27/07/2016

EXERCÍCIO FÍSICO NA RECUPERAÇÃO DE UM PACIENTE IDOSO PÓS ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: UM ESTUDO DE CASO

EXERCÍCIO FÍSICO NA RECUPERAÇÃO DE UM PACIENTE IDOSO PÓS ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: UM ESTUDO DE CASO

Physical exercise in recovery of an elderly patient after stroke: a case study

 

Alencar Dill[1]; Maria Denise Justo Panda[2]; Marilia de Rosso Krug.[3]

Resumo

Esse estudo surgiu do interesse em analisar a importância de um programa de exercícios físico na recuperação de um paciente idoso pós acidente vascular cerebral. Participou desse estudo de caso, uma paciente do sexo feminino, com 60 anos de idade, residente em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, com diagnóstico prévio de acidente vascular cerebral (AVC). As variáveis estudadas foram: o índice de massa corporal (IMC), a relação cintura quadril (RCQ), a pressão arterial (PA) e a frequência cardíaca de repouso (FCrep). O programa de treinamento aplicado teve como estratégia de trabalho duas seções de treinamento semanais em dias alternados, durante três meses, procurando manter e melhorar a saúde, tonificando músculos com exercícios de musculação e ginástica localizada. Analisando os resultados pode se notar que apenas a variável RCQ não apresentou diferenças estatisticamente entre pré e pós teste, permanecendo a paciente na classificação de risco muito alto, para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Assim, foi possível concluir que o exercício físico foi de extrema importância para o paciente em estudo, tendo resultados positivos nas variáveis IMC, PA e FCrec. Portanto sugere-se a inserção de um programa de exercícios físicos sistemáticos como método de recuperação para a melhora física pós a ocorrência de AVC.

Palavras-chave: Acidente vascular Cerebral. Idoso. Exercício físico.

Abstract

This study emerged from interest in analyzing the importance of physical exercise program in the recovery of an elderly patient post stroke. Participated in this case study, one female patient, with 60 years old, resident in a town in the Rio Grande do Sul, with a diagnosis of stroke. The variables studied were: body mass index (BMI), waist hip ratio (WHR), blood pressure (BP) and heart rate at rest (HRres). The applied training program was with working strategy two weekly training sessions every other day for three months, seeking to maintain and improve health, toning muscles with weight training exercises and located gymnastics. Analyzing the results it can be noted that only the variable WHR showed no statistical differences between pre and post testing, remaining patient at very high risk classification, for the development of cardiovascular disease. Thus, it was concluded that the exercise was extremely important for the patient in the study, with positive results in the variables BMI, PA and HRres. Therefore we suggest the inclusion of a systematic program of physical exercise as a recovery method for the physical improvement after the occurrence of stroke.

Key words:Stroke. Elderly. Physical exercise

Introdução

Atualmente vivenciamos mudanças nas características demográficas devido ao maior envelhecimento populacional em resposta à mudança de alguns indicadores de saúde, como a queda de fecundidade e da mortalidade e o aumento da expectativa de vida. Observam-se transformações em relação à morbimortalidade principalmente em relação às doenças crônico-degenerativas (VERAS, 2007, ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE, OMS, 2005), em especial aquelas do sistema cardiovascular, sendo o acidente vascular cerebral (AVC) a principal delas. O AVC é uma patologia com profundas repercussões para a saúde pública, pois, atualmente, é a segunda causa de mortalidade no Brasil e a primeira incapacitante em adultos (CAVALCANTE et al., 2010).

As doenças cerebrovasculares estão em segundo lugar no ranque das doenças que mais acometem vítimas com óbitos no mundo, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares, sendo que pesquisas indicam que esta posição tende a se manter até o ano de 2030 (BRASIL, 2012). O AVC é um déficit temporário ou definitivo, causado pela alteração da circulação sanguínea no cérebro, o que o danifica em uma ou mais partes. O AVC pode ser isquêmico ou hemorrágico (sangramento devido ao rompimento de um vaso sanguíneo), comprometendo a função neurológica, tendo uma prevalência maior em indivíduos geriátricos. A etiologia do AVC mais prevalente é do tipo isquêmico, em que ocorre o fechamento de um vaso sanguíneo, o que interrompe o fluxo de sangue de uma região específica do cérebro, interferindo nas funções neurológicas dependentes da mesma (COSTA, SILVA; ROCHA, 2011; EINSTEIN, 2011).

