10/01/2017

Escolas e Presídios

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Toda educação é um ato político e deve também sanar problemas sociais, fazendo com que os educandos não fiquem em áreas de risco social e assim, entrem para vida de crime a convite de pessoas de má índole, pois, caso aconteça, elas terão discernimento para saber o que é certo e errado, além das consequências de tal ato.

            A sociedade cobra o que o Estado não oferece, isso é uma fala relevante quando se vê o dinheiro voltado para educação pública como gastos e não como investimentos, por isso, já era dito por Darcy Ribeiro que "se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios" e essa passa a ser uma verdade inquestionável e tivemos como exemplo o massacre em Carandiru e agora este em Manaus.

            Foram 60 mortos acusados de tráfico, formação de quadrilha, roubo, homicídio, estupro dentre outros crimes cometidos com pessoas de bem e que hoje, guardam este trauma como uma tatuagem na alma.

            Não é intuito aqui fazer julgamento de juízo, mas apenas relatar que enquanto a educação estiver sendo um fator secundário, infelizmente teremos mais chacinas, seja por facções criminosas ou não. O fato é que muitas famílias estão perdendo seus entes para a bandidagem, que se trata de uma guerra sem heróis, apenas vítimas com o agravante que não se sabe quem é o vilão ou quem é a vítima, pois, além dos bandidos conhecidos pelos vitimados, tem-se os bandidos advogados, delegados, juízes e promotores, a aliviarem o sistema penal para certas pessoas, oferecendo privilégios ou até mesmo "vista grossa".

            Seria interessante se os presos trabalhassem para pagarem as despesas das cadeias públicas e presídios, e o dinheiro fornecido pelo Estado, seria direcionado para atividades educacionais no próprio presídio e também para escolas que fazem parte da cidade a qual estão inseridos tais instituições de correção.

            Estes presos seriam produtivos para a sociedade além de conseguir converter este dinheiro para as famílias das vítimas, ou para sanar o rombo da Previdência Social, visto que o auxílio é pago por contribuintes do INSS.

            Uma forma de selecionar presos que poderiam trabalhar, seria a mesma escolha dos que recebem auxílio reclusão, o que está ligado apenas aos presos que contribuíam com a Previdência Social antes de serem presos.

            O problema é que os presídios e cadeias públicas hoje são vistas como estopim, isto é, prontas para explodir devido à superpopulação de 88% das celas acima de sua capacidade, sem água o suficiente para beber, com taxa de roubos de objetos particulares similares a de uma população não carcerária, isto implica em dizer que não há correção social nos detentos, reforçando a pesquisa de que quase 80% dos presos voltam a cometer crimes quando são soltos[1].

            Apesar de uma divergência quanto aos números acima, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esclarece que 24,4% voltam a cometer crime, mas esta discrepância entre valores ocorre por levarem em conta "a quantidade de apenados que voltaram aos presídios ou ao sistema de Justiça criminal independentemente de condenação (caso dos presos provisórios)"[2].

            Quando se afirma que a educação é a solução para redução da população carcerária, vê o embasamento nesta mesma pesquisa do Ipea, pois a instituição esclarece que o perfil do reincidente é  98,5% do  sexo masculino e com baixa escolaridade.

            É importante salientar com as falas de Gadotti no seu livro História das ideias pedagógicas, publicado pela Editora Ática em 2004, que a educação "tem um papel importante no próprio processo de humanização do homem e de transformação social, embora não preconize que, sozinha, a educação possa transformar a sociedade".

            Por isso é relevante nunca perdermos as esperanças, pois para cada esperança perdida será uma vida jogada em uma instituição de correção a engordar os números das chacinas.

 


[1]  Para mais informações vide Quase 80% dos presos voltam a cometer crimes quando são soltos

 

[2]  Para mais informações, vide http://jota.info/justica/pesquisa-do-ipea-mostra-que-um-quarto-dos-presos-volta-a-cometer-crimes-15072015

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×