26/02/2019

Escola sem Partido

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Todos que trabalham com a educação sabem que a mesma é uma ação transformadora, por isso não tem como desvencilhá-la da política, pois todo ato de educar é um ato político, entretanto, pode-se politizar sem que a escola seja tendenciosa, isto é, trabalhar educação sem ir para o viés político.

            Assim deve ser uma escola sem doutrinação ideológica e sem partido e foi uma das bandeiras levantadas pelo atual governo, inclusive com pedidos dele e de parlamentares que o apoiaram. Estes pediram aos alunos para que filmassem aulas dos professores e denunciassem caso houvesse algo ligado a doutrinação ideológica.

            Chega a ser compreensível tal estultice, pois como digo em meus textos, faz parte do repertório político tais imbecilidades, entretanto, pedir para que os diretores filmem os alunos cantando o hino nacional e o lema eleitoral de Bolsonaro nas escolas, isso ultrapassa qualquer sandice.

            O ministro Ricardo Vélez Rodriguez ainda faz um o apelo ao povo ao sugerir: "Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!"[1].

            Chega a ser cômico apesar de ser trágico, pois o Brasil dos novos tempos que sacrifica seu povo com uma aposentadoria que chega a ser chamada em época de campanha como falta de humanidade, e que hoje quer impor esta barbárie.

            Um Brasil novo que massacra o povo com ideias de que o mesmo deverá contribuir durante 40 anos com a previdência e obrigar o simples brasileiro a se aposentar aos 62 anos se mulher e 65 anos se for homem, sem poderem sonhar com uma aposentadoria integral, sendo que o próprio presidente se aposentou com 33 anos.

            Temos realmente que fazer cortes, mas este atual governo está sendo apenas um catador de feijão. Conforme com o texto A Educação e os Catadores de Feijão, publicado pela Revista Gestão Universitária em agosto de 2015[2], este termo catadores de feijão é usado para pessoas exercendo um posto de comando, tomam atitudes sem pensar nas consequências, sem pensar no bem estar das pessoas, ignorando sua própria boçalidade e por pura nesciosidade e falta de knowrhow, têm atitudes que ultrapassam a ridicularidade, e este mesmo governo e seus comparsas, acreditam e tentam convencer os demais que suas ações são realmente importantes para a coletividade.

            O ministro pede para saudar o Brasil dos novos tempos, que tempos são estes? Tempos em que poucos brasileiros conseguirão gozar de sua aposentadoria e com dignidade? Tempos estes em que viúvas e filhas de militares continuam recebendo expressivos salários oriundos de pensões? É sabido de casos em que mulheres, filhas de militares não se casam para não perderem este privilégio oferecido pelo governo e o mesmo quer impor esta reforma da previdência que a pensão do falecido trabalhador não poderá passar de 60% de seu  salário e 10% por dependentes, o que vale aqui lembrar que mais de 70% dos trabalhadores aposentados ganham salário mínimo.

            Novos tempos estes que os parlamentares continuam usufruindo de auxílio moradia, auxílio paletó, auxílio saúde extensivo a todos os familiares, viagens pagas com dinheiro público, dentre outras formas que os parlamentarem encontram de usurpar a nação.

            Os novos tempos também contam com os benefícios do judiciário que são outros absurdos, ou seja, mexendo na aposentadoria do povo, realmente o Brasil terá o novo rumo, o novo rumo para o aumento das diferenças sociais e o abismo para a miséria de toda uma nação.

            O ministro como se não bastasse, vai além e justifica nesta insana carta que tudo isso é para uma educação responsável e de qualidade.

            Caro ministro, a educação somente será de qualidade quando os professores forem realmente valorizados, quando o governo e parlamentares perceberem que não existem gastos na educação e sim investimento.

            Quando perceberem que a educação de qualidade só será alcançada quando fugirmos a esta domesticação que o ministro está impondo nas escolas.

            Quando realmente conseguirmos fazer nossos alunos pensarem e perceberem o quão manipulados estão sendo.

            Com esta fala do ministro, dá para perceber que o discurso de escola sem partido nunca existiu, pois de acordo com Carlos Eduardo Gomes Callado Moraes, especialista em direito administrativo e professor da EPD (Escola Paulista de Direito), o uso do slogan de campanha na carta pode ser considerado um ato de improbidade administrativa, ou seja, incompetência de gestão e falta de conhecimento.

            Para o professor, o "Segundo o artigo 37 da Constituição Federal, a administração pública deve obedecer ao princípio da impessoalidade, ou seja, não pode atender a interesses pessoais. O parágrafo 1º do mesmo artigo diz ainda que a divulgação de atos de governo deve ter "caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos".

            Sendo assim, não queremos este novo rumo que o ministro sugere. Queremos apenas um país mais humano e que este governo dê ao povo o que ele tanto espera, uma reforma política, extinguindo a máquina corruptora e dando orgulho ao povo e prazer em ser cidadão de em um país que poderá um dia, sonhar em ser novamente uma nação.

 

[1] Para mais informações vide https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/02/25/mec-manda-e-mail-a-escolas-pedindo-que-filmem-criancas-ao-cantar-hino.htm?cmpid=copiaecola

[2] Para mais informações vide http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/a-educacao-e-os-catadores-de-feijao

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