25/01/2019

Evasão Intelectual

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            A cultura mostra o quanto é evoluída uma sociedade, assim sendo, Rios em seu livro Ética e Competência publicado pela editora Corte em 1983 deixa claro que a educação é um processo de transmissão de cultura e a instituição que tem esta função é a escola.

            Lamentavelmente estas mesmas instituições fomentam o lixo cultural tendo sua vertente na música pobre em melodias e letras, e feitas para um sucesso efêmero chegando a denegrir até mesmo a imagem da mulher como ser humano e palavras de baixo calão que fazem parte do mísero vocabulário destes pseudocompositores e cantores.

            Tomazi esclarece em seu livro Sociologia da Educação que podemos entender cultura como um modo de pensar, sentir e agir e nisso está um contexto histórico, e é justamente pegando este viés que cabe aqui entender que hoje a nossa vil cultura musical se baseia em uma falácia narrativa, oriunda de um analfabetismo funcional.

            Esta falácia narrativa segundo Taleb em seu livro A Lógica do Cisne Negro: o impacto do altamente improvável, publicado pela Best Seller em 2008, aborda a nossa capacidade limitada de olhar para sequência de fatos sem entendimentos ou explicações sobre os mesmos e isso nos leva a uma evasão intelectual que é difícil de ser revertida, assim sendo, já estamos colhendo os pútridos frutos oriundos desta evasão.

            Tivemos vários estilos musicais, vários deles ricos em melodia e com letras inteligentes e que explicitam o amor.

            Nossos avós, pais e até nós mesmos tivemos oportunidades de ouvir Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Cartola, Jamelão, Elizeth Cardoso, Agnaldo Timóteo, Angela Maria, Clara Nunes, Agnaldo Rayol, Ataulfo Alves, Demônios da Garoa, as românticas e ricas letras do Rei Roberto Carlos, o movimento tropicália com sua forma de protestos e críticas burlando a censura do AI5, os rocks brasileiros que falavam do amor e dos problemas sociais e/ou políticos  como Legião Urbana, Cazuza entre outros, assim também tivemos a Bossa Nova que encantou com o nosso Tom e Cia.

            Enfim, tivemos épocas douradas para a boa música e bons músicos. Somos e/ou fomos realmente uma geração privilegiada, porém, cabe aqui uma pergunta: o que a geração atual tem ouvido? Seria apenas um preconceito musical da minha parte ou realmente  pouco se aproveita das músicas e estilos musicais de hoje?

            Será que este lixo musical que impera em nossos jovens não é uma conseqüência de uma educação falida? Isso me faz pensar também que se eles lessem uma letra de uma destas músicas mencionadas acima, eles teriam o entendimento delas, já que esta juventude é formada na sua maioria por analfabetos funcionais?

            Isso nos faz pensar também em outras questões como: o que as escolas poderiam fazer para trabalhar isso nos alunos? Porque não usar música para auxiliar uma educação de qualidade, já que segundo Burke e Ornstein ressaltam no livro O Presente do Fazedor de Machados – Os dois gumes da história da cultura humana, publicado pela Bertrand Brasil em 1998, a educação antigamente era oral e se concentrava na música.

            Assim sendo, que nós professores consigamos usar também a boa música como forma de ensinar e porque não, educar, já que a educação vem da família que encontra-se tão ausente em nossa contemporaneidade, mas isso é tema para outro texto.

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