Os pacientes que sobrevivem a um AVC desenvolvem algum tipo de deficiência, causada diretamente ao cérebro, podendo deixar déficits neurológicos difíceis de serem restaurados. Pelo menos dois terços dos sobreviventes permanecem com algum grau de deficiência e tornam-se dependentes por apresentarem déficit de controle motor envolvendo padrões anormais de movimento; espasticidade; diminuição da velocidade da marcha; alteração do estado cognitivo ou afetivo; disartria e disfasia; distúrbios visuais; lipotímia; cefaléiasúbita, além de hemiplegia ou hemiparesia contralateral como manifestações clássicas da doença, tornando-as inabilitadas para exercer suas atividades básicas da vida diária (SMELTZER, 2002). Esses prejuízos e limitação na realização das atividades, geram impacto direto principalmente entre pessoas idosas, restringindo a participação social e, consequentemente, piorando a sua qualidade de vida diária.

Segundo Baldin (2009) cada área do cérebro coordena determinada função do organismo, as sequelas provocadas pelo AVC são variadas, como por exemplo, o comprometimento das funções motoras, mentais, perceptivas, cognitivas, até a dependência total. No entanto, as sequelas se instalam sempre abruptamente, podendo regredir ou mesmo desaparecer depois de algum tempo. Para isso torna-se de fundamental importância a inserção desses pacientes em um programa regular de exercícios físicos.

Algumas situações que ocorre habitualmente em indivíduos com AVC e que agravam ainda mais o caso é o sedentarismo, onde o paciente volta para casa e permanece inativo fisicamente, fato esse que tem sido uma das principais causas de ter ocorrido o AVC e pode ser talvez a causa de um novo acidente (COSTA; DUARTE, 2002). A relação do AVC com o exercício físico está aliada na melhora da manutenção da sua saúde ou da sua condição orgânica, o que proporciona uma melhora na sua qualidade de vida. Dessa forma, o presente estudo buscou analisar as contribuições de um programa de exercícios físico para uma idosa pós AVC.

Procedimentos Metodológicos

Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa de abordagem quantitativa do tipo estudo de caso. Segundo (MICHEL, 2005), a pesquisa quantitativa é conseguida na busca de resultados exatos evidenciados por meio de variáveis preestabelecidas, em que se verifica e explica a influência sobre as variáveis, mediante análise da frequência de incidências e correlações estatísticas.

Participou deste estudo uma paciente do sexo feminino, com 60 anos de idade, residente em uma cidade do interior do estado do Rio Grande do Sul, com diagnóstico prévio de AVC acompanhado de fatores de risco a saúde tais como: hipertensão arterial sistêmica e sedentarismo. A paciente, após ser informada de todos os procedimentos assinou um termo de consentimento livre e esclarecido para realização e participação no estudo.

As variáveis estudadas foram o índice de massa corporal (IMC), pressão arterial (PA), a frequência cardíaca de repouso (FCrep) e a relação cintura quadril (RCQ). Todas as variáveis foram verificadas antes e após três meses de inserção em um programa de exercícios físicos.

O programa de treinamento aplicado teve como estratégia de trabalho duas seções de treinamento semanais em dias alternados, sempre procurando melhorar a condição física e motora da paciente, com exercícios de musculação e ginástica localizada. Os exercícios físicos foram realizados respeitando as limitações físicas da paciente e seguindo, princípios básicos na execução, a fim de evitar e prevenir lesões com aquecimento e alongamento inicial e final.

Os dados coletados na primeira avaliação do paciente foram refeitos três meses após, o início do programa de avaliação física e da saúde, seguindo fielmente as etapas de análise, e aplicação dos questionários e avaliações. Após os dados foram analisados pela diferença percentual entre pré e pós teste.

Resultados e Discussões

Na tabela 1 encontram-se os dados de pré e pós teste, assim como a diferença percentual (∆%) das variáveis estudadas (IMC, RCQ, PA e FCrep).

Tabela 1- Distribuição do comportamento de pré e pós teste das variáveis, IMC, RCQ, PA e FCrep. da idosa em estudo. Rio Grande do Sul, Brasil, 2016

Variáveis

Pré-Teste

Pós teste

∆%

IMC (Kg/m2)

24

23

-4,16

RCQ

0,95

0,95

0,00

PAS (mmHg)

110

120

9,09

PAD (mmHg)

60

70

16,66

FCrep (Bpm)

75

71

-5,33

Analisando os resultados da tab. 1, pode se notar melhoras apenas para as variáveis IMC e FCrep. A variável RCQ não se modificou e as demais (PAS e PAD) sofreram aumentos. Ao comparar os valores obtidos com os valores de referência observou-se que a RCQ tanto do pré quanto do pós teste apresentou classificação de risco muito alto, para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (OMS, 2005). Segundo, ainda a referida organização um dos critérios para caracterizar a síndrome metabólica, encontram-se com valores de corte de 0,85 para mulheres.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2006) o acumulo de tecido adiposo na região abdominal (visceral) é reconhecido principalmente como fator de risco para doenças cardiovasculares, diabetes, dislipidemias e resistência à insulina caracterizando a síndrome metabólica, ressaltando-se a necessidade de sua utilização como rotina para a história clínica do paciente.

