Espelho Quebrado
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br
Reza a lenda que a verdade é um espelho deixado cair do céu por Deus, mas este espelho se quebrou em vários pedaços e nós simples mortais, recolhemos apenas um pedaço aqui, outro ali e temos este pequeno fragmento como a nossa única verdade.
Observe que é uma verdade fragmentada, ou seja, é uma falsa verdade, pois a mesma não tem uma visão holística, reforçando o ditado popular que diz "o todo sem a parte não é o todo, é a parte. E a parte sem o todo não é a parte, é o todo", e isso implica em dizer que não temos verdade alguma em nossas mãos.
O que temos são fragmentos e interpretações errôneas baseadas em falácias manipuladas por oportunistas. São inverdades dos líderes religiosos que pregam ser a sua religião a mais correta e salvadora da humanidade, temos as mesmas inverdades na política que hoje critica um fato ou personagem, mas no dia seguinte fazem coalizões para tirar vantagem sobre o povo simples e ignorante.
Temos falsas verdades sexistas quando acreditamos que homens são superiores a mulheres, assim como a superioridade em certo tipo de raça. Somos fragmentados no todo e ao mesmo tempo suscetíveis a manipulações com inverdades.
Nietzsche já dizia que "não há fatos eternos, como não há verdades absolutas". Tudo que exige interpretação do homem está fadado a falhas de toda natureza, inclusive de caráter, pois uma pessoa sem caráter pode interpretar uma escritura de forma que lhe convir para manipular cada vez mais a massa de seguidores e fieis, fieis porque fazem tudo que ele disser ser correto, e estes não fazem uso de sua razão.
Não adentrarei no viés político e tampouco no religioso, embora seja tentador dissertar sobre tais assuntos, e se assim o fizesse, usaria da minha verdade que é tão frágil quanto a de todos leitores, e não é intuito impor verdades, pois a verdade não pode ser imposta, tem que ser descoberta e sentida sem a máscara do narcisismo, do orgulho e arrogância.
A verdade se conquista com o coração e também o conhecimento. Tal afirmação é reforçada por Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela editora EPU em 1983. O autor aduz que nós educadores precisamos despertar aquilo que a alma do educando já possui, e isso se dará através da maiêutica que é o momento do parto intelectual.
A maiêutica é um processo em que o educador leva o educando a plena consciência de possuir um determinado conhecimento através do questionamento cognoscente, e uma das formas de se chegar a este questionamento é perpassando pela educação, mas uma educação protagonista e não estéril e/ou alienante como tem ocorrido no ensino público, pois enquanto a educação pública estiver do jeito que está, teremos várias verdades e muitas intolerâncias religiosas, políticas, racistas, sexistas, etc.
A educação deve trabalhar com uma verdade escudada na razão e em um nível de crítica avaliativa e não na opinião fundada em uma ilusão e no erro de interpretação.
Lembre-se, se analisarmos nossa história veremos que muitas pessoas morreram ou mataram simplesmente por seguirem essas falsas verdades, assim como sucedeu na Guerra Santa e o Holocausto.
Com o tempo percebe-se que as verdades mudam e que até um relógio parado está certo duas vezes ao dia.