qualificado técnica e eticamente para ser capaz de otimizar recursos, tempo e mentes. O aspecto democrático funde-se com profissional quando o gestor fundamenta sua ação em ouvir sua comunidade local e atentar para a evolução histórica vivida pelo mundo contemporâneo
Outro aspecto é a oferta de salários melhores aos profissionais da educação, para atrair os melhores cérebros para o magistério. Poucos são os jovens que desejam efetivamente ser educadores. A exemplo do aspecto da gestão, o salarial, depende de uma opção política. Uma opção pelo futuro, pelas próximas gerações e não apenas pelas próximas eleições. Aliado a isso há também um aspecto pessoal do ser humano que deseja ser educador: gostar de gente. Não há como pensar numa escola acolhedora, segura e atraente dirigida e constituída por gestores e educadores que não apreciem a beleza de ser gente.
Por fim, porém não menos importante, há os aspectos estrutural e metodológico. Não há como atender seres humanos em espaços improvisados e financiados por sobras. Tecnologias são instrumentos auxiliares fundamentais para que seja possível fomentar o pensar no contexto escolar.
O pensar é fundamento para que o ciclo evolutivo da tecnologia, da ciência e da cultura seja uma dinâmica constante. Para isso apontamos uma solução totalmente brasileira: uma educação dialética e problematizadora, fundada no pensamento de Paulo Freire. Uma nova pedagogia, onde crianças e jovens, que são essencialmente curiosos, sejam estimulados a ampliar sua curiosidade. Que aprendam a duvidar sempre, perguntar sobre tudo, transcender conceitos.
2014 pode ser o ano em que finalmente poderemos abandonar o “Pau-de-Arara”, afinal sabemos que há uma condução mais confortável e possível. A opção e a oportunidade de escolha são nossas. O primeiro passo pode ser dado nas ruas, o da indignação. O segundo nas urnas: o da ética.
Autor: Nilton Bruno Tomelin