As demais variáveis estudadas (IMC, PA e FCrep) mantiveram-se com seus valores considerados ideais para a idade e sexo. Uma das maiores associações de pesquisa, Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2006), afirma que podem ser obtidos benefícios de saúde significativos, ao incluir uma quantidade moderada de exercícios físico na maioria, ou todos os dias da semana, benefícios de saúde adicionais podem ser obtidos através de maiores quantidades de exercícios físicos. Dessa forma os resultados negativos observados no presente estudo podem estar diretamente relacionados com a frequência com que o programa de exercícios físicos foi realizado, ou seja, somente duas vezes por semana evidenciando a necessidade de maiores sessões semanais.

Conforme Scianni, Samela e Ada (2010) a inserção em um programa de treinamento de força, pode melhorar a capacidade de andar promovendo uma melhor qualidade de vida em indivíduos que sofreram AVC, além de trazer benefícios a saúde e ganho fisiológico, com influência positiva na melhora da independência funcional.

Assim, vale apena destacar que para prevenir doenças cardiovasculares, como o AVC e tratar a reabilitação pós acidente, são necessários desenvolver hábitos saudáveis de vida ativos. Por isso, os serviços destinados à saúde devem ter equipe multidisciplinar para tratar essas patologias, e, também, ajudar na prevenção delas (SILVA et al., 2011).

Conclusão

Com base nos resultados encontrados neste estudo foi possível concluir que um paciente idoso pós AVC, tem resultados positivos na variáveis IMC e FCrep, até mesmo em um curto período de inserção em um programa de exercícios físicos, sendo necessário, entretanto, para a obtenção de melhores resultados, que o paciente participe de mais sessões semanais de exercícios físicos.

            Apesar de ser um desafio para as pessoas que sofreram AVC, o exercício físico é uma ferramenta essencial para a recuperação do mesmo, portanto, são várias as evidencias que comprovam o efeito benéfico que o exercício físico proporciona na recuperação do acidente vascular cerebral identificando a importância que o mesmo possui na melhora de sequelas ocorridas.

Assim sugere-se a inserção de um programa de exercícios físicos sistemáticos como método de recuperação melhorando a condição física a autonomia e a funcionalidade corporal após a ocorrência de AVC, e a necessidade de mais pesquisas com amostras maiores e tempo de tratamento diferenciado, que possibilitem análises e comparações de sua eficácia, efetividade e eficiência para esta população.

Referências

ACSM, Colégio Americano de Medicina do Esporte. Manual ACSM para avaliação da aptidão física relacionada a saúde. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2006.

BALDIN, A. Atividade física e acidente vascular cerebral. São Paulo: Rev. Eletrônica de Jornalismo Científico Com Ciência. p. 01-03, UNICAMP, 2009.

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CAVALCANTE, T. F. MOREIRA, R. P. ARAUJO, T. L. LOPES, M. V. O. Fatores demográficos e indicadores de risco de acidente vascular encefálico: comparação entre moradores do município de Fortaleza e o perfil nacional. Revista Latino. Americana de Enfermagem, v. 6, 2010.

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COSTA, F.A.; SILVA, D.L.A.; ROCHA, V.M. Severidade clínica e funcionalidade de pacientes hemiplégicos pós-AVC agudo atendidos nos serviços públicos de fisioterapia de Natal (RN). Ciênc. saúde coletiva, v. 16, suppl, p. 1341-1348, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232011000700068&lng=pt>. Acesso em: 12 maio 2016.

EINSTEIN, S.B.I.B. Tudo sobre AVC. 2011. Disponível em: <http://www.einstein.br/Hospital/neurologia/tudo-sobre-avc/Paginas/tudo-sobre-avc.aspx>. Acesso em: 12 maio 2016.

MICHEL, MARIA HELENA. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais: um guia prático para acompanhamento da disciplina e elaboração de trabalhos monográficos. São Paulo: Atlas, 2005.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção de doenças crônicas um investimento vital. Brasília, 2005.

SCIANNIS A.;SALMELAL.F.;ADAL Efeito do exercício de fortalecimento, além de trainig marcha Task -Specific ofter Curso: A randomisedtrial Intrnational Jornal de Stroke. v. 5, p. 329-335, 2010.

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SMELTZER, S.C.; BARE, B.G.; BRUNNER & SUDDARTH (2002). Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. (9ª ed.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

VERAS, R.P. Fórum: Envelhecimento populacional e informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2007.

 


[1]Acadêmico do Curso de Educação Física Bacharelado do Centro de Ciências da Saúde a Agrárias da Universidade de Cruz Alta – CCSA/UNICRUZ -alencardill@hotmail.com

[2]Prof. Drª do curso de Educção Física do CCSA/UNICRUZ - dpanda@unicruz.edu.br

[3]Prof. Drª do curso de Educação Física do CCSA/UNICRUZ – mkrig@unicruz.edu.br

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