01/08/2016

ESPERANÇA.

Dênio Mágno da Cunha*

No calendário do Ensino Superior estamos no momento de início do segundo semestre, ou o início de um novo ano, como queiram. Tempo da expectativa. Novos alunos, veteranos, professores e toda uma estrutura administrativa da IES (Instituição de Ensino Superior) se movimentam intensamente para obter e oferecer conhecimento. É similar àquele momento em que um ator se prepara para entrar no palco: tudo muito bem ensaiado, treinado e chega a hora do “vamo vê”; ou como agora vivem os atletas e as equipes que participarão das Olimpíadas.

Há uma história famosa e folclórica no futebol brasileiro que também se assemelha a este momento:

“Reza a lenda que na copa de 58, o técnico Feola bolou um esquema infalível contra a seleção soviética. Nilton Santos lançaria a bola pela esquerda para Garrincha, que driblaria 3 russos e cruzaria para Mazzola marcar de cabeça. Garrincha ouviu o professor atentamente: "tá legal, seu Feola, mas o senhor combinou com os russos?".[1]

Ao contrário da história, aqui no nosso texto Feola deveria dizer: antes do pontapé inicial vamos combinar com todo mundo. Pois então, chegou então a hora de combinar com os Russos. E, aqui entre nós, há uma série de combinações a serem feitas.

Falando exclusivamente da sala de estudo, minha amiga Fernanda Wasner, quando Coordenadora de Cursos, distribuía entre seus professores e combinava com eles que a primeira ação nas salas de estudos seria fazer os “combinados”. Esses combinados, além do debate sobre comportamentos favoráveis e/ou prejudiciais ao bom andamento dos momentos de estudo, buscavam também explicitar as expectativas de professores e alunos quanto aos resultados a serem alcançados. A intenção era já iniciar formando o “time”. Time que caminharia junto durante o semestre em busca do tão almejado conhecimento. Admirava o trabalho dela ao aglutinar alunos e professores sob um mesmo objetivo. Ela conseguia.

Consultores e professores de cursos, não universitários, da área de Recursos Humanos, me ensinaram a fazer o “contrato psicológico”. Contrato que, similar aos combinados, tinha como objetivo alinhar expectativas e acertar aquilo que será válido/aceitado pelo grupo e o que seria inválido/não aceitável pelo grupo. Nessa época, invariavelmente, conversas paralelas era inaceitável, por exemplo, em todos os treinamentos dos quais participei.

Mas acima destas questões que considero sob certa ótica, operacionais – mesmo que comportamentais – acredito em outros combinados necessários.

  1. Estamos todos no Ensino Superior: conteúdo superior, metodologia superior, dedicação superior, atenção superior, espírito superior; professores superiores, alunos superiores. Nada que se compare ao ensino médio ou fundamental. Se houver semelhanças, devem ser afastadas.
  2. Ensino Superior exige resultado Superior: Nada menos que o melhor é esperado; chegar ao final do semestre mendigando “ponto para passar”, fora de cogitação.
  3. Estamos dividindo um espaço público e não privado: respeito às individualidades e ao direito de “não saber” ou “de querer saber”; qualquer comportamento que prejudique o direito à aprendizagem deve ser banido.
  4. Esse espaço não é por acaso denominado sala de estudos: implantação da filosofia da “atenção plena” e do respeito ao objetivo principal pelo qual deverão estar todos mobilizados.
  5. Aqui é um momento fundamental para a construção do futuro: concentração no presente, vislumbrando um futuro melhor. Sem esforço e trabalho não se constrói o futuro.

Depois de escrever esses cinco “combinados” me perguntei se não estou parecendo um disciplinador e querendo moldar ao invés de combinar. Felizmente cheguei à conclusão que não. Não há nada aqui que se pareça com regras de quartel. Por trás desta discussão está a experiência de ver o quanto que estes aspectos são desrespeitados ou não compreendidos e o quanto esta incompreensão ocasiona de sofrimento para alunos e professores.

Ao final, tal qual Feola, fica a pergunta: Se combinarmos, teremos a garantia do resultado? Claro que não. Lembram-se do texto anterior a este quando falamos do livre arbítrio? Pois é. - http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/prazer. Professores e alunos podem não querer, podem não ter o prazer, podem não ter vontade, sem os quais nada se realiza. Fica parecendo com aquela expressão popular: “de boas intenções o inferno está cheio”.

Portanto, muita calma nessa hora para que os combinados sejam resultado de um acordo bem construído entre alunos e professores na sala de estudo. Desejo a todos muito sucesso pois, de fato e de verdade somos nós (alunos e professores) que construímos e construiremos o futuro sonhado e desejado para o nosso País.

* Professor em Carta Consulta e Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba. Acredita que é possível construir uma equipe de alto desempenho nas salas de estudo.

 


[1] Alguns sites narram essa história com variações, mas a essência é a mesma. A versão publicada aqui veio de http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/05/1771570-faltou-combinar-com-os-russos.shtml

 